Nova Agência Europeia sobre Drogas promete reforçar cooperação e resposta a novas ameaças

3 de Julho 2024

A nova Agência Europeia sobre Drogas (EUDA) promete um reforço da cooperação internacional no combate à criminalidade associada à droga e um sistema de alerta mais rápido e eficaz contra novas ameaças, como os opioides sintéticos.

 Inaugurada hoje em Lisboa, a agência que sucede ao Observatório Europeu das Drogas e da Toxicodependência contou com a presença da comissária europeia para os Assuntos Internos, Ylva Johansson, que assinalou que “as drogas estão cada vez mais perigosas” e que o crime organizado ligado à droga “é uma das maiores ameaças” atuais à sociedade.

“Ameaçam a sociedade com corrupção e violência, infiltram-se em negócios normais… Esta ameaça é tão grande quanto a ameaça terrorista”, disse Ylva Johansson, continuando: “Estamos a fazer tudo o que é preciso para criar esta rede mais forte. É absolutamente necessário ir ao topo das organizações. Muitas vezes enfrentamos aqueles que vão nos barcos ou vendem nas ruas, mas temos de seguir o dinheiro”.

A comissária europeia realçou também a importância da cooperação internacional para o combate a este fenómeno, tendo, nesse sentido, sido hoje assinado um protocolo com o Equador para o reforço da troca de informações.

“A América latina é crítica para o nosso futuro. Estamos a investir muito nisso. Por exemplo, hoje vamos assinar o acordo entre EUDA e Equador e estamos a trabalhar com Peru, Bolívia, Brasil e Colômbia. (…) É preciso trabalhar em rede para combater redes criminosas e precisamos de mais parceiros nesta luta”, vincou.

Ylva Johansson abordou ainda a ameaça crescente dos opioides sintéticos no espaço europeu e como a rede de laboratórios forenses e toxicológicos tem um papel decisivo numa deteção e resposta cada vez mais ágil, face às seis mil pessoas que morreram de overdose num ano e à cada vez maior mistura de drogas, que se traduzem em “cocktails potencialmente letais”.

“É difícil dizer qual é a ameaça maior, porque a heroína continua a matar mais e a cocaína é a droga mais traficada, mas os opioides sintéticos são complicados. Há diferentes ameaças e são bastante aditivas. É por isso que é tão importante o sistema de alerta. Por exemplo, vemos como o fentanil atingiu os Estados Unidos e nós não podemos cometer o mesmo erro”, notou.

Já o diretor executivo da EUDA, Alexis Goosdeel, que transita do EMCDDA para a nova agência europeia, destacou as capacidades acrescidas que a EUDA tem para responder ao fenómeno.

“Hoje as drogas podem ter muitas formas e feitios e estão acessíveis em todo o lado. A nossa missão é monitorizar tendências de droga, partilhar conhecimento científico e desenvolver respostas robustas. Acreditamos na capacidade coletiva para enfrentar o desafio e estabelecer parcerias. Todos os alertas e recomendações vão aumentar o impacto, trabalhando hoje para antecipar o amanhã”, declarou.

A secretária de Estado da Saúde, Ana Povo, representou o Governo no lançamento da EUDA em Lisboa e expressou o “renovado compromisso” de Portugal para uma abordagem total ao fenómeno da droga, lembrando o caráter pioneiro na descriminalização do consumo de drogas e que o país “está preparado para ser um parceiro forte” da nova agência.

A EUDA, que continuará a funcionar no Cais do Sodré, em Lisboa, tem como principal objetivo reforçar o grau de preparação da União Europeia em matéria de combate ao consumo e tráfico de droga, sendo o trabalho organizado em diversos eixos: ajudar a UE a antecipar futuros desafios, emitir alertas em tempo real sobre novos riscos, facilitar o intercâmbio de informação e partilhar políticas de intervenção sobre esta realidade.

Tem ainda como mecanismos um Sistema Europeu de Avaliação das Ameaças, que reforçará a forma como a UE se prepara e reage a ameaças emergentes ou potenciais para a saúde e a segurança e uma Rede Europeia de Laboratórios Forenses e Toxicológicos.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This