“A epidemia de covid-19 continua descontrolada na região de Lisboa e Vale do Tejo [LVT]. Desde o início desta epidemia que não houve por parte da autoridade de saúde regional uma estratégia” com vista ao seu controlo, afirma o secretário-geral do SIM num ofício enviado à ministra da Saúde, ao Presidente da República, ao primeiro-ministro e aos presidentes da Administração Regional de Saúde e ao delegado de saúde regional de LVT.
Portugal é o segundo país da União Europeia com mais novos casos nos últimos 14 dias, sendo que mais de 90% são na região de Lisboa e Vale do Tejo, onde na última semana foram identificados quase 2.000 infetados, observa.
Segundo Roque da Cunha, há “centenas de doentes” com covid-19 por contactar, “ainda com inquérito epidemiológico por realizar”, desconhecendo-se assim os respetivos contactos.
“Daí que estes números poderão ser a ponta do iceberg de um gravíssimo problema de saúde pública”, salienta na carta, em que saúda a criação do gabinete de intervenção nomeado pelo Governo, “face ao descontrolo da situação na região de Lisboa e Vale do Tejo”, afirmando que “apenas peca por ser tardia”.
“Com essa medida, foi dada razão aos sucessivos alertas do SIM (não raras vezes acusados de alarmistas), ao mesmo tempo que tem sido visível o trabalho realizado nas demais ARS – face à displicência e desatenção da Administração Regional de Saúde e da Autoridade de Saúde Regional de LVT”, sublinha no ofício.
Para o SIM, o “mais preocupante” é o aumento de mais de 20% nos internamentos hospitalares e nos cuidados intensivos”.
“Trata-se do resultado de uma postura que, desde sempre, considerámos displicente”, diz, exemplificando com “a defesa da manutenção do funcionamento das escolas, baseada na ideia de que a situação seria compatível com uma mera gripe, a desvalorização dos transportes no surto da Azambuja” ou “o abandono da USP [Unidade de Saúde Pública] de Sintra quando grande parte da unidade se encontrava infetada”.
Lembra ainda que “os focos suburbanos de precariedade em Lisboa existem há muitos anos, com bairros sociais e residentes com baixos rendimentos, a construção civil também”.
“Numa fase em que existe um estímulo ao desconfinamento e em que os profissionais de saúde estão exaustos, esta desvalorização – quiçá até desconhecimento – por parte das autoridades de saúde/administração regional de saúde parece ignorar a verdadeira dimensão do problema”, adverte.
Perante esta situação, o SIM apela para que o grupo de intervenção para Lisboa e Vale do Tejo emane “orientações claras e robustas” e que sejam disponibilizados os equipamentos de proteção individual necessários à atividade dos profissionais de saúde.
Apela ainda ao desenvolvimento de estratégias para vigilância das “muitas centenas de doentes infetados sem médico de família” e à criação de condições para que “os médicos da ARSLVT previnam a exaustão e que possam usufruir do descanso necessário”.
“Apesar de não se dever mudar generais em plena batalha, com a saída de um ‘marechal’, como o senhor ministro das Finanças Mário Centeno, num momento delicadíssimo da discussão do orçamento suplementar, abre uma clamorosa exceção a esta regra”, afirma Roque da Cunha.
“Ainda assim, consideramos que se traduziu também no assumir de responsabilidades, algo que ao nível do Conselho Diretivo da ARS e da autoridade regional de saúde (delegado de saúde regional) de LVT, também se deveria verificar”, defende.
Portugal contabiliza pelo menos 1.505 mortos associados à covid-19 em 36.180 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde.
Na região de Lisboa e Vale do Tejo (14.407 casos), onde se tem registado maior número de surtos, há mais 246 casos de infeção do que na quinta-feira.
LUSA/HN
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