O documento ao qual a Lusa teve acesso foi desenvolvido antes da pandemia por Covid-19, mas “as dificuldades destacadas ou provocadas pela pandemia levaram a que algumas das medidas que o grupo de trabalho inicialmente não considerou urgentes se tenham tornado agora prementes”, defendem os seus subscritores.
“Antecipando uma recessão e de forma a fortalecer o nosso SNS, é crucial implementar iniciativas baseadas na evidência e custo-efetivas para limitar a carga pessoal desnecessária e os gastos com hospitalizações evitáveis, o que é frequentemente observado na insuficiência cardíaca (IC)”, salientam.
Para os subscritores, a falta de preparação do sistema de saúde português para lidar com a IC “é dramática”.
“Apesar do impacto significativo da IC em Portugal, não existe uma estratégia nacional para dar resposta à problemática. O diagnóstico é frequentemente tardio, não existem protocolos clínicos que assegurem uma continuidade dos cuidados, as infraestruturas e as ferramentas de financiamento são inadequadas e não existem métodos de monitorização e avaliação das iniciativas implementadas”, descrevem.
Também há “uma falta de sensibilização” para a IC por parte dos decisores políticos, profissionais de saúde e da sociedade, afirmam, defendendo que “mais de metade das hospitalizações” poderiam ser evitadas com “uma melhor coordenação dos cuidados”.
Para melhorar a resposta, o grupo definiu “oito medidas prioritárias”, entre as quais “uma campanha de informação sobre a IC”, o financiamento de testes de diagnóstico para a síndrome nos cuidados de saúde primários, protocolos integrativos com uma rede de referenciação clara, a avaliação e a valorização financeira adequada dos cuidados prestados no âmbito da IC.
Para Sara Correia Marques, da Heart Failure Policy Network, o documento “reforça a necessidade urgente de implementar uma estratégia integrada e coerente, capaz de reverter o panorama da síndrome em Portugal e ajudar as pessoas que vivem com IC, que são muitas vezes esquecidas”.
Já Pedro Marques, cardiologista do Hospital de Santa Maria, considera que a situação exige “uma atuação urgente com especial destaque para os profissionais de saúde que devem atuar em equipas multidisciplinares e integradas”, para uma “resposta mais célere e concertada entre os diferentes níveis de cuidados”.
“É fundamental que os bons exemplos que temos nesta área não sejam exceções, mas sim a regra”, defende Pedro Marques.
Para José Silva Cardoso, coordenador do Grupo de Estudo de Insuficiência Cardíaca, “é indispensável” tornar a IC “uma prioridade” do SNS.
Luís Filipe Pereira, presidente da Associação de Apoio aos Doentes com IC e antigo ministro da Saúde, acrescenta que, nesta fase de pandemia se tornou claro que, “a qualquer momento, uma doença infecciosa pode monopolizar o SNS” e que “a implementação de uma estratégia para lidar eficazmente com a IC é imprescindível”.
Diz ainda esperar que este documento “possa atuar como um catalisador para o desenvolvimento de novas políticas de saúde” e reformular o modo como Portugal dará resposta à crescente carga da doença.
As estimativas apontam para cerca de 400 mil pessoas com IC em Portugal, que deverão atingir meio milhão em 2060.
A IC foi reportada como a terceira causa mais comum de hospitalização, sendo que uma em cada cinco pessoas hospitalizadas é readmitida, pelo menos uma vez, no período de um ano após a alta, o que representa um custo anual de cerca de 27 milhões ao SNS.
Os custos associados à doença representam cerca de 2,6% da despesa pública em saúde, contribuindo as hospitalizações para cerca de 30% destes gastos.
LUSA/HN
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