Cuidados paliativos melhoram qualidade de vida em doentes cardiovasculares graves

17 de Maio 2025

Um novo parecer científico da American Heart Association destaca que a integração dos cuidados paliativos nos tratamentos de doentes com doença cardiovascular crítica pode aliviar sintomas, melhorar a qualidade de vida e garantir decisões alinhadas com os valores dos pacientes.

A American Heart Association publicou um parecer científico que sublinha a importância da integração dos cuidados paliativos no acompanhamento de pessoas com doenças cardiovasculares graves, defendendo que esta abordagem pode ser benéfica em todos os estágios da doença, desde internamentos em unidades de cuidados intensivos até ao acompanhamento ambulatório. Os cuidados paliativos, tradicionalmente associados ao tratamento do cancro, visam não só aliviar sintomas físicos, mas também responder a necessidades emocionais, psicológicas e espirituais, além de apoiar decisões críticas de acordo com as preferências e valores dos doentes.

O documento, divulgado na revista Circulation, sugere estratégias para incorporar princípios de cuidados paliativos na gestão de doentes cardiovasculares críticos. Entre os benefícios identificados estão o alívio de sintomas como dor, fadiga e falta de ar, a melhoria da função física e do bem-estar emocional, a redução de episódios de depressão e ansiedade, e uma utilização mais eficiente dos recursos de saúde, com menos internamentos e custos reduzidos.

A integração dos cuidados paliativos revela-se particularmente relevante em condições como insuficiência cardíaca, doença coronária avançada, doença arterial periférica, cardiopatias congénitas no adulto, valvulopatias e arritmias. Por exemplo, nos casos de insuficiência cardíaca, a evidência aponta para melhores resultados quando os cuidados paliativos são incorporados desde cedo, incluindo melhor gestão de sintomas e menor utilização de cuidados hospitalares. Contudo, a taxa de referenciação para cuidados paliativos permanece baixa, sendo que apenas 15% dos doentes com doença coronária em estádio terminal e cerca de 10-15% dos adultos com cardiopatias congénitas recebem este tipo de apoio.

O parecer também aborda desafios de acessibilidade, referindo que muitos doentes cardiovasculares têm acesso limitado a equipas especializadas em cuidados paliativos, especialmente fora de grandes hospitais. Recomenda-se, por isso, a integração destes serviços em clínicas de insuficiência cardíaca e programas pós-alta, promovendo a continuidade dos cuidados entre o internamento e o ambulatório.

São ainda destacados dilemas éticos, sobretudo no que diz respeito à utilização ou desativação de dispositivos médicos em situações de doença avançada. O respeito pela autonomia do doente, a promoção do bem-estar e a evicção de danos são princípios essenciais, mas podem entrar em conflito em decisões complexas, como a suspensão de terapias invasivas.

O documento reforça a necessidade de formação dos profissionais de cardiologia em competências básicas de cuidados paliativos, incluindo a gestão de sintomas, comunicação sensível sobre prognóstico e opções terapêuticas, e colaboração em equipas multidisciplinares. Apesar disso, apenas uma minoria dos médicos cardiologistas recebe formação específica nesta área durante o internato.

Este parecer pretende sensibilizar para a necessidade de um acompanhamento mais holístico dos doentes cardiovasculares críticos, promovendo uma abordagem centrada na pessoa e nas suas escolhas, e defendendo a integração dos cuidados paliativos como parte fundamental da prática clínica em cardiologia.

NR/HN/ALphagalileo

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