SIM diz que projeções sobre médicos não têm em conta rescisões e vagas por preencher

1 de Março 2024

O Sindicato Independente dos Médicos considerou esta sexta-feira que as projeções do Governo de que em 2026 haverá excesso de médicos de família são exageradas, não têm em conta as rescisões nem as vagas que têm ficado por preencher.

“Essas projeções são manifestamente exageradas e não têm em conta aquilo que é uma realidade inolvidável, que é o número de rescisões que tem ocorrido no Serviço Nacional de Saúde nos últimos anos”, afirmou Jorge Roque da Cunha, secretário-geral do Sindicato Independente dos Médicos (SIM), acrescentando: “Foram cerca de 1.200 há três anos, cerca de mil há dois anos e cerca de 1.000 no ano passado”.

Roque da Cunha falava à agência Lusa a propósito das estimativas do Governo hoje divulgadas pelo jornal Público, que indicam que, após anos de carência, a falta de médicos de família começa a atenuar-se já no próximo ano e que em 2026 haverá excesso destes profissionais.

Lembrando a “capacidade total e absoluta” do Ministério da Saúde para o planeamento dos recursos, “particularmente os médicos”, o secretário-geral do SIM sublinha: “Naturalmente que o número de reformas nos próximos anos vai diminuir pois o número de médicos formados é claramente diminuto”.

“Já sabemos isso há 30 anos (…). Mas o que é certo é que essas projeções também não têm em conta algo que é perfeitamente evidente: mesmo os médicos que acabam a sua especialidade, mesmo os médicos de Medicina geral e familiar, cerca de 50% nos últimos dois anos, não têm ficado no Serviço Nacional de Saúde”, acrescentou.

Jorge Roque da Cunha reconheceu que o fim das quotas para a criação de Unidades de Saúde Familiar (USF) modelo B (com incentivos financeiros por produtividade) pode ajudar a dar mais médicos de família aos utentes, mas sublinha que essa medida é muito recente e, por isso, ainda não é ainda possível avaliar o efeito.

“Ainda é muito cedo, já que a medida tem meses, para que se possa, de uma forma taxativa, afirmar o que é afirmado, particularmente a uma semana das eleições e depois de termos visto vários políticos, em várias circunstâncias, a fazerem anúncios que, no nosso ponto de vista, só criam expectativas exageradas e que, naturalmente, não sendo cumpridas, descredibilizam quem as faz”, disse.

O responsável chamou ainda a atenção para o facto de, quando se acordou com o ex-ministro da Saúde Paulo Macedo que as listas dos médicos de família pudessem abranger cerca de 1.900 utentes, “ficou claro que era uma medida provisória”.

“Os números internacionais apontam para um número muito aproximado de 1.550 utentes e os nossos utentes, felizmente, vivem cada vez mais anos, mas têm cada vez mais doenças, precisam de mais horas de trabalho [do médico] para serem acompanhados”, explicou.

Lembrando que esta matéria “fez parte de disposições dos orçamentos do Estado da geringonça”, insistiu: ”Tratar um doente com 70 anos, com cinco ou seis doenças é totalmente diferente do que acompanhar, de uma forma regular, um doente saudável”.

Destacou ainda a necessidade de “mais tempo para a prevenção”, sublinhando: “Todo tipo de medidas que possam diminuir a carga burocrática administrativa dos médicos de família são positivas”.

Aconselhando “prudência nas estimativas”, Roque da Cunha insistiu: Esperemos que haja a perspetiva de não relaxar no sentido de criar condições para que haja médicos de família em formação e que se criem as condições para que eles fiquem no Serviço Nacional de Saúde, porque, de outra maneira, dificilmente poderemos estar otimistas”.

LUSA/HN

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