Brasília, 15 mai 2020 (Lusa) – A petrolífera Petrobras, maior empresa do Brasil, perdeu 48,5 mil milhões de reais (7,7 mil milhões de euros) no primeiro trimestre de 2020, valor muito superior ao lucro líquido recorde registado em 2019.
O desempenho trimestral foi divulgado quinta-feira pela empresa estatal, com valores que contrastam com os atingidos em todo o ano passado, quando a petrolífera registou um lucro de 40,1 mil milhões de reais (6,3 mil milhões de euros), o maior de sua história, que desapareceu nos três primeiros meses deste ano devido à queda dos preços do petróleo e à crise gerada pela pandemia do novo coronavírus.
A Petrobras atribuiu as altas perdas no primeiro trimestre a um reajuste contabilístico efetuado no valor dos seus ativos, para os adaptar à crise histórica causada pela forte queda na procura mundial e nos preços do petróleo, assim como pela forte desvalorização do real contra o dólar.
De acordo com o comunicado enviado pela companhia de petróleo ao mercado, o reajuste do valor dos seus ativos desvalorizou-os em cerca de 13,4 mil milhões de dólares (12,4 mil milhões de euros), o que teve um impacto negativo de 9,7 mil milhões de dólares (8,9 mil milhões de euros) no resultado do primeiro trimestre de 2020.
O reajuste foi feito face à previsão de que o preço do petróleo de tipo Brent, que sofreu uma forte queda nas últimas semanas, demorará muitos anos para se recuperar, assim como perante a nova realidade da taxa de câmbio no Brasil.
“Consideramos que o nosso forte compromisso com a transparência deve sempre prevalecer e, por isso, decidimos fazer esse ajuste contábil o mais rápido possível, prevendo um novo cenário de preços e taxas de câmbio”, afirmou o presidente da empresa, Roberto Castello Branco, na sua mensagem aos acionistas.
A Petrobras, uma empresa controlada pelo Estado brasileiro, mas com ações negociadas nas bolsas de valores de São Paulo, Nova Iorque e Madrid, esclareceu que outras petrolíferas de capital aberto também fizeram uma reavaliação do valor dos ativos no primeiro trimestre, face à crise histórica do setor.
“Os nossos resultados no primeiro trimestre também foram impactados pela queda no Brent e pelas perdas com a variação cambial, mas esses fatores foram atenuados por maiores volumes de exportação, maiores margens de lucro com os derivativos e por despesas menores”, esclareceu a petrolífera.
As perdas da empresa no primeiro trimestre do ano contrastaram com o lucro líquido de quatro mil milhões de reais (650 milhões de euros) que obteve no mesmo período do ano passado e com os ganhos de 8,1 mil milhões de reais (1,29 mil milhões de euros) nos últimos três meses de 2019.
Segundo o balanço da companhia, a produção média de petróleo e gás natural da Petrobras no primeiro trimestre do ano foi de 2,6 milhões de barris diários, um aumento de 13,3% em relação ao mesmo período do ano passado, mas uma queda de 4,5% em comparação com os últimos três meses de 2019.
A produção média de derivados nas suas refinarias, nos três primeiros meses de 2020, foi de 1,763 milhões de barris por dia, com um crescimento de 3% em relação ao último trimestre do ano passado.
Os resultados operacionais positivos permitiram que as receitas de vendas da companhia somassem 75,4 mil milhões de reais (12 mil milhões de euros) no primeiro trimestre, com um crescimento de 6,5% em relação ao mesmo período do ano passado.
Já o EBITDA ajustado (resultados antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) cresceu 36,4% no primeiro trimestre, na comparação interanual, para 37,5 mil milhões de reais (5,9 mil milhões de euros) no primeiro trimestre.
A empresa avaliou que, apesar desses resultados positivos, “as restrições à mobilização de pessoas e a paralisação de segmentos económicos no final do trimestre resultaram na queda abrupta da procura interna por derivados de petróleo”.
Nesse sentido, a empresa admitiu que a situação da empresa tende a agravar-se nos próximos meses, quando os seus resultados refletirão com mais precisão a recessão global gerada pela pandemia e pela forte queda nos preços do petróleo.
“A recessão global não chegou a ter um impacto significativo no desempenho da empresa no primeiro trimestre, mas isso deverá ocorrer nos trimestres seguintes”, segundo a mensagem de Castello Branco.
“A indústria global de petróleo e gás foi duramente afetada e está a enfrentar a sua pior crise em 100 anos”, acrescentou.
O Brasil já ultrapassou os 200 mil casos confirmados da doença (202.918) e totaliza 13.993 óbitos.
A nível global, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 302 mil mortos e infetou quase 4,4 milhões de pessoas em 196 países e territórios.
MYMM // JMC
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