Coronavírus transforma Jogos Olímpicos nos mais bizarros de sempre

21 de Julho 2021

Os XXXII Jogos Olímpicos da história vão ficar marcados pela pandemia de Covid-19, que obrigou ao inédito adiamento por um ano, proibiu espetadores nas competições, e promete fazer de Tóquio2020 uma competição bizarra.

O coronavírus deverá fazer do maior acontecimento desportivo do mundo um estranho ‘thriller’ futurista, recheado de restrições e cuidados sanitários, sem público para saudar os campeões, nem a liberdade aos participantes para celebrar o que os Jogos Olímpicos têm de mais importante: uma enriquecedora celebração entre povos e culturas, enquanto se desafiam os limites do potencial do corpo humano.

Os cerca de 11.000 atletas em busca da glória olímpica não vão poder celebrá-la como merecem, pois nas bancadas não haverá quem exulte os seus feitos: primeiro, foi proibido o público estrangeiro, para não alastrar a pandemia, e, depois, e face a novo estado de emergência na capital nipónica, foram os próprios japoneses a verem negada a possibilidade de comemorar devidamente Tóquio2020.

Os recintos desportivos, que estavam autorizados a ter público até 50% da sua capacidade, num limite de 10.000 espetadores, terão agora as bancadas despidas.

Sem público a apoiar e com uma sociedade que reiteradamente se tem manifestado contra a realização dos Jogos Olímpicos, restou à organização apertar nas regras, para todos, tentando assim evitar que o legado olímpico seja um pesadelo ainda maior para o Japão.

Temendo o pior, está a ser promovido um evento em ‘bolha’, com todos os participantes embrulhados num indesejado colete de forças, inibidor do habitual entusiasmo contagiante deste acontecimento global.

Apesar de boa parte dos presentes já estar vacinada e de serem testados com regularidade, os atletas não podem confraternizar com as restantes comitivas, nem sequer apoiar, presencialmente, os seus colegas de missão, naquele espírito de união que, muitas vezes, leva à desejada superação.

Vigoram o distanciamento social, rígidas normas de higiene e uso de máscaras faciais, ao que se junta a proibição de visitar restaurantes, bares, lojas e outras áreas turísticas, bem como de usar os transportes públicos.

Todos os envolvidos nos Jogos enfrentarão algum tipo de quarentena que, no caso dos jornalistas, pode mesmo implicar o controlo de movimentos por GPS, uma das várias medidas “demasiado castradoras e violadoras dos direitos profissionais da comunicação social”.

“É como ser um prisioneiro, a liberdade das pessoas está realmente em perigo”, acusou o presidente da Associação da Imprensa Desportiva Internacional (AIPS), Gianni Merlo, crítico por haver várias formas de os jornalistas perderem a credencial e serem expulsos do país.

É indisfarçável um ambiente de uma certa hostilidade, ao ponto de os japoneses terem sido encorajados, pelas suas autoridades, a denunciar, nas redes sociais, situações que entendam ser de infração por parte de cidadãos estrangeiros.

As regras não são flexíveis nem estáveis, o que tem complicado as tarefas logísticas e organizativas de todas as missões nacionais, igualmente vítimas do caos gerado pela situação sem precedentes.

A questão da vacinação – não obrigatória, mas “muito recomendável” – mobilizou inclusivamente o Comité Olímpico Internacional (COI), que contratualizou milhares de doses para as poder distribuir pelos diversos comités nacionais, uma vez que muitos países ainda enfrentam dificuldades de acesso às mesmas.

Os quadros competitivos de apuramento em diversas modalidades sofreram muitas alterações, entre ajustes, cancelamentos e adiamentos.

A Covid-19 também limitou, a nível global, a realização de testes antidoping em 2020 e no corrente ano, aumentando deste modo o perigo de ser violada a integridade competitiva.

Os custos associados à pandemia não são somente organizativos e emocionais, pois a parte financeira não é irrelevante: de acordo com as expectativas iniciais, o adiamento implicou o reforço do investimento nipónico em cerca de 2,3 mil milhões de euros, chegando o total a 13 mil milhões, tornando-os nos Jogos mais caros de sempre.

Os míticos Michael Phelps, com um recorde olímpico de 23 medalhas de ouro na natação, e Usain Bolt, com oito títulos e os melhores registos mundiais dos 100 e 200 metros, deixam saudades na competição, pelo que é hora de outros esculpirem o seu nome da imortalidade olímpica.

Com o propósito de aproximar os Jogos Olímpicos da juventude urbana, o surf, o skate, a escalada e o karaté estreiam-se no programa, registando-se ainda o regresso do basebol e do softbol.

O esforço pela igualdade de género nos Jogos Olímpicos faz com que 48,8% dos participantes sejam do sexo feminino e que tenham sido acrescentadas várias competições mistas, num total de 18.

A Covid-19 não respeitou a trégua olímpica da paz e as temperaturas previstas acima dos 30º celsius, juntamente com a elevada humidade, não facilitarão os recordes do mundo nestes Jogos Olímpicos Tóquio2020, que vão decorrer entre sexta-feira e 08 de agosto.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Psicólogos escolhem hoje novo bastonário

Mais de 21 mil psicólogos elegem hoje um novo bastonário, numas eleições que contam com três candidatos ao cargo desempenhado desde dezembro de 2016 por Francisco Miranda Rodrigues, que não concorre a um novo mandato.

Europa recomenda reembolso de aplicações digitais de saúde

 A União Europeia (UE) propôs que todos os países membros implementem um sistema que permita o reembolso de aplicações e dispositivos médicos digitais, em resposta ao crescente uso de tecnologias de saúde. 

Novos diagnósticos de VIH aumentam quase 12% na UE/EEE em 2023

 A taxa de novos diagnósticos de pessoas infetadas pelo vírus da imunodeficiência humana (VIH) cresceu 11,8% de 2022 para 2023 na União Europeia/Espaço Económico Europeu, que inclui a Noruega, a Islândia e o Liechtenstein, indica um relatório divulgado hoje.

Idade da reforma sobe para 66 anos e nove meses em 2026

A idade da reforma deverá subir para os 66 anos e nove meses em 2026, um aumento de dois meses face ao valor que será praticado em 2025, segundo os cálculos com base nos dados provisórios divulgados hoje pelo INE.

Revolução no Diagnóstico e Tratamento da Apneia do Sono em Portugal

A Dra. Paula Gonçalves Pinto, da Unidade Local de Saúde de Santa Maria, concorreu à 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH), com um projeto inovador para o diagnóstico e tratamento da Síndrome de Apneia Hipopneia do Sono (SAHS). O projeto “Innobics-SAHS” visa revolucionar a abordagem atual, reduzindo significativamente as listas de espera e melhorando a eficiência do processo através da integração de cuidados de saúde primários e hospitalares, suportada por uma plataforma digital. Esta iniciativa promete não só melhorar a qualidade de vida dos doentes, mas também otimizar os recursos do sistema de saúde

MAIS LIDAS

Share This