No Dia do Trabalhador, enquanto se celebram conquistas laborais e se reivindicam melhores condições de trabalho, a enxaqueca surge como um dos maiores desafios invisíveis enfrentados por milhares de portugueses no contexto profissional. Esta doença neurológica crónica, frequentemente subestimada, afeta até dois milhões de pessoas em Portugal e é responsável por um elevado absentismo, levando muitos trabalhadores a faltarem ao trabalho devido a sintomas incapacitantes como dor intensa, náuseas, sensibilidade à luz, odores e sons.
O impacto da enxaqueca não se limita às ausências. Muitos profissionais, mesmo durante as crises, optam por manter-se presentes no local de trabalho, fenómeno conhecido como presenteísmo. Nestes casos, o desempenho laboral fica comprometido, com redução significativa da produtividade, desgaste físico e emocional, e dificuldade em executar tarefas, comunicar ou tomar decisões. Profissões que exigem resposta rápida ou exposição a estímulos como luz e ruído são especialmente afetadas, tornando a enxaqueca ainda mais incapacitante.
Dados do estudo My Migraine Voice, promovido pela European Migraine and Headache Alliance, revelam que metade das pessoas com enxaqueca faltam ao trabalho cerca de quatro dias por mês devido à doença. Além disso, a produtividade dos que permanecem a trabalhar durante as crises pode ser reduzida em mais de metade. Apesar de 63% dos empregadores estarem cientes do problema, apenas 18% oferecem algum tipo de apoio aos colaboradores afetados, perpetuando o estigma e a incompreensão em torno desta condição.
A discriminação e o estigma associados à enxaqueca são realidades sentidas por muitos trabalhadores, que relatam sentir-se julgados ou incompreendidos quando precisam de faltar. Em resposta, associações como a MiGRA Portugal têm vindo a promover iniciativas de sensibilização, como o programa Workplace MiGRA-Care, que oferece workshops, formação de gestores e apoio na implementação de medidas adaptativas. Entre as soluções sugeridas estão horários flexíveis, possibilidade de teletrabalho, adaptação do espaço físico para reduzir estímulos, pausas regulares e acesso a salas de descanso.
Empresas que aderem a iniciativas como o “Migraine Friendly Workplace” demonstram que é possível criar ambientes laborais mais inclusivos, promovendo o bem-estar, a produtividade e a compreensão para com os trabalhadores que vivem com enxaqueca. A aposta em medidas de apoio não só reduz o absentismo e o presenteísmo, como contribui para a valorização do capital humano e para a sustentabilidade económica das organizações.
PR/HN/MM
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