Estudo sugere que substituição de células imunes pode agravar Covid-19

6 de Janeiro 2021

Os investigadores acreditam que os macrófagos que protegem o pulmão são substituídos por macrófagos pró-inflamatórios durante a infeção pelo SARS-CoV-2.

Num novo estudo, investigadores do Instituto Karolinska, na Suécia, descrevem como diferentes tipos de macrófagos podem estar associados a doenças pulmonares graves. O estudo, publicado na Revista “Immunity”, pode contribuir para futuros tratamentos da Covid-19, entre outras patologias.

A estrutura dos pulmões expõe-no a vírus e bactérias quer do ambiente, quer do sangue. Os macrófagos são células imunitárias que, entre outras funções, protegem os pulmões de tais ataques. Mas, sob certas condições, os macrófagos alveolares também podem contribuir para doenças pulmonares graves, tais como a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC) e a Covid-19.

Os macrófagos são células hematopoiéticas fagocíticas provenientes da medula óssea, tendo como percursores os monócitos que circulam temporariamente na corrente sanguínea e que migram depois para os tecidos, onde se diferenciam. Os monócitos circulantes foram classificados em “clássicos”, “intermediários” e “não clássicos”.

Nos seres humanos, geralmente os macrófagos podem ser gerados por monócitos CD14+ e CD16+, entre outras células. Para entender esse processo, os cientistas observaram um pulmão vivo e combinaram métodos de estudo de atividade genética em células individuais e sequenciamento de RNA. Assim, descobriram como os monócitos do sangue se transformam em macrófagos do pulmão humano.

“No nosso estudo, mostramos que os monócitos clássicos [CD14+] migram para as vias aéreas e para o tecido pulmonar e são convertidos em macrófagos que protegem a saúde e a função dos pulmões. Também identificámos um tipo especial de monócito – HLA-Drhi – uma célula imunitária intermédia entre o monócito sanguíneo e o macrófago das vias aéreas. Esses monócitos HLA-DRhi podem deixar a circulação sanguínea e migrar para o tecido pulmonar”, explicou Tim Willinger, professor associado do Departamento de Medicina do Instituto Karolinska, que liderou o estudo.

Por outro lado, os monócitos não clássicos CD16+ transformam-se em macrófagos nos vasos sanguíneos dos pulmões e não migram para o tecido pulmonar.

Em geral, quando há uma infeção respiratória, os monócitos dos pulmões transformam-se em macrófagos das formas descritas pelos investigadores, combatendo vírus e bactérias. “Mas um certo tipo de macrófago também pode contribuir para doenças graves, inflamações e infeções”, explica a primeira autora do estudo, Elza Evren, doutoranda da equipa de investigação de Tim Willinger.

Numa infeção provocada pelo SARS-COV-2 os investigadores acreditam que os macrófagos anti-inflamatórios protetores são substituídos por macrófagos pulmonares pró-inflamatórios de monócitos sanguíneos.

“A existência destes macrófagos derivados de monócitos sanguíneos já foi demonstrada noutros estudos para correlacionar a gravidade da doença numa pessoa com Covid-19 e a extensão dos danos provocados nos pulmões”, diz Tim Willinger. “Os doentes com Covid-19 grave também têm menos monócitos HLA-DRhi no sangue, provavelmente porque migram do sangue para os pulmões”.

Com estas conclusões, os cientistas sugerem que os tratamentos futuros da Covid-19 se concentrem nos macrófagos e monócitos inflamatórios para reduzir os danos pulmonares e a mortalidade da doença.

A investigação foi financiada pelo “Swedish Research Council”, Instituto Karolinska, “Centre for Innovative Medicine (CIMED)/Region Stockholm”, a “Swedish Heart-Lung Foundation” e a “Swedish Cancer Foundation”.

Informacão bibliográfica completa:

Publication: “Distinct developmental pathways from blood monocytes generate human lung macrophage diversity”. Elza Evren, Emma Ringqvist, Kumar Parijat Tripathi, Natalie Sleiers, Inés Có Rives, Arlisa Alisjahbana, Yu Gao, Dhifaf Sarhan, Tor Halle, Chiara Sorini, Rico Lepzien, Nicole Marquardt, Jakob Michaëlsson, Anna Smed-Sörensen, Johan Botling, Mikael C. I. Karlsson, Eduardo J. Villablanca, Tim Willinger. Immunity, online 30 December 2020, doi: 10.1016/j.immuni.2020.12.003.

NR/HN/Adelaide Oliveira

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