Ajuda alimentar chega a menos de metade das pessoas necessitadas em Moçambique

6 de Novembro 2020

A ajuda alimentar a Moçambique deve chegar a menos de metade das pessoas necessitadas nos próximos cinco meses, de acordo com as previsões esta sexta-feira divulgadas pela rede humanitária de Alerta Antecipado de Fome (rede Fews, sigla inglesa).

“Prevê-se que a assistência alimentar cubra menos de metade das necessidades estimadas pela rede de novembro a março de 2021 e algumas famílias provavelmente permanecerão em crise, fase três do IPC”, lê-se no relatório periódico.

O IPC é uma classificação internacional sobre a fase em que se encontra a segurança alimentar (da sigla inglesa Integrated Food Security Phase Classification) e varia entre um, inexistente, a cinco, fome severa.

A maior parte da assistência será dirigida aos 435 mil deslocados da violência armada em Cabo Delgado, norte do país, no entanto, em setembro, só chegou a cerca de 274 mil e prevê-se que até março chegue, no máximo, a 367 mil mensalmente – mas a rede prevê que o número de deslocados aumente.

Haverá famílias que “provavelmente permanecerão em crise (IPC fase 3)” e outras, que permanecem em locais mais remotos, já poderão estar mesmo numa emergência (IPC fase 4), acrescenta.

Além de Cabo Delgado, a assistência humanitária tenta matar a fome a famílias afetadas pela seca no sul e em recuperação do ciclone Idai no centro – onde há também focos de instabilidade militar.

Segundo a análise periódica à insegurança alimentar em Moçambique, traduzida num mapa onde cada cor corresponde à gravidade da situação, este ano há um novo fator de agravamento: a pandemia de Covid-19 que fez alastrar as zonas de crise alimentar a muitas famílias em zonas urbanas.

Para os próximos meses, há previsão de “chuvas normais” no país que favorecem a produção, mas em Cabo Delgado “as famílias em áreas diretamente afetadas pelo conflito estarão a viajar para áreas seguras em vez de se envolver em atividades agrícolas”.

Famílias com poupança dependerão dos mercados até à nova colheita, a partir de abril, mas “os preços elevados, incluindo do milho em grão e farinha, limitarão o já reduzido poder de compra das famílias”, em especial no norte do país.

Em Cabo Delgado, a insegurança prejudica também “os esforços para conter surtos de cólera e diarreia, já que os profissionais de saúde continuam a fugir, principalmente das áreas afetadas pelo conflito” – situação que aumentará a desnutrição aguda, especialmente entre as crianças, nota o relatório.

As atividades de pesca, que alimentavam quase toda a zona costeira da província, “deverão continuar interrompidas” devido às ações de rebeldes, “limitando o acesso das famílias costeiras a alimentos e rendimento”.

Segundo dados do Programa Alimentar Mundial (PAM), dos 28 milhões de habitantes de Moçambique, 80% não tem acesso a uma alimentação adequada e 42,3% das crianças abaixo dos cinco anos enfrentam problemas de subnutrição.

Mais de 1,6 milhões de pessoas enfrentam insegurança alimentar grave, segundo o PAM.

A Fews, Rede de Sistemas de Alerta Antecipado de Fome, agrega organizações norte-americanas e serve como ferramenta de auxílio à ação humanitária.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Cerimónia de Abertura da 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde: Inovação e Excelência no Setor da Saúde Português

A Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH) realizou a cerimónia de abertura da 17ª edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, destacando a importância da inovação e excelência no setor da saúde em Portugal. O evento contou com a participação de representantes de várias entidades de saúde nacionais e regionais, reafirmando o compromisso com a melhoria contínua dos cuidados de saúde no país

Crescer em contacto com animais reduz o risco de alergias

As crianças que crescem com animais de estimação ou em ambientes de criação de animais têm menos probabilidade de desenvolver alergias, devido ao contacto precoce com bactérias anaeróbias comuns nas mucosas do corpo humano.

MAIS LIDAS

Share This