Ana Paula Alves Assessora e Mestre em Nutrição Clínica Responsável da Unidade de Apoio à Investigação do Centro Hospitalar e Universitário do Algarve das Unidades de Portimão e Lagos.

Utilização da Calorimetria Indireta na Elaboração do Suporte Nutricional do Doente Crítico

10/27/2020

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Utilização da Calorimetria Indireta na Elaboração do Suporte Nutricional do Doente Crítico

27/10/2020 | Consultório

No Doente Critico (DC), uma revisão sistemática recente indica que a prevalência de malnutrição é elevada, com estimativas entre 38% e 78%, e possuindo uma correlação positiva com a incidência de infeções nosocomiais e mortalidade. As evidências sugerem mesmo que 50% da mortalidade nos seis meses seguintes à alta hospitalar pode estar associada a malnutrição (Lew et al., 2017; Lim et al., 2012; Mogensen et al., 2018).
A terapêutica nutricional pode melhorar o prognóstico do DC, estando associada a uma diminuição no tempo de internamento e no risco de complicações pós-internamento em UCI (Dijkink et al., 2020; Singer et al., 2019).
A imprevisibilidade da evolução do estado de saúde e das necessidades metabólicas do DC implicam que a estimativa das necessidades energéticas deva ser rigorosa. Habitualmente, a estimativa das necessidades energéticas é feita através de equações preditivas (Peterson et al., 2016) ou, em situações onde existe equipamento disponível, através de calorimetria indireta (CI) (Da Rocha et al., 2006; De Waele et al., 2018; McClave et al., 2013).
O desenvolvimento de novas equações preditivas das necessidades energéticas e a utilização de diferentes equações mostra que este método continua a ter um impacto significativo na prática clínica, como evidenciado pelo resultado de trabalhos de investigação sobre suporte nutricional no DC. Apesar disto, considera-se que os resultados deste método são mais imprecisos do que os obtidos através de calorimetria, usada como medida de critério ou gold-standard em grande parte dos trabalhos de validação das equações preditivas. As tomadas de posição de instituições internacionais e as linhas de orientação sobre cuidados no DC, construídas a partir de estudos de caso-controlo, de coorte, de ensaios clínicos ou de meta-análises, indicam que, sempre que possível, as necessidades energéticas nestes doentes devem ser quantificadas com recurso a CI (Rattanachaiwong et al., 2020; Reintam Blaser et al., 2017; Singer et al., 2019). Algumas
revisões sistemáticas apontam explicitamente a CI como o gold-standard, particularmente em doentes em ventilação mecânica (Chowdhury & Lobaz, 2019; McClave et al., 2013; Perman et al., 2018; Taverny et al., 2019; Sharma et al., 2019).
A CI tem sido realizada com sucesso com recurso a equipamento próprio ou a ventiladores mecânicos, aos quais são acoplados máscaras específicas ou outros adaptadores que possibilitam a retenção e registo de todas as trocas gasosas. Em pacientes em ventilação, obtêm-se as amostras gasosas a partir do circuito que liga o tubo endotraqueal ao ventilador.
Apesar da sua validade, a CI não é utilizada rotineiramente em unidades de cuidados intensivos por motivos de ordem técnica, por questões logísticas, e sobretudo pelo custo e pela necessidade de técnicos com treino específico para a levar a cabo e interpretar corretamente os resultados.
A terapêutica nutricional com base nas estimativas de necessidades energéticas obtidas através de CI está associada a um melhor aporte energético e a uma redução na mortalidade hospitalar, quer em doentes em nutrição entérica quer em doentes em nutrição parentérica (De Waele et al., 2018). Contudo, não se verificam associações significativas com a mortalidade a médio e longo prazo. As limitações associadas à avaliação por CI estão também associadas a quaisquer condições que perturbem a capacidade de medir corretamente as trocas gasosas, tais como fugas no sistema de ventilação ou humidade no analisador de gases, e a características clínicas ou terapêuticas que significam adição ou eliminação quer de oxigénio quer de dióxido de carbono do circuito respiratório, como fístulas broncopleurais, hemodiálise em curso na altura da medição e administração de oxigénio a doentes em respiração espontânea. (Chowdhury & Lobaz, 2019;
Reintam Blaser et al., 2020; Taverny et al., 2019).
As linhas de orientação mais recentes acerca do suporte nutricional no DC apontam a CI como o método mais preciso, que deve ser usado sempre que esteja disponível, mas sem descurar a heterogeneidade das situações clínicas. A CI pode ser uma ferramenta importante no processo de tomada de decisões terapêuticas e contribuir para o desenvolvimento de protocolos de cuidados nutricionais no DC e em UCI.

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