Grupo de enfermeiros recorreu de queixa arquivada contra bastonária

15 de Abril 2021

O grupo de enfermeiros que tinha feito uma participação disciplinar contra a bastonária por causa de comentários nas redes sociais que consideram violadores dos deveres deontológicos recorreu do arquivamento da queixa para o Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada.

Numa nota enviada hoje à Lusa, o grupo de enfermeiros diz que discorda da decisão do Conselho Jurisdicional da Ordem dos Enfermeiros (OF), considerando que “vem legitimar a ameaça e a difamação como prática aceitável dos órgãos da OE para com a sociedade civil, desconsiderando o que são os deveres deontológicos da profissão, legalmente consagrados”.

O Conselho Jurisdicional da OE tinha decidido no mês passado arquivar a participação feita por este grupo de enfermeiros por considerar que os comentários de Ana Rita Cavaco no Facebook não representavam uma violação de normas legais e deontológicas, tratando-se de “uma opinião pessoal, subjetiva, suportada pela invocação de factos que apontam para essa mesma opinião”.

“Não é um discurso objetivamente difamatório, pelo que nele não pode ser associada qualquer infração dos deveres deontológicos e consequente responsabilidade disciplinar”, refere o acórdão do CJ, a que a agência Lusa teve acesso.

No comunicado hoje enviado à Lusa, o grupo de enfermeiros diz que no recurso pretende “evidenciar a existência de dois pesos e duas medidas dentro da OE, por comparação a outros processos disciplinares em que o CJ invoca e sustenta a existência das mesmas infrações quando se trata de outros enfermeiros, que dizem respeito precisamente à dignificação e imagem da profissão”, acrescentam.

Dizem ainda que há uma “clara deturpação da jurisprudência” quanto à liberdade de expressão como um direito fundamental, “que nunca serviu para legitimar a pura ofensa”.

No texto do recurso, os enfermeiros explicam que, em 11 de dezembro de 2020, a bastonária imputou a uma enfermeira (Leila Soares) o recrutamento de voluntários para eventual participação na vacinação contra a Covid-19, referindo-se a ela como “uma Leila qualquer” e afirmando: “[Na Ordem dos Enfermeiros] a cadeia de comando é clarinha como água e terei mão extremamente pesada para invenções ou más intenções. Num processo tão sério e importante não haverá espaços para parvoíces ou voluntarismos de pessoas com outras intenções. Sei bem o que digo. Não há margem para erro. Fica o aviso”.

Aludem ainda a uma outra publicação, de 02 de fevereiro, na qual Ana Rita Cavaco, reportando-se à presidente da Câmara Municipal de Portimão, Isilda Gomes, com reprodução de uma notícia digital e fotografia, escreveu o seguinte: “Presidente da Câmara de Portimão. A gorda fura filas. Malvada a hora que nasci magra”

Entre outras publicações na rede social facebook, apontam ainda um ‘post’ em que a bastonária escreveu, em 29 de janeiro de 2021, reportando-se ao presidente da Assembleia Municipal de Arcos de Valdevez: “Este cavalheiro […] veio dizer [..] que sou demagógica porque o acusei de fazer vacina sem ser prioritário e ter dado uma desculpa de chico esperto. […] Fixem-no bem, tenho costela minhota, venha cá abaixo falar-me sem demagogia seu traste […].

Consideram no recurso apresentado que com estas publicações a bastonária desprestigiou “profunda e reiteradamente” a OF e a profissão de enfermeiro e violou alguns artigos do Estatuto, cometendo “várias infrações disciplinares”.

Com este recurso, o grupo de enfermeiros pretende anular a decisão do órgão jurisdicional da OF e ver instaurado um processo disciplinar a Ana Rita Cavaco, assim como um processo de averiguações.

“Vamos, por isso, aguardar que o Tribunal competente, instância da qual se pode esperar isenção, se pronuncie sobre a necessidade de abertura de um processo disciplinar à Bastonária, pelas justas razões fundadas no Estatuto e regulamento disciplinar da Ordem dos Enfermeiros. Uma Ordem Profissional não pode ser uma plataforma de ofensa à dignidade das pessoas e das instituições”, escrevem, em comunicado.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Mónica Nave: “É muito importante conhecer as histórias familiares de doença oncológica”

No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Ovário, a especialista em Oncologia, Mónica Nave, falou ao HealthNews sobre a gravidade da doença e a importância de conhecer histórias familiares de doença oncológica. Em entrevista, a médica abordou ainda alguns dos principais sintomas. De acordo com os dados da GLOBOCAN 2022, em Portugal foram diagnosticados 682 novos casos de cancro do ovário em 2022. No mesmo ano foi responsável por 472 mortes, colocando-o como o oitavo cancro mais mortal no sexo feminino.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights