O primeiro-ministro de Cabo Verde, Ulisses Correia e Silva, afirmou hoje que as evacuações médicas para Portugal irão continuar, apesar dos custos que representam para o sistema de saúde português. Contudo, a realização de transplantes renais em Cabo Verde e novos investimentos na área da saúde deverão reduzir significativamente esta necessidade.
A declaração foi feita durante uma conferência de imprensa em Lisboa, no encerramento da VII Cimeira Portugal-Cabo Verde, onde foram assinados vários protocolos de cooperação entre os dois países. Entre os acordos firmados destaca-se o “Programa de Transplante Renal”, que visa capacitar Cabo Verde para realizar este tipo de intervenção médica em pelo menos um dos seus hospitais centrais.
Ulisses Correia e Silva considerou este avanço “um passo significativo” na autonomização do sistema de saúde cabo-verdiano, permitindo não só diminuir as evacuações médicas para Portugal como também oferecer uma solução definitiva aos doentes renais atualmente em diálise nas ilhas da Praia e São Vicente. “As pessoas que vêm [para Portugal] para tratamentos com problemas renais ficarão sempre em situação de evacuação enquanto não houver soluções de transplante”, explicou.
Dados da Direção-Geral da Saúde (DGS) revelam que, entre 2021 e 2023, Cabo Verde foi responsável por 43% das evacuações médicas provenientes dos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) para Portugal. Este número coloca o arquipélago como o principal utilizador deste mecanismo, seguido pela Guiné-Bissau (29%), São Tomé e Príncipe (24%), Angola (3%) e Moçambique (2%).
Além do programa de transplantes, o primeiro-ministro cabo-verdiano destacou outros esforços em curso no país, como a construção de um novo hospital com especialidades nas áreas de oncologia, neurologia, traumatologia e cardiologia – áreas que mais frequentemente motivam evacuações médicas. Este projeto inclui não apenas a infraestrutura física, mas também componentes tecnológicas e especializações médicas necessárias para garantir a sua operação plena.
Correia e Silva sublinhou ainda que a parceria com Portugal na área da saúde é fundamental não apenas para dar resposta às necessidades imediatas da população cabo-verdiana, mas também para apoiar o país no caminho da autonomia e do desenvolvimento sustentável.
Durante a cimeira, foram assinados cerca de 30 protocolos de cooperação em diversas áreas. Na saúde, além do programa de transplantes renais, destacam-se um Memorando de Entendimento sobre Saúde Digital e outro sobre Cooperação Técnica e Científica entre a Unidade Local de Saúde de Coimbra e o Hospital Central da Praia.
O chefe do Governo cabo-verdiano concluiu que estas iniciativas reforçam uma parceria estratégica com Portugal que vai além da ajuda direta, promovendo a capacitação técnica e humana necessária para que Cabo Verde alcance maior autonomia no setor da saúde.
NR/HN/Lusa
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