“Mulheres e adolescentes foram sequestradas, forçadas a casar-se, violadas e submetidas a outras formas de violência sexual, sublinhadas pelo aumento da gravidez na adolescência nos distritos afetados, bem como por relatos preocupantes de casamentos forçados”, refere o ACNUR no documento divulgado na terça-feira.
Os relatos incluem “recrutamento forçado de crianças para grupos armados” que assolam a região onde está a nascer o maior investimento privado de África, para extração de gás natural.
A situação em Cabo Delgado “é uma crise de proteção, com relatos generalizados de violação de direitos humanos”, realça a organização.
O alerta junta-se a outro lançado há três semanas pelo Centro de Integridade Pública (CIP), ONG moçambicana, sobre abusos sexuais contra mulheres deslocadas, em troca de ajuda humanitária, considerando haver silêncio do Governo e Nações Unidas sobre o assunto.
Apesar das questões feitas pela Lusa, não houve reações ao relatório do CIP.
De acordo com o mais recente documento do ACNUR, “mais de 3.000 estruturas, principalmente casas tradicionais, mas também lojas, bancos, infraestrutura e instalações públicas foram saqueados, danificadas ou destruídas”.
Os deslocados em campos de acomodação, com tendas ou aproveitando espaços públicos (geralmente escolas) são uma minoria.
“Cerca de 90% dos deslocados internos são hospedados por parentes ou amigos” em casas já de si precárias, pelo que “existem problemas de sobrelotação”.
“Às vezes, 20 a 30 pessoas compartilham um espaço comum, criando preocupações para a saúde, particularmente no contexto da Covid-19”, acrescenta.
O ACNUR considera que a violência e a crise humanitária deverão persistir e até aumentar, sem sinais de inversão do cenário, lê-se no sumário em que faz um apelo ao reforço do seu próprio financiamento.
“Os novos requisitos financeiros do ACNUR para a resposta de emergência à situação de Cabo Delgado em 2020-2021 totalizam 19,2 milhões de dólares (16 milhões de euros), sendo que, até 13 de novembro, 39% das necessidades estavam financiadas”, detalha.
A resposta tem como meta beneficiar 300 mil pessoas em Cabo Delgado e províncias vizinhas que acolhem deslocados internos.
A violência armada está a provocar uma crise humanitária com cerca de duas mil mortes e 435 mil pessoas deslocadas, sem habitação, nem alimentos suficientes – concentrando-se sobretudo na capital provincial, Pemba.
LUSA/HN
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