“Nós temos sempre de esperar o melhor, mas de facto eu preferia alguém que tivesse o conhecimento direto e que assumisse o cargo sabendo, logo à partida, quais são as dificuldades do SNS”, conhecendo-as “na primeira pessoa”, disse à Lusa Carlos Cortes.
O antigo presidente da Entidade Reguladora da Saúde, Álvaro Almeida, foi escolhido pelo Governo para liderar a Direção Executiva do SNS (DE-SNS), na sequência da demissão de Gandra d’Almeida na sexta-feira.
Segundo o bastonário, a OM tinha considerado a necessidade de a DE-SNS ter à frente alguém com características técnicas, independente e conhecedor do SNS, mas o nome escolhido pelo Ministério da Saúde apresenta um “perfil muito académico e de gabinete”.
“Teve algumas incursões em temas de saúde, mas não é verdadeiramente um conhecedor e é alguém com um perfil marcadamente político-partidário”, referiu Carlos Cortes, manifestando a disponibilidade da ordem para “colaborar ativamente” com Álvaro Almeida “para ajudar a ultrapassar as dificuldades do SNS”.
O bastonário realçou ainda que o novo diretor executivo “vai ter de ter uma curva de aprendizagem mais aprofundada, mais dilatada no tempo”, numa altura em que não há tempo a perder no SNS.
“O perfil conhecido não é o mais importante. O mais importante é o que aí vem, as próximas semanas e meses. Não há muito tempo a perder, a saúde precisa de uma intervenção muito rápida e precisa de uma DE-SNS atuante e interveniente”, salientou.
Carlos Cortes disse ainda que não se pode imputar à DE-SNS, que entrou em funcionamento há cerca de dois anos, a “responsabilidade do que está a acontecer no SNS” e defendeu que este não é ainda o momento para fazer uma avaliação do órgão criado para gerir a rede de unidades de saúde públicas.
“Não podemos sistematicamente entrar neste exercício infantil de estar sempre a querer mudar tudo”, alertou o bastonário.
Em comunicado, a Ordem dos Enfermeiros manifestou-se convicta do “contributo decisivo” que Álvaro Almeida vai trazer ao SNS, alegando que desempenhou “cargos de relevo” no setor, como a presidência da Entidade Reguladora da Saúde e da Administração Regional de Saúde do Norte.
“A ordem manifesta total disponibilidade para colaborar com a nova Direção Executiva do SNS, colocando sempre como prioridade a qualidade e segurança dos cuidados prestados à população”, salientou o bastonário da Ordem dos Enfermeiros, Luís Filipe Barreira, citado no comunicado.
O pedido de demissão de Gandra d´Almeida foi anunciado depois de a SIC ter noticiado que acumulou, durante mais de dois anos, as funções de diretor do INEM do Norte, com sede no Porto, com as de médico tarefeiro nas urgências de Faro e Portimão e que terá recebido por esses turnos mais de 200 mil euros.
Doutorado em Economia pela London School of Economics and Political Science, Álvaro Almeida foi presidente da Administração Regional de Saúde do Norte e da Entidade Reguladora da Saúde entre 2005 e 2010 e foi economista no Fundo Monetário Internacional.
Na Porto Business School é diretor da Pós-Graduação em Gestão e Direção de Serviços de Saúde e foi deputado do PSD e chegou a ser candidato à Câmara Municipal do Porto nas eleições de 2017.
A Inspeção-Geral das Atividades em Saúde anunciou na segunda-feira uma inspeção à eventual acumulação de funções públicas e privadas de Gandra d’Almeida nos períodos em que foi diretor do INEM do Norte e diretor executivo do SNS.
Vai realizar também uma auditoria, desdobrada em vários processos, ao “desempenho organizacional das entidades do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e do Ministério da Saúde” relativa ao cumprimento das normas que regulam a acumulação de funções públicas com funções ou atividades privadas.
lusa/HN
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