Congresso Nacional de Medicina Interna debate futuro da especialidade e soluções para crise de atratividade

19 de Maio 2025

O 31.º Congresso Nacional de Medicina Interna, de 22 a 25 de maio em Coimbra, reúne mais de dois mil especialistas para debater a crise de atratividade da especialidade, a carência de médicos e propostas para valorizar o papel dos internistas no SNS.

Entre 22 e 25 de maio, o Convento de São Francisco, em Coimbra, acolhe o 31.º Congresso Nacional de Medicina Interna (CNMI), reunindo mais de dois mil internistas sob o lema “Uma lição de futuro e tradição”. Organizado pelo Serviço de Medicina Interna da Unidade Local de Saúde de Coimbra, o evento destaca-se como o maior encontro nacional da especialidade, num contexto marcado por uma crise de atratividade e carência de médicos que ameaça a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde (SNS).

A sessão de abertura conta com a presença de várias figuras de relevo, incluindo o Bastonário da Ordem dos Médicos, Carlos Cortes, o Presidente da Câmara de Coimbra, José Manuel Silva, e o Presidente da European Federation of Internal Medicine, Ricardo Gómez Huelgas. Lèlita Santos, presidente do congresso, sublinha a importância da partilha de conhecimento científico e da valorização do papel dos internistas na prestação de cuidados de saúde aos doentes portugueses.

Durante quatro dias, o congresso oferece conferências, debates e mesas-redondas sobre temas como consentimento informado, autonomia do idoso, doenças respiratórias, citopenias, obesidade, dor crónica, doença hepática, neuropatia periférica, farmacogenética, manifestações cutâneas de doenças imunomediadas, hospitalização domiciliária, sarcopenia, doença renal, gestão de comorbilidades no idoso com artrite reumatoide, tecnologia wearable na prática clínica, insuficiência cardíaca e turismo de saúde.

A crise de atratividade da Medicina Interna é um dos temas centrais do congresso. Nos últimos três anos, ficaram por preencher 240 vagas de formação na especialidade, com vários hospitais sem receber qualquer interno neste período. No último concurso, 58,1% das vagas não foram ocupadas, sendo que em sete hospitais nenhuma vaga foi preenchida. O défice estimado ronda os mil internistas nos hospitais do SNS, agravando a sobrecarga de trabalho dos profissionais em funções e afastando novos candidatos.

Entre as causas identificadas para esta crise estão a deterioração das condições de trabalho, a desvalorização remuneratória, a inexistência de progressão na carreira médica, a sobrecarga assistencial e a falta de condições estruturais nos serviços, incluindo enfermarias com piores condições de alojamento e escassez de recursos informáticos e de apoio administrativo. A desigualdade regional é também evidente, com hospitais no Centro, Lisboa/Vale do Tejo e Açores a registarem mais de 80% de vagas sobrantes, fenómeno agravado pela dificuldade de contratação e ausência de incentivos financeiros.

O documento de trabalho conjunto da Ordem dos Médicos e da Sociedade Portuguesa de Medicina Interna propõe um conjunto de medidas para inverter esta tendência, incluindo a criação de subespecialidades (como Urgência e Emergência Médica do Adulto), reorganização das equipas de urgência, limitação da carga de trabalho e períodos máximos de 12 horas consecutivas, tempo protegido para formação e investigação, e discriminação positiva da especialidade com incentivos institucionais e remuneratórios.

Defende-se ainda a modernização dos serviços com equipamentos de diagnóstico avançados, acesso a registos clínicos eletrónicos, formação contínua, e reconhecimento formal dos serviços como prestadores de estágios em áreas específicas. O internista é destacado como o médico do hospital, com papel central na gestão do doente complexo e na coordenação multidisciplinar dos cuidados.

O 31.º CNMI surge assim como um fórum crucial para debater soluções que permitam recuperar a atratividade da Medicina Interna e garantir a sustentabilidade da especialidade, essencial para o funcionamento dos hospitais portugueses e para a qualidade dos cuidados prestados no SNS.

PR/HN/MM

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Ana Sampaio: “É possível ser feliz com DII

No Dia Mundial da Doença Inflamatória do Intestino, Ana Sampaio, presidente da APDI, destaca a importância da sensibilização, do acesso a tratamentos e do apoio emocional, reforçando: “É possível ser feliz com DII

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights