Professor Rui Tato Marinho Presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia

Quem somos? Nós os vírus das hepatites, com todos os dedos da mão

07/22/2020

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Quem somos? Nós os vírus das hepatites, com todos os dedos da mão

22/07/2020 | Opinião | 0 comments

Somos os vírus das hepatites víricas. Hepatite significa que o fígado está inflamado. Em tudo semelhante a um apêndice inflamado (apendicite), uma articulação (artrite) ou uma inflamação no nariz (rinite). Inflamação significa que o elemento em questão poderá estar inchado e com queixas dolorosas.

As ditas hepatites, podem ser provocadas por múltiplos agentes, álcool, tóxicos, medicamentos e vírus.

Os vírus das hepatites têm uma apetência muito particular pelo fígado, localizado à direita por baixo das costelas.

Como sabemos que estamos infetados. Na grande maioria dos casos apenas por análises ao sangue, algumas delas gerais e comuns a qualquer doença do fígado, outras muito específicas para cada tipo de vírus. São os chamados marcadores, ou seja, “marcam”, assinalam com muita precisão determinado tipo de vírus.

As hepatites víricas mais importantes têm letras atribuídas, correspondendo às cinco primeiras letras do alfabeto português: A, B, C, D, E. Cabem na palma da mão.

Mas, nem todas são iguais, uma “são mais iguais do que as outras”, ou seja, têm maior importância em Portugal.

Atrevo-me a atribuir uma classificação por ordem de importância: C, B, A, E, e D.

Umas são mais importantes do que as outras, mas porquê? A hepatite A, a D (também chamada de Delta) e a hepatite E, são muito raras em Portugal.

A hepatite B e a C são as mais importantes, por um conjunto de fatores: número de infectados, capacidade de se tornarem crónicas (podem permanecer por mais de seis meses, até toda a vida), capacidade de destruir o fígado provocando uma situação potencialmente grave, a cirrose hepática que poderá evoluir para cancro do fígado. Alguns destes casos crónicos podem necessitar de um transplante hepático, na luta para manter a Vida. Umas têm vacina, outras não, umas têm cura, outras não.

Como as podemos evitar? Vacina (A e B) que também protege para a D (hepatite Delta). Existe uma vacina dita combinada, que é administrada em três doses por via Intramuscular. A vacina da hepatite A deve ser efetuada em quem vai fazer uma viagem a África ou Ásia.

Quais os fatores de risco? Para a hepatite A, os contactos com mãos e alimentos contaminados. Aqui mais uma vez a questão de apostar nos cuidados de higiene, de lavar as mãos. Há poucos anos tiveram lugar um pouco por toda a Europa, vários focos epidémicos em homens que têm sexo com homens. Mas o número de casos em Portugal é diminuto. Para a hepatite B, se a Mãe na altura do parto estiver infetada (se for portadora do vírus) ou através de relações sexuais desprotegidas com alguém infetado. Para a hepatite C as transfusões efetuadas antes de 1992, mas principalmente o consumo de drogas, nem que tenha sido uma vez.

Como as podemos diagnosticar? devemos incluir nas análises de rotina, já que a maioria das hepatites evoluem de forma silenciosa, sem sintomas, não só as análises globais do fígado (as ditas trasnsaminases, principalmente a ALT e alguns marcadores da hepatite B (AgHBs, anti-HBc e anti-HbB) e da hepatite C (anti-VHC). Entendemos que; à semelhança do teste para o VIH, devem ser efetuados pelo menos uma vez na Vida.

Como podemos evitar o seu agravamento? Diagnosticar tão cedo quanto possível a hepatite C (anti-VHC) para se realizar o tratamento com antivíricos e no caso das hepatites crónicas (B e C) não consumir álcool em quem já tem cirrose. Evitar também o excesso de peso que traz consigo o fígado gordo e a hepatite associada à gordura (esteatohepatite não alcoólica)

Parece algo confuso, esta sopa de letras? Mas é mesmo assim. A evolução da biologia, da medicina moderna, da tecnologia, da virologia, da vacinologia permitiu alguns desenvolvimentos dos mais relevantes para o ser Humano, como seja a descoberta da vacina da hepatite B e a cura da hepatite C (com antivíricos dados de forma oral, durante 2 a 3 meses, praticamente sem efeitos secundários). Assim fosse possível com outros vírus como seja o VIH e o Coronavírus.

É a chamada Medicina de precisão, infelizmente no campo do tratamento ainda apenas na hepatite C.

Os números falam por si: 40.000 infetados em Portugal com a hepatite C, talvez 60-70.000 com hepatite B crónica, mas em todo o mundo por cada ano que passa quase 1.5 milhões de mortos.

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