Especialistas propõem indicadores de bem-estar estudantil nos sistemas de avaliação e acreditação das universidades

20 de Junho 2025

Os especialistas querem incluir indicadores de bem-estar estudantil nos sistemas de avaliação e acreditação das universidades e pedem formação contínua para docentes sobre saúde mental, comunicação empática e diversidade cultural.

No estudo “Ecossistemas de Aprendizagem Saudáveis nas Instituições de Ensino Superior em Portugal”, coordenado pela psicóloga Tânia Gaspar, os investigadores recordam que 30% dos alunos abrangidos estão “em elevado risco clínico”, apresentando três ou mais sintomas de ‘burnout’.

A especialista – que acompanha em consultório muitos jovens – considera fundamental ajudá-los a entender as emoções e a geri-las como algo natural da vida. “Há uma iliteracia a nível das emoções que faz com que os miúdos, cada vez que sentem alguma coisa muito intensa, fiquem logo muito preocupados (…) e querem logo uma resposta”.

Tendo em conta os dados recolhidos, recomendam, na área das políticas públicas, um Plano Nacional de Saúde Mental no Ensino Superior com financiamento garantido, assim como se torne obrigatório o acesso gratuito a apoio psicológico em todas as instituições de ensino superior.

Sugerem igualmente um maior apoio em programas nacionais de tutoria, mentoria, integração e mobilidade e um maior investimento na investigação e monitorização contínua no bem-estar no ensino superior. Pedem protocolos de resposta a “emergências emocionais” ou contextos de crise, como o luto, ‘burnout’ extremo e tentativas de suicídio, por exemplo, e um maior envolvimento dos estudantes no desenho, aplicação e avaliação de estratégias de promoção de bem-estar.

Reconhecendo que os professores “também têm os seus desafios”, pedem mais ferramentas para lidar com estes alunos: “há uma mudança de paradigma na universidade para passar também a ser um ecossistema promotor de bem-estar, além de passar competências técnicas que (…) as pessoas ainda não estão bem acordadas para isso”.

Além de formação contínua para professores sobre saúde mental, comunicação empática e diversidade cultural, pedem mais práticas pedagógicas colaborativas, como debates, assim como ações de mediação de conflitos interpessoais entre estudantes.

Sugerem igualmente uma reorganização da carga horária e avaliações de forma mais “equitativa e respeitosa”.

Tânia Gaspar reconhece que os docentes têm hoje uma carga muito pesada: “ Nós, os professores, o objetivo era ensinar aos alunos a matéria. Hoje temos de publicar, temos de investigar e temos de ter projetos financiados para financiar a própria universidade”.

Além disso – insiste – os alunos estão muito mais exigentes e querem um professor que esteja ali, que se preocupe com o bem estar dos alunos e adeque a sua prática à pessoa, aos seus ritmos, que dê flexibilidade”.

Face ao “novo paradigma” nas universidades, a investigadora diz que “tem de haver novas respostas” e dá o exemplo das universidades nórdicas, que têm professores mais de apoio ao aluno (professores tutores), em que o seu contrato já não é de investigador.

“Hoje em dia, um professor normal tem de ter investigação, docência e gestão ao impacto comunitário”, lembra, sugerindo que se aplique em Portugal um sistema de dois perfis de professor: um mais investigador e outro mais tutor, de acompanhamento de alunos.

O estudo contou com a participação de diversos especialistas, como Miguel Xavier, da coordenação nacional das políticas de saúde mental, Maria do Céu Machado, professora catedrática da Universidade de Lisboa e especialista em Saúde e Gestão, Margarida Gaspar der Matos, especialista em Psicologia e Saúde, e Helena Canhão, especialista em Saúde que foi diretora da NOVA Medical School e é atualmente secretária de Estado da Ciência e Inovação.

lusa/HN

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