Numa carta aberta publicada hoje no jornal Público, a Associação Nacional das Unidades de Saúde Familiar (USF-AN) destaca a falta de recursos humanos, lembra que ainda há muitos utentes sem equipa de saúde familiar e diz que muitas infraestruturas estão desajustadas da realidade e precisam de obras e que o sistema informático deveria ser único e comunicante.
“Não temos dúvidas de que é intenção do Ministério da Saúde e das suas Administrações Regionais apoiar as equipas de saúde familiar, mas infelizmente isso não está a acontecer apropriadamente. Em alguns de casos bem pelo contrário, pois há uma incoerência enorme entre o discurso político e as medidas aplicadas”, afirma.
Na carta aberta, a associação escreve que, apesar de os governantes dizerem diariamente que os Cuidados de Saúde Primários (CSP) são o pilar do Serviço Nacional de Saúde (SNS), “na prática todas as medidas adotadas demonstram que os CSP são o parente pobre do SNS”.
Os profissionais dos centros de saúde defendem uma aposta “num planeamento estratégico centrado nas necessidades dos cidadãos a curto, médio e longo prazo”, com equipas multiprofissionais, e lembram a falta de médicos de família, enfermeiros de família, secretários clínicos, assistentes operacionais e outros profissionais de saúde.
“A escassez de secretários clínicos e assistentes operacionais ficou particularmente vincada numa época em que houve um aumento da procura do contacto telefónico e via email”, lembram.
A USF-AN diz também que muitas infraestruturas continuam desajustadas da realidade e precisam de obras para terem “circuitos isolados e seguros para utentes e profissionais, bem como salas de espera adequadas”, e sublinha que continuam a registar-se quebras de fornecimento de material de consumo clínico e/ou medicamentoso que “comprometem a eficiente prestação de cuidados”.
“É urgente um investimento sério na renovação de equipamentos informáticos e de apoio ao trabalho não-clínico, sendo exemplo disso a impreterível necessidade de centrais telefónicas adequadas aos dias de hoje, contribuindo assim para o aumento da eficiência, da produtividade e da satisfação dos utentes e profissionais”, afirma.
Na carta aberta, os profissionais dos centros de saúde lembram que ainda hoje há muitos portugueses sem equipa de saúde de familiar e dizem que esta flutuação de utentes sem equipa familiar vai manter-se “enquanto o Governo não apostar efetivamente no modelo USF e numa gestão eficiente de recursos humanos”.
Quanto aos sistemas de informação, recordam que se continua na era das “múltiplas aplicações informáticas” e exigem o “desenvolvimento estrutural de um sistema informático com termos de referência validados por todos os intervenientes, amigável, facilitador e promotor da segurança do utente”.
“Urge apostar claramente na história clínica única e na comunicação entre os diferentes níveis de cuidados, de forma a facilitar a vida aos profissionais e o percurso do utente no SNS”, acrescentam.
A associação lembra o importante papel das USF, que proporcionam maior acessibilidade às consultas programadas da sua equipa de saúde familiar, ao seguimento de grávidas, de crianças e jovens, mulheres em planeamento familiar, de diabéticos e hipertensos, dando igualmente resposta no próprio dia às situações agudas que possam surgir. “Contribuem ainda para a diminuição de utilização dos serviços de urgência, sendo evitadas, anualmente, uma média de 650 mil idas às urgências hospitalares”, sublinha a associação.
Na carta aberta hoje divulgada, a USF-AN destaca igualmente que se vive atualmente ”um momento ímpar na saúde” a nível da sobrecarga de trabalho dos profissionais, nomeadamente no seguimento de todos os casos suspeitos e positivos de covid-19 na comunidade, com contacto por telefone, nas deslocações destes profissionais para as Áreas Dedicadas ao COVID (ADC) e no aumento da resposta em cuidados de saúde em contexto domiciliário aos mais vulneráveis.
LUSA/HN
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