Experiência a ver doentes ajuda a fazer Prova de Acesso à Especialidade Médica

20 de Julho 2020

A nova prova de acesso à especialidade médica exige mais raciocínio clínico e revela que a experiência prévia com doentes ajuda na nota do exame que permite escolher a especialidade que os futuros médicos querem seguir.

Cerca de 2.500 candidatos realizaram em novembro do ano passado a Prova Nacional de Acesso que consideraram ser “globalmente bastante positiva”, disse hoje o vice-presidente para a Política Educativa da Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM), João Madeira.

Esta é uma das conclusões do inquérito do relatório hoje divulgado na sede da Ordem dos Médicos que revela que os jovens médicos aprovaram a nova prova, que veio substituir o “Harrison”.

Nas últimas quatro décadas, os recém-licenciados em Medicina tinham pela frente o “Harrison”, o exame cuja nota lhes permitia escolher uma especialidade.

A prova exigia muita memorização e por isso há mais de 15 anos que “todos começaram a achar que o Harrison não era o ideal”, contou à Lusa Serafim Guimarães, coordenador do Gabinete para a Prova Nacional de Acesso à Formação Especializada.

O Harrison “usava uma metodologia que implicava essencialmente a memória e não o raciocínio clínico. Era preciso decorar muitas coisas”, acrescentou o coordenador do gabinete que desenhou a nova prova.

Em vez de apenas memorizar, a PNA apresenta situações de “doentes reais” em que tem de se escolher a melhor solução clínica, contou à Lusa João Madeira.

O jovem de 24 anos, que terminou na semana passada o curso de Medicina e irá fazer a prova este outono, explicou que a PNA obriga a ver o doente como um todo, recriando casos semelhantes aos que “existem nos hospitais e centros de saúde”.

Os candidatos “acharam bem o modelo de prova, o tipo de perguntas e a exigência de cada pergunta”, corroborou Serafim Guimarães.

“Agora é bom na preparação da prova também ver doentes. Antes era preciso decorar o livro (intitulado Harrison), agora uma boa experiência de enfermaria, uma boa experiência a ver doentes ajuda muito a poder fazer um bom exame”, acrescentou o coordenador do gabinete.

O aluno João Madeira explicou que “os estudantes consideram que este modelo é muito melhor porque reflete muito mais o que devem ser os conhecimentos que os médicos devem adquirir ao longo do curso de medicina”.

Entre as falhas apontadas pelos candidatos destaca-se o tempo dado para a prova, que consideraram escasso. João Madeira falou ainda do receio de a próxima PNA se realizar em plena época pandémica.

Segundo Serafim Guimarães, além do tempo que está calculado internacionalmente para cada pergunta ainda foram acrescentados 15 minutos a cada uma das partes da prova.

A PNA é composta por 150 itens e tem a duração de 240 minutos, com um intervalo de 75 minutos. O Harrison tinha apenas 100 perguntas.

O bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, acredita que o novo modelo vai “melhorar ainda mais a qualidade” dos futuros médicos.

Em declarações à Lusa, Miguel Guimarães sublinhou que a PNA “cumpre dois objetivos essenciais”: uma melhor seriação dos candidatos e uma melhoria do ensino médico nas escolas.

A melhor seriação acontece porque a prova “consegue distinguir melhor e de forma mais eficaz os candidatos que temos em jogo e são cada vez mais tendo em conta as vagas que existem”, explicou o bastonário.

Além disso, acrescentou, o facto de a prova ser baseada em raciocínio clínico em detrimento da memorização “significa que vamos melhorar o ensino médico nas escolas médicas”.

“As escolas vão adaptar alguma da sua formação, tornando-se de caráter mais prático e mais clínico, porque vai corresponder a um sucesso mais elevado dos candidatos de cada escola médica. Vamos melhorar ainda mais aquilo que é a qualidade dos nossos futuros médicos”, defendeu o bastonário da Ordem dos Médicos.

Dos mais de 2500 médicos que realizam a prova, a maioria vem da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, seguindo-se a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Há ainda outros 400 que vêm de universidades estrangeiras, segundo os dados hoje revelados.

A maioria dos respondentes iniciou o seu estudo para a prova logo no início do ano letivo de 2018/2019, com uma média diária de sete a 13 horas de estudo.

Sobre as críticas feitas pelos candidatos, o bastonário disse que “os estudantes têm alguma razão”, uma vez que “a prova já está com resultados fantásticos mas é possível ir sempre mais além”.

LUSA/HN

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