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Como é que a Diabetes complica a vida?
Tanto se fala da doença que é um dos flagelos dos tempos modernos: a Diabetes. É flagelo porquê? Porque os seus números disparam em todos os países do mundo. De acordo com o último atlas publicado pela IDF (International Diabetes Federation), hoje são 465 e em 2045 serão 700 milhões de pessoas com diabetes no mundo, traduzindo um aumento de 51% em pouco mais de 2 décadas. Mas qual o impacto deste crescimento? É tremendo e catastrófico a vários níveis, porque, com a diabetes, vem a fatura de custos difíceis de calcular.
Comumente, associa-se a diabetes a complicações crónicas como as úlceras do pé, problemas renais ou visuais. De facto, as complicações crónicas microvasculares, que incluem a neuropatia, a retinopatia e a doença renal, têm um impacto significativo na morbilidade e mortalidade destas pessoas. Mas quando o indivíduo recebe a notícia do diagnóstico de diabetes, tudo isto parece longínquo, porque a hiperglicemia não dói. Nada se sente durante anos, demasiados e suficientes para que hajam danos irreversíveis quando a “dor” vem. E, embora existam programas e metodologias das equipas de saúde para informar e educar os pacientes sobre as complicações crónicas da diabetes, são, ainda, insuficientes para sensibilizar sobre o seu impacto no tempo e qualidade de vida.
Em 2019, morreram cerca de 4,2 milhões de adultos, entre os 20 e 79 anos, por causa da diabetes e suas complicações, ou seja, 1 morte a cada 8 segundos. Em todo o mundo, estima-se que a diabetes esteja associada a 11,3% das mortes nesta faixa etária, sendo de salientar que 46,2% são indivíduos com menos de 60 anos, portanto, em idade laboral. Sabemos, também, que aproximadamente metade das mortes em pessoas com diabetes devem-se a doenças cardiovasculares (CV), a complicação que mais mata e cuja associação à diabetes ainda parece desconhecida pela população em geral. Porque quando alguém morre de enfarte do miocárdio ninguém se lembra que a pessoa “também” tinha diabetes. Ora, segundo vários estudos epidemiológicos, as doenças CV atingem 32% dos adultos com diabetes, e, destas, a doença coronária é a mais frequente, estando presente em cerca de 21 %. As doenças CV englobam, ainda, os acidentes cerebrovasculares vasculares (AVC), a insuficiência cardíaca e doença arterial periférica, sendo, esta última, uma potencial causa de amputação de extremidade inferior. Recentemente, um estudo revelou que as apresentações iniciais CV mais frequentes são a doença arterial periférica e a insuficiência cardíaca, realçando a importância de um rastreio mais precoce destas patologias.
Por outro lado, uma das complicações mais reconhecidas da diabetes é a doença renal. Globalmente, 80% de todos os casos de doença renal terminal, ou seja, estadio em que há necessidade de tratamento de substituição da função renal por diálise ou transplante, são causados pela diabetes ou hipertensão ou ambas. A doença renal atinge 20 a 40 % das pessoas com diabetes, associa-se a maior risco CV, e tem impacto significativo na qualidade de vida.
As complicações oftalmológicas, entre as mais temidas pelas pessoas com diabetes, incluem retinopatia, glaucoma, edema macular e cataratas. Na maioria dos países, a principal causa de cegueira nas pessoas em idade laboral é a retinopatia diabética, com consequências dramáticas do ponto de vista psicológico e socioeconómico. Estima-se que a retinopatia diabética afecte cerca de 35 % dos individuos com diabetes.
Outra doença que vem complicar a vida de quem tem diabetes é a neuropatia diabética: ainda pouco reconhecida pelos pacientes, pode passar desapercebida pelos próprios clínicos se não devidamente pesquisada. Uma complicação, cuja forma mais comum, a neuropatia periférica, predispõe ao desenvolvimento de úlceras nos pés e membros inferiores. Entre as alterações da sensibilidade associadas encontra-se a dor neuropática que atinge até cerca de 26% dos adultos com diabetes.
Além das clássicas complicações supracitadas, surge cada vez mais evidência da associação da diabetes a maior risco de cancros, infecções e disfunção cognitiva. Dados recentes de investigação sugerem que as pessoas com diabetes têm maior risco de depressão major, distúrbios da ansiedade, do comportamento alimentar, de doença psiquiátrica grave e de demência.
A avaliação do custo global da morbilidade e mortalidade prematura que a diabetes comporta é dificil, contudo, é certo que o seu impacto económico é negativo e pesado por custos directos e indirectos.
No mundo transformado por um vírus, a diabetes tem sido alvo de destaque por ser uma doença crónica que confere maior risco de gravidade e mortalidade na COVID 19. E, mais uma vez, tanto se fala desta doença que não precisa de vírus para matar. É curioso como o medo de um “perigo iminente” tem despertado, em muitos dos nossos doentes, uma nova força de vontade para melhorar o controlo glicémico instituindo as medidas que os clínicos sempre reforçaram: quer seja pela intensificação da vigilância, dieta alimentar, exercicio físico ou melhor adesão terapêutica. Um risco imediato terá mais força que o risco a longo prazo das pesadas consequências do mau controlo metabólico? Certo é que o diagnóstico e tratamento precoce, o melhor controlo da diabetes, e medidas para reduzir a sua prevalência, podem descomplicar a vida de muitos.
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