Imigrantes fora da UE com mais problemas no acesso a cuidados de saúde

11 de Março 2025

Os imigrantes de fora da União Europeia em Portugal têm mais problemas de saúde e recorrem pouco aos serviços, em particular no que respeita a questões saúde mental, segundo um estudo hoje divulgado.

De acordo com um inquérito realizado no âmbito da cátedra em Economia da Saúde, da Nova SBE, com a Fundação la Caixa e o BPI, “a desproteção financeira para despesas médicas é mais relevante nos imigrantes de fora da UE, bem como nos imigrantes que vêm para Portugal por motivos económicos e a saúde mental, desvalorizada tanto pelas comunidades imigrantes como pelos nativos, não é considerada como um motivo relevante para recorrer aos cuidados”.

Na nota “Análises do Setor da Saúde – Além-Fronteiras: Saúde Mental e Acesso a Cuidados de Saúde dos Imigrantes em Portugal”, que corresponde a uma análise aos dados do Inquérito Nacional de Saúde de 2014 e 2019, os autores Pedro Pita Barros e Carolina Santos avaliam uma “amostra de 29.573 indivíduos nascidos em Portugal, 509 nascidos noutros países da UE e 1.484 nascidos fora da UE”.

Segundo os autores consideram que “a prevalência de sintomas depressivos entre nativos é maior (14,8%)” do que nos imigrantes nascidos fora da UE (9,1%) e da UE (7,1%), mas essa diferença tende a esbater-se ao longo do seu tempo de permanência.

“A deterioração do estado de saúde dos imigrantes ao longo do tempo pode estar associada não só a barreiras no acesso aos cuidados de saúde, mas também ao processo de aculturação e à adoção de comportamentos de risco, como o consumo de álcool, tabaco e a falta de exercício físico”, referem os autores.

Os dados analisados indicam que, em média, os imigrantes nascidos fora da UE “têm 4,3 pontos percentuais menos probabilidade de estar cobertos por subsistemas ou seguros privados em comparação com os nativos”.

Essa disparidade “é mais acentuada entre os imigrantes económicos (que têm 6,1 pontos percentuais menos oportunidade de ter cobertura de saúde privada do que os nativos)”, refere o estudo.

A maioria dos elementos da amostra não percebe que precisam de ajuda clínica para lidar com “sintomas depressivos clinicamente significativos”: 69,3% dos nativos, 66,7% dos imigrantes da UE e 57,1% dos imigrantes de fora da UE.

Para os autores, os “imigrantes não económicos têm uma menor probabilidade de reportar sintomas depressivos do que os nativos e têm uma cobertura para despesas em saúde equiparada à das pessoas nascidas em Portugal”, pelo que, segundo os investigadores, devem ser desenhadas “políticas públicas capazes de mitigar as desigualdades no acesso a cuidados de saúde”.

NR/HN/Lusa

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