Quase 70% dos internados em UCI têm menos de 59 anos, revela bastonário da OM

27 de Julho 2021

Quase 70% dos doentes com Covid-19 em unidades de cuidados intensivos (UCI) têm menos de 59 anos, segundo dados recolhidos pela Ordem dos Médicos, que apontam que em enfermaria os doentes abaixo dessa faixa etária são cerca de metade. 

Os dados revelados esta terça-feira à agência Lusa pelo bastonário da Ordem dos Médicos (OM) referem-se ao dia 12 de julho e, no entender de Miguel Guimarães, traduzem o efeito da vacinação.

Em concreto, àquela data, 68,1% dos doentes com ovid-19 em UCI tinham menos de 59 anos, 26,4% dos quais na faixa etária entre os 50 e os 59 anos, 23,9% com idades entre os 40 e 49 anos e apenas 12,3% entre os 30 e 39 anos. Já os doentes nestas unidades entre os 20 e os 29 são uma minoria (5,5%).

Nas enfermarias, este número ronda os 50%. Os mais idosos destacam-se, no entanto, com 18,4% dos doentes na faixa etária acima dos 80 anos, mas o bastonário da Ordem dos Médicos sublinha que os casos mais graves são menos frequentes e em cuidados intensivos apenas 1,8% dos internados pertenciam a esse grupo.

“O efeito da vacinação faz-se notar”, sublinha o bastonário da Ordem dos Médicos, considerando que o facto de 67% da população já ter recebido, pelo menos, a primeira dose da vacina contra o SARS-CoV-2 é um dos principais fatores explicativos da evolução da pandemia, sobretudo ao nível de óbitos e internamentos.

O virologista Pedro Simas, do Instituto Molecular da Universidade de Lisboa, concorda com esta relação, mas considera que é importante ter cautela na leitura destes números.

“Neste momento, é tudo em muito menor escala”, disse à Lusa o especialista, explicando que por haver uma maior percentagem de internados mais jovens, não significa que o número, em termos absolutos, seja mais elevado em comparação com outros períodos em que os novos casos diários de infeção eram semelhantes.

De acordo com o boletim divulgado hoje pela Direção-Geral da Saúde, estão atualmente internados 919 doentes com Covid-19, 198 dos quais em cuidados intensivos. No final de fevereiro, quando o número de infeções diárias também oscilava ente mil e três mil, os internamentos superavam os dois mil.

A mesma lógica, acrescenta o virologista, deve ser aplicada ao número de mortos, que continua a concentrar-se sobretudo entre a população mais velha, apesar de 95% dos idosos com mais de 80 anos já ter a vacinação completa.

“Em números absolutos, o que se vê é que os números de mortos são muito menores porque, em geral, a população de risco já está vacinada”, sublinhou Pedro Simas, reiterando que a caracterização dos grupos de risco não mudou.

Por outro lado, na faixa etária do 64-50 anos ainda há cerca de um quarto da população sem a vacinação completa e entre os 25 e os 49 cerca de 40% ainda não recebeu sequer a primeira dose da vacina o que, para Pedro Simas e para Miguel Guimarães, ajuda a explicar a tendência crescente na percentagem de internados mais jovens.

Este foi um dos fatores que levou a Ordem dos Médicos a criar um novo indicador, que acrescenta uma avaliação da gravidade, para determinar o estado da pandemia de Covid-19, e que propôs ao Governo para substituir a atual matriz de risco.

A proposta, desenvolvida em colaboração com o Instituto Superior Técnico acrescenta aos dois indicadores existentes – incidência e transmissibilidade (Rt) – mais três que refletem os efeitos da vacinação: letalidade, internamentos em enfermaria e internamentos em unidades de cuidados intensivos.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 4.163.235 mortos em todo o mundo, entre mais de 194,1 milhões de casos de infeção pelo novo coronavírus, segundo o balanço mais recente da agência France-Presse.

Em Portugal, desde o início da pandemia, em março de 2020, morreram 17.301 pessoas e foram registados 954.669 casos de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil e Peru.

LUSA/HN

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