Estudo revela que nível socioeconómico não protege adolescentes de hábitos alimentares menos saudáveis

23 de Setembro 2020

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram que o contexto socioeconómico e a educação dos pais “não protegem os filhos de hábitos alimentares menos saudáveis” durante a adolescência, revelou esta quarta-feira a responsável.

Em declarações à agência Lusa, Sofia Vilela, investigadora do ISPUP, afirmou hoje que o estudo, publicado na revista científica British Journal of Nutrition, tinha como propósito “avaliar se havia alguma influência do nível socioeconómico no consumo alimentar das crianças e dos adolescentes”.

“Queremos perceber se o contexto influenciava na ingestão diária de alimentos considerados mais saudáveis, como a carne magra, hortofrutícolas, peixe e ovos, ou, por outro lado, alimentos menos saudáveis e de elevada densidade energética, como bebidas açucaradas e ‘snacks’ salgados”, referiu.

Para isso, os investigadores avaliaram os hábitos alimentares, peso e altura de 521 crianças e 632 adolescentes que participaram no Inquérito Alimentar Nacional de Atividade Física (IAN-AF), entre 2015 e 2016.

Paralelamente, caracterizaram o estatuto socioeconómico dos participantes com base no nível de escolaridade dos pais, condição de trabalho, número de elementos do agregado familiar e a zona geográfica onde vivem.

À Lusa, Sofia Vilela disse que, apesar de as crianças e dos adolescentes que pertencem a um contexto socioeconómico mais elevado e têm pais mais escolarizados seguirem um padrão alimentar mais saudável, os adolescentes consomem “grandes quantidades de ‘snacks’ salgados”.

“Como era expectável, um maior nível socioeconómico influenciou o maior consumo de hortofrutícolas, carne branca, peixe e ovos, mas quando vamos ver outros tipos de alimentos, nos adolescentes em particular, vemos que o nível socioeconómico também influenciou um maior consumo de ‘snack’ salgados”, adiantou.

Acrescentou que “o nível socioeconómico não é o único a garantir melhores hábitos alimentares, porque quando chegam à adolescência, têm outro tipo de influências e também é preciso pensar sobre elas, nomeadamente a influência pelos pares, disponibilidade alimentar fora de casa e publicidade”.

Nesse sentido, Sofia Vilela defendeu que futuras intervenções de saúde pública direcionadas aos adolescentes devem ter em conta estas especificidades.

O estudo, intitulado ‘The role of socioeconomic factors in food consumption of Portuguese children and adolescents: results from the National Food, Nutrition and Physical Activity Survey 2015-201’, foi desenvolvido no âmbito da Unidade de Investigação em Epidemiologia (EPIUnit) do ISPUP.

LUSA/HN

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