O “Sino da (Espera)nça” que faz Telma de 15 anos sonhar é inaugurado hoje no IPO do Porto

15 de Fevereiro 2024

 Internada no Instituto Português de Oncologia (IPO) do Porto desde setembro, Telma é um dos rostos da “(Espera)nça”, o nome dado ao sino que, nesta instituição, soará sempre que uma criança ou adolescente alcance o final do tratamento.

“É um momento que aguardo muito. Quero que o hospital todo ouça o meu sino. Vai simbolizar o fim de tudo. Não é o fim da luta, mas é o fim da quimioterapia, o fim dos enjoos, o fim de tanta medicação, o fim do mau humor”, deseja Telma Oliveira, de 15 anos, a quem foi detetado em agosto um osteossarcoma no joelho esquerdo, um tumor maligno que a levou ao Hospital Pediátrico de Coimbra para uma cirurgia de reconstrução com prótese e ao IPO do Porto para meses de tratamento.

O “Sino da “(Espera)nça”, um projeto inspirado no “Ring the bell for cancer” – que teve origem nos EUA, e se espalhou por hospitais pediátricos e de adultos, na Europa e em Austrália – é inaugurado hoje no IPO do Porto, Dia Internacional das Crianças com Cancro.

“Chama-se ‘Sino da Esperança’, mas colocamos a palavra ‘espera’ entre parênteses porque no fundo o que está em causa é uma espera, uma luta com espera, uma espera pela esperança de sobreviver e regressar a casa, à vida normal”, descreve Filomena Maia, educadora infantil no IPO do Porto há 33 anos.

À Lusa, a educadora conta que o toque do sino será “uma espécie de anuncio à família hospitalar, um momento de partilha entre doentes, famílias e equipa de profissionais”, e ao mesmo tempo um “incentivo” para quem ainda está em tratamento.

“E claro que infelizmente sabemos que há crianças que não vão conseguir tocar o sino. Mas acho que todos têm de viver na esperança que poderão tocar o sino”, refere.

De acordo com o RON (Registo Oncológico Nacional) Pediátrico, em 2019 havia 211 registos de cancro, em doentes com menos de 15 anos. Em 2020 foram 252, um aumento de incidência que a diretora do serviço de pediatria do IPO do Porto, Ana Maia, acredita que pode “simplesmente representar um registo mais eficaz”, mas que “não deve fazer descurar a atenção aos sintomas”.

“Acho que nas crianças mais pequenas, o diagnóstico tem menos atraso. O grupo mais preocupante é o adolescente. O adolescente não é suposto ter problemas de saúde e os sintomas são muitas vezes interpretados como relacionados com o desporto, com a atividade física, com a puberdade e as mudanças de humor, como sintomas psicológicos ou psicossomáticos”, alerta.

Para a médica revela-se “fundamental a relação de confiança entre o adolescente e os pais” e “o facto de os adolescentes terem passado a ser observados por pediatras também trouxe”, acredita, “um beneficio para este grupo etário”.

“O pediatra tem uma atenção mais global em relação ao doente. Na medicina dos adultos, a medicina está mais fracionada por especialidades”, analisa.

Esperançada por ouvir o “Sino da (Espera)nça” tocar muitas vezes, também Ana Maia sabe que no mesmo dia em que o sino tocar a anunciar o fim do tratamento de uma criança ou adolescente, na porta ao lado a situação pode não ser semelhante.

“Mas a vida é mesmo assim”, resume a médica, convicta de que “serão as próprias crianças e famílias a perceber e a interiorizar isso”, uma convicção confirmada à Lusa pela mãe da Telma, Isabel Domingues, que hoje diz não saber transmitir o que sentiu quando recebeu o diagnóstico, mas tem a certeza que saberá descrever “na perfeição” o som do “Sino da (Espera)nça” da filha.

“Aguardo o toque do sino da minha filha ansiosamente, mas também quero ouvir o sino mais vezes por outras crianças e outras famílias. Esta é uma batalha muito dura e muito longa. Lembro-me do dia do diagnóstico, mas a sensação não é fácil de descrever. Acho que se resume em ‘revolta’. Porquê a minha filha? Espero – e tenho muita esperança – de saber descrever-lhe melhor o som do sino”, diz.

Feito na Fundição de Sinos de Braga Serafim da Silva Jerónimo & Filhos, Lda., o processo de feitura do “Sino da (Espera)nça” do IPO do Porto foi acompanhado por mais de uma dezena de crianças que estão ou já terminaram o tratamento, permitindo-lhes partilhar experiências e conhecer um processo que incluiu passar a cera no molde, experimentar o barro, sentir o som do sino, as texturas dos materiais, ver a fundição do metal, entre outros aspetos.

“O meu tratamento acabou. Vou seguir o meu caminho. Vou dar asas aos meus sonhos!” – são as frases que acompanharão a cerimónia de toque do sino reservada para o final dos tratamentos e que será aberta à família e equipa hospitalar que acompanhou a criança.

O projeto foi financiado com donativos angariados em iniciativas feitas em contexto de Educação para a Cidadania pelo Agrupamento de Escolas de São João da Pesqueira.

LUSA/HN

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