O estudo do Centro de Investigação em Estudos da Criança (CIEC) da Universidade do Minho, a que a Lusa teve hoje acesso, visava compreender como é que os professores se adaptaram ao contexto de ensino e aprendizagem à distância e analisar o modo de avaliação realizada.
Com base num inquérito ‘online’, que decorreu de 26 de maio a 12 de junho, o estudo recolheu dados de 2.369 professores, maioritariamente, de escolas públicas (96,8%) situadas em zonas predominantemente urbanas (57,3%).
No estudo participaram professores desde o ensino pré-escolar ao ensino secundário de todas as regiões do país, incluindo das regiões autónomas dos Açores e da Madeira.
Questionados sobre as dificuldades enfrentadas com o método de ensino e avaliação à distância, a maioria dos professores (58,4%) referiu a falta de equipamentos adequados para os alunos como o principal entrave, apontando também a dificuldade em envolver os estudantes nas aprendizagens (40,8%), a falta de tempo (35,1%) e a ausência de formação adequada (30,6%).
Além destes obstáculos, os professores “consideram ter sido muito difícil lidar com a impossibilidade de elogiar, de dar reforços positivos, de dar e receber ‘feedback’ instantâneo, da ausência da presença física”, lê-se na síntese do estudo.
Contudo, as dificuldades foram mais sentidas ao nível da avaliação do que do ensino e aprendizagem, com os docentes a considerarem a avaliação “o elemento mais difícil de implementar, quer pela falta de motivação dos alunos quer pela insegurança na fiabilidade dos resultados”.
A síntese indica que a perceção apresentada pela maioria dos participantes mostra que as “reações foram positivas face às exigências”, ainda que 43,3% dos docentes tenha sentido desconforto, ‘stress’, receio e cansaço “devido à necessidade de uma resposta rápida”.
No que diz respeito à reação dos alunos ao ensino à distância concerne, 93,3% dos professores defendem que os estes têm respondido “positivamente às tarefas” propostas, 50,1% admitem que a situação não provocou ‘stress’ nos estudantes e 68,0% evidenciam que os alunos se têm mostrado interessados na aprendizagem.
Ainda que considerem “lidar bem com a situação”, mais de metade dos participantes afirmaram que as suas práticas de ensino, comparativamente ao ensino presencial, “mudaram muito” e 23,5% afirmou que “mudaram totalmente”.
“Estas mudanças implicaram, para a grande maioria dos professores (92%) a preparação de material novo para trabalhar com os seus alunos, assim como a planificação de estratégias pedagógicas para ensinar”, lê-se no documento, que acrescenta que 37,3% dos professores afirmou não ter sido “fácil pensar em estratégias”.
Em relação às práticas de avaliação, 85,4% dos professores optou pela modalidade de avaliação formativa, sendo que para a maioria dos professores a avaliação diagnóstica e a avaliação sumativa apenas “teve alguma ou nenhuma importância”, 61,2% e 73,2% respetivamente.
Dos 2.369 inquiridos no estudo, dos quais 49,1% têm mais de 26 anos de serviço, a grande maioria possuíam acesso a internet em casa e condições adequadas para realizar o ensino à distância.
As alternativas mais usadas pelos professores foram plataformas como o Zoom, Microsoft Teams, Google Classroom, Moodle e email, seguindo-se o recurso ao telemóvel e aos sites das escolas.
Quando questionados sobre o projeto #Estudo em Casa, 28,1% dos professores afirmaram “nunca” recorrerem a este método para apoiar o ensino e aprendizagem, comparativamente aos 15,3% que recorreram “sempre”.
A síntese indica ainda que 57,9% dos inquiridos consideraram que “houve muito envolvimento da comunidade educativa”, sendo por isso a perceção quanto ao apoio que as lideranças deram aos docentes no contexto de “mudança abrupta” muito positiva.
O estudo “Ensino e avaliação à distância em tempos de covid-19 nos ensino básico e secundário”, liderado pela professora Maria Assunção Flores, vai ser hoje apresentado num ‘webinar’ que conta com a participação do secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa.
Portugal contabiliza pelo menos 1.587 mortos associados à covid-19 em 42.782 casos confirmados de infeção, segundo o último boletim da Direção-Geral da Saúde (DGS).
LUSA/HN
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