Vacinação de menores contra a Covid-19 em vários países

4 de Agosto 2021

A vacinação de menores contra a doença Covid-19 varia de país para país, com alguns a adotarem medidas em função da situação epidemiológica e a abrangência da imunização dos grupos etários mais velhos.

Esta posição vem expressa, designadamente, num relatório divulgado em 01 de junho pelo Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa).

Segundo o ECDC, “como o curso da covid-19 é tipicamente mais suave em adolescentes saudáveis, deve continuar a ser dada prioridade à utilização da vacina em grupos etários mais velhos antes de se visar os adolescentes como um todo”, ressalvando as crianças e adolescentes que estão em alto risco e devem ter a mesma prioridade que todas as pessoas em alto risco de doença grave noutros grupos etários.

“Dada a redução antecipada da relação benefício/risco individual da vacinação covid-19 de adolescentes em comparação com grupos etários mais velhos, deve ser tida em cuidadosa consideração a situação epidemiológica e a utilização da vacina em grupos etários mais velhos antes de se visar este grupo etário”, lê-se no relatório.

Segundo o ECDC, “os benefícios diretos globais da vacinação de adolescentes dependerão principalmente da incidência da infeção por SARS-CoV-2 e da prevalência de condições subjacentes que aumentam o risco de covid-19 grave neste grupo etário”.

O benefício global para a população em geral de adolescentes vacinados será proporcional à transmissão da SARS-CoV-2 dentro e a partir deste grupo etário, devendo a vacinação de adolescentes contra a Covid-19 ser considerada no contexto mais amplo da estratégia para toda a população, incluindo os seus objetivos globais, o estado de execução, e as suas prioridades.

Em 28 de maio de 2021, a vacina Comirnaty (Pfizer/BioNTech) foi aprovada para utilização em crianças dos 12 aos 15 anos de idade na UE e em 27 de julho chegou a vez da Spikevax (Moderna) receber luz verde da Agência Europeia do Medicamento para administração nas pessoas entre os 12 e os 17 anos.

Por países, a situação dos menores de 18 anos é a seguinte:

Alemanha 

As crianças entre os 12 e os 17 anos vão poder ser vacinadas contra a Covid-19 já a partir de setembro.

Numa conferência de imprensa na segunda-feira, o ministro da Saúde, Jens Spahn, sublinhou que, para estes casos, serão necessários o consentimento dos pais e um exame médico prévio que afaste potenciais riscos graves para a saúde. Tal como já acontece para os restantes grupos, a vacinação será voluntária.

Com pouco mais de 52% do total da população com a vacinação completa, os 16 estados federados pretendem assim chegar a mais pessoas e evitar novos confinamentos em setembro por causa da variante delta e do seu rápido contágio.

Argentina 

Na passada terça-feira, os menores do escalão etário 12-17 anos começaram a ser vacinados nos principais centros urbanos.

Existem cerca de 4,2 milhões de adolescentes nessa faixa etária no país, dos quais 924 mil têm doenças preexistentes. A vacinação que prioriza esse segmento vulnerável é uma vitória de uma campanha promovida por um grupo de pais com filhos portadores de patologias de risco que mobilizou a Argentina.

No começo de junho, a campanha ‘Vacuname’ (Vacina-me!) ganhou, rapidamente, notoriedade e adesão no país, comovido com o drama de milhares de crianças com comorbilidades que permaneciam isoladas em casa, havia um ano e meio.

A Argentina foi um dos cinco países no mundo em que a Pfizer realizou a terceira fase de testes em agosto de 2020. Isso garantia ao país prioridade internacional na compra dessas vacinas, porém, o Governo argentino rejeitou os termos de venda da farmacêutica, alegando que a “imunidade que impunha o laboratório implicava perda da soberania nacional”.

Com “Vacuname” a pressionar pela Pfizer, única vacina até então aprovada para adolescentes, e com o Governo de Joe Biden a condicionar a doação de 3,5 milhões de doses da Moderna a uma mudança de postura do Governo argentino, no começo de julho, o Presidente Alberto Fernández foi obrigado, depois de um ano de resistência, a alterar os termos da lei de vacinação que impediam um acordo com os laboratórios norte-americanos.

A chegada da doação à Argentina coincidiu, no final de julho, com a aprovação, por parte da Agência Europeia de Medicamentos (EMA), da vacina da Moderna para menores entre 12 e 17 anos, levando às autoridades argentinas a tomarem a mesma decisão emergencial.

Bélgica 

As autoridades de saúde da Bélgica enviaram em meados de julho cartas a todas as crianças dando conta da possibilidade da vacinação gratuita contra a Covid-19 a todos os jovens entre os 12 e os 15 anos, “no respeito da escolha livre e informada de cada um”.

A carta, ressalvando que a vacinação é principalmente útil para limitar a circulação geral do vírus na nossa sociedade e contribui para a imunidade de grupo, salienta que é útil se o jovem “vive com uma pessoa idosa ou com uma pessoa que tem problemas de saúde ou que é problemas de saúde ou se viaja frequentemente”.

“O benefício individual desta vacinação para crianças dos 12 aos 15 anos, se não sofrerem de nenhuma patologia em particular, é, contudo, reduzido devido ao baixo risco de desenvolver formas graves de covid-19 neste grupo etário”, lê-se ainda na carta, que convida o destinatário a procurar mais esclarecimentos junto do pediatra ou médico assistente.

A vacinação está já aberta a este grupo etário, com ou sem marcação, devendo as crianças ser acompanhadas por um pai ou tutor legal.

China 

A China começou, desde o mês passado, a oferecer vacinas para adolescentes, com algumas províncias a planear a inoculação de crianças a partir de 12 anos até ao final de setembro.

Onze províncias, incluindo Guangxi, Hubei, Hainan e Anhui, começaram já a vacinar adolescentes entre os 15 e os 17 anos em julho e, este mês, estão a vacinar menores entre os 12 e os 14 anos, de acordo com a Comissão Nacional de Saúde.

Até agora, apenas as vacinas inativadas das farmacêuticas chinesas Sinopharm e Sinovac foram aprovadas para uso de emergência para crianças com três anos ou mais na China.

A Sinopharm anunciou anteriormente que completou testes com mais de 60.000 crianças entre os três e os 17 anos, utilizando a mesma vacina administrada a adultos.

A empresa disse, em junho passado, que as doses eram seguras e os participantes desenvolveram anticorpos neutralizantes específicos “sem diferença significativa para os adultos”.

Espanha 

O limite etário para a administração de vacinas é dos 12 anos em diante, enquanto se aguardam pelos resultados de ensaios clínicos com crianças, mas os peritos já discutem a necessidade de lhes serem administradas.

Atualmente estão a ser vacinadas pessoas a partir dos 12 anos (ano de nascimento 2009 ou anterior) que tenham condições de muito alto risco em situação de grande dependência, e os que residem em centros de apoio a deficiências mentais, em centros tutelados e em centros de educação especial.

Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças (CDC) recomenda a vacinação a partir dos 12 anos, sendo que apenas a vacina da Pfizer-BioNTech está aprovada para menores.

A autorização começou por abranger o grupo entre os 16 e 17 anos, expandindo-se em maio às faixas etárias entre os 12 e os 15 anos.

Os dados do CDC indicam que seis milhões de adolescentes entre os 12 e os 15 e 3,79 milhões entre os 16 e os 17 já estão vacinados.

No início de agosto, 67,6% da população com mais de 12 anos tinha tomado pelo menos uma dose da vacina.

Reino Unido

A comissão científica que assessora o Governo britânico recomendou a vacina contra a Covid-19 aos adolescentes de 16 e 17 anos, para ajudar a diminuir ainda mais as infeções no Reino Unido, informou hoje a estação BBC.

O Reino Unido vacina atualmente os adultos a partir dos 18 anos, e também os maiores de 12 anos vulneráveis e em risco de serem contagiados com o novo coronavírus.

O denominado Comité Conjunto de Vacinação e Imunização (JCVI, na sigla em inglês) espera divulgar uma nova recomendação, pelo que as inoculações ao grupo de adolescentes de 16 e 17 anos podem iniciar-se dentro de semanas.

Venezuela 

O processo de imunização dos venezuelanos está dividido em dois grupos etários: aos cidadãos com 60 ou mais anos de idade é administrada a vacina russa Sputnik-V e os têm entre 40 e 59 recebem a vacina chinesa Sinopharm.

No entanto, segundo a imprensa local, alguns cidadãos com idades entre 18 e 40 anos foram também imunizados.

O processo de vacinação contemplou inicialmente apenas a população que está inscrita no programa Pátria (criado pelo Partido Socialista Unido da Venezuela, o partido do Governo), mas estendeu-se depois a nível geral, a quem tiver mais de 40 anos, cuja marcação pode ser feita através de uma mensagem via telemóvel.

A Venezuela prevê receber, nos próximos dias, 6,2 milhões de doses de vacinas através do Fundo de Acesso Global para Vacinas Covid-19 (Covax), ao abrigo de um contrato de 11,3 milhões de doses de vacinas.

Segundo o ministro da Saúde venezuelano, Carlos Alvarado, 4.167.000 cidadãos da Venezuela têm pelo menos uma dose das vacinas (Sputnik-V e Sinopharm) e a meta é imunizar, até ao próximo mês de outubro, 70% dos 30 milhões de pessoas.

Recentemente o Governo venezuelano anunciou que iniciaria, a partir de outubro, a administração das vacinas cubanas Abdala, Soberana 2, e da russa EpicVacCorona, a crianças e adolescentes, como parte de um esquema de vacinação em massa, mas a Sociedade Venezuela de Puericultura e Pediatria já alertou que algumas delas são experimentais, sendo necessário que cumpram com alguns requisitos.

LUSA/HN

 

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