Este ano a reunião magna será diferente de qualquer outra realizada até hoje, uma vez que os líderes mundiais foram “convidados” a “ficar em casa” e a dirigir-se ao mundo através de discursos pré-gravados que serão transmitidos posteriormente ao longo dos vários dias do Debate Geral (entre 22 e 29 de setembro).
Apesar deste apelo feito aos dirigentes mundiais – para evitar as habituais concentrações de delegações na sede da organização em Nova Iorque (Estados Unidos) no âmbito das medidas de prevenção relacionadas com a atual crise pandémica -, as Nações Unidas relembraram esta semana que qualquer líder mundial tem o direito de comparecer pessoalmente.
Entre os 193 Estados-membros da ONU, houve pelo menos um que já manifestou essa intenção: o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que planeia falar a partir da tribuna da Assembleia-Geral a menos de dois meses de disputar as presidenciais norte-americanas e tentar a reeleição.
“Pretendo deslocar-me diretamente às Nações Unidas para fazer o discurso”, disse o chefe de Estado norte-americano, em declarações feitas em meados de agosto.
“Penso que representa melhor o país. Sinto-me meio obrigado, como Presidente dos Estados Unidos, a estar presente (…) para fazer o que será um discurso importante”, frisou então Trump, que desde que assumiu a liderança da administração norte-americana, em janeiro de 2017, tem lançado críticas ferozes ao sistema multilateral das Nações Unidas e às agências que o integram.
Redução de financiamento e processos de saída de algumas agências, como foi o caso da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), em 2019, e mais recentemente, da Organização Mundial de Saúde (OMS), são apenas alguns episódios da relação Trump-ONU.
Apesar de os corredores da sede da ONU ficarem mais silenciosos por estes dias, a organização liderada pelo secretário-geral, António Guterres, já fez saber que a 75.ª sessão da Assembleia-Geral terá um intenso programa, garantindo que a ausência física da maioria dos líderes mundiais (e a consequente não realização de centenas de reuniões bilaterais) e o formato virtual das diversas reuniões de alto nível previstas “não irá significar que as rodas da diplomacia global e do desenvolvimento sustentável não estarão a girar à velocidade habitual”.
Esta sessão da Assembleia-Geral teria um significado particular este ano, pois tencionava assinalar, ao mais alto nível, os 75 anos das Nações Unidas.
Apesar dos constrangimentos, a efeméride será assinalada na mesma.
No dia 21 de setembro, um evento na sede da ONU, que terá direito a uma transmissão ‘online’, pretende “gerar um apoio renovado ao multilateralismo”, segundo anunciou a organização, frisando que a iniciativa surge num momento “em que muitos acreditam [que este apoio] se tornou cada vez mais urgente à medida que o mundo enfrenta a pandemia da covid-19”.
Espera-se que António Guterres intervenha, presencialmente, nesta reunião de alto nível.
Neste mesmo evento, está previsto que os 193 Estados-membros adotem uma declaração conjunta sobre o 75.º aniversário da organização, que mencione os sucessos e os fracassos da ONU, mas que também assuma o compromisso de construir um mundo pós-pandémico mais equitativo, cooperante e protetor do planeta.
Aliás, o tema escolhido para o Debate Geral da 75.ª sessão da Assembleia-Geral também reflete esta abordagem: “O Futuro que queremos, as Nações Unidas que precisamos: Reafirmar o nosso compromisso coletivo com o multilateralismo – enfrentar a covid-19 através de uma ação multilateral eficaz”.
Para assinalar os 75 anos da organização, a ONU lançou, como foi apelidado por António Guterres, o “maior diálogo global de sempre” sobre a cooperação mundial e o seu papel na construção do futuro, iniciativa que apelou à participação do “público global”.
Numa entrevista publicada este verão pela Associated Press (AP), o secretário-geral avançou ter recebido cerca de 120.000 respostas de pessoas de 193 países.
Na mesma entrevista, o ex-primeiro-ministro português, que assumiu a liderança da ONU em janeiro de 2017, frisou que, em 75 anos, o maior feito da organização é o longo período, desde a II Guerra Mundial, durante o qual as grandes potências não lutaram entre si e uma guerra nuclear foi evitada.
Já o maior fracasso, referiu então, foi a incapacidade da organização de evitar a proliferação de conflitos de média e pequena dimensão.
O programa da 75.ª Assembleia-Geral inclui ainda, e sempre em formato virtual, uma cimeira sobre biodiversidade (30 de setembro) e uma outra sobre a governação mundial pós-pandemia (a 24 setembro).
Também estão programadas outras duas reuniões: uma para assinalar e promover o Dia Internacional para a Eliminação Total das Armas Nucleares (02 de outubro) e outra para assinalar o 25.º aniversário da Quarta Conferência sobre a Mulher (01 de outubro).
LUSA/HN
0 Comments