Feirantes de Lisboa acusam o Governo de discriminação

2 de Novembro 2020

Associação de Feirantes do Distrito de Lisboa considera que o setor está “mais uma vez a ser discriminado” devido à proibição de feiras a partir de quarta-feira, em 121 municípios, no âmbito das medidas para travar a pandemia.

“Mais uma vez estamos a ser discriminados, neste caso até mais discriminados do que nunca. Todos os comércios vão continuar a trabalhar menos o nosso”, disse hoje, em declarações à Lusa, José Luís, dirigente da Associação dos Feirantes do Distrito de Lisboa.

O dirigente referiu ainda não perceber o porquê da medida, quando o resto das atividades comerciais vão poder continuar a trabalhar, embora com novas limitações de horários.

“Será que querem acabar com a nossa atividade?”, questionou, lembrando que 90% dos comerciantes que trabalham nas feiras não têm mais rendimentos. “Se pararem, não vem rendimento de mais lado nenhum”, frisou.

De acordo com o responsável ir neste momento a uma feira “é mais saudável do que ir a um centro comercial ou a um espetáculo, já que as pessoas andam dispersas, à vontade”, e são cumpridos todos os planos de contingência, incluindo os controlos de entrada, onde é medida a temperatura e onde se encontra o álcool gel para desinfeção.

O dirigente lembrou ainda não ter tido conhecimento de algum caso ou contágio em feiras, onde, reforçou, “anda tudo de máscara, os feirantes têm o álcool gel e só estão um x de pessoas por metro quadrado”.

José Luís avançou ainda que os feirantes estão a “preparar uma surpresa ao Governo” com uma “megamanifestação de norte a sul”, de forma a demonstrarem a sua indignação.

“É uma aniquilação, estão a querer matar-nos”, lamentou.

Em declarações à agência Lusa, no domingo, o presidente da Federação Nacional das Associações de Feirantes, Joaquim Santos, acusou o Governo de “deixar ficar para trás milhares de feirantes” e prometeu “uma grande surpresa em Lisboa na próxima semana”, precisando que “vão pedir para trabalhar”.

“Só sairemos de Lisboa quando tivermos a certeza de que podemos feirar”, disse.

Recordando que os feirantes foram dos primeiros a fechar quando foi decretado o confinamento, em 12 de março, Joaquim Santos afirmou que não compreende esta medida, porque “feirar” é uma atividade que é feita ao ar livre e porque os feirantes “sempre cumpriram as recomendações da Direção-Geral de Saúde (DGS)”.

O Conselho de Ministros decidiu no sábado que 121 municípios vão ficar abrangidos, a partir de quarta-feira, pelo dever cívico de recolhimento domiciliário, novos horários nos estabelecimentos e teletrabalho obrigatório, salvo “oposição fundamentada” pelo trabalhador, devido à Covid-19.

Os restaurantes nestes 121 concelhos têm de fechar até às 22:30 e todos os estabelecimentos comerciais terão de encerrar, na generalidade, às 22:00.

Também nestes territórios – que representam 70% da população residente -, ficam proibidas as feiras e os mercados de levante, e os eventos e celebrações ficam limitados a cinco pessoas, exceto nos casos em que os participantes pertencem ao mesmo agregado familiar.

Os concelhos abrangidos têm mais de 240 casos de infeção com o vírus da Covid-19 por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias e será este o critério que servirá para atualizar a lista de municípios sujeitos a medidas restritivas a cada 15 dias, seguindo um princípio definido pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças. Há uma exceção para surtos localizados em concelhos de baixa densidade.

LUSA/HN

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