Ordem contra reforço das equipas de saúde pública com alunos de enfermagem

19 de Outubro 2020

A Ordem dos Enfermeiros manifestou-se hoje contra a colocação de alunos de enfermagem nas Unidades de Saúde Pública a realizar inquéritos epidemiológicos, por considerar que tal medida não se justifica nesta fase, quando ainda há centenas de enfermeiros desempregados.

Em comunicado, a Ordem dos Enfermeiros (OE) faz hoje referência a um inquérito que realizou nos últimos dias que mostra que há pelo menos 412 enfermeiros desempregados com disponibilidade imediata, dos quais 300 nunca foram contactados e cerca de 100 recusaram as atuais condições contratuais oferecidas pelas instituições, nomeadamente os contratos de apenas quatro meses, situação para a qual a OE tem vindo a alertar.

“A resposta à pandemia, nesta fase, não justifica que alunos pratiquem atos próprios de uma profissão regulamentada, praticando atos próprios de uma habilitação que ainda não detêm, e muito menos se admite que procurem soluções que permitam o exercício profissional em regime de voluntariado”, defende a OE.

Na sexta-feira, a diretora-geral da Saúde anunciou que os alunos de enfermagem vão reforçar as equipas de saúde públicas na realização dos inquéritos epidemiológicos, para detetar “o mais rapidamente” possível os contactos próximos de doentes com covid-19, que receberão formação, numa primeira fase será dada pela Direção-Geral da Saúde e depois nos locais onde vão ajudar as equipas.

“Houve um contacto do Ministério da Saúde com o Ministério do Ensino Superior, para que através das escolas de enfermagem, nomeadamente os alunos dos últimos anos, acompanhados dos seus professores, possam fazer estágio junto destas unidades de saúde pública”, avançou.

O anúncio de Graça Freitas foi feito na conferência de imprensa regular sobre a pandemia de covid-19, na qual foi questionada sobre o alerta da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública de que no Norte e na região de Lisboa e Vale do Tejo os médicos já não conseguem conter as cadeias de transmissão por falta de recursos humanos.

A Ordem dos Enfermeiros considera que o atual contexto necessita de profissionais habilitados e preparados para assegurar e garantir a adequada resposta dos serviços de saúde, devendo por isso, qualquer solução, contemplar enfermeiros especialistas em Enfermagem Comunitária, a quem compete a monitorização e rastreio epidemiológico, que face à situação devem ser chamados a integrar as Unidades de Saúde Pública.

A OE entende que a situação epidemiológica em que Portugal se encontra exige também que o Governo defina uma estratégia para a enfermagem no país, na qual se contemplem medidas de valorização profissional, com vista à fixação dos mesmos.

Essa estratégia deve ainda, segundo a Ordem dos Enfermeiros incentivar o regresso dos milhares de profissionais que se encontram emigrados, depois de em 2019 mais de quatro mil profissionais, o maior número de sempre, ter solicitado declarações para exercício profissional no estrangeiro.

Portugal contabiliza mais 17 mortos e 1.949 casos de infeção com o novo coronavirus, ultrapassando hoje os 100 mil casos desde o início da pandemia de covid-19, indicou hoje a Direção-Geral da Saúde (DGS).

De acordo com o último boletim, hoje divulgado, desde o início da pandemia, Portugal já contabilizou 101.860 casos confirmados e 2.198 óbitos.

A pandemia de covid-19 já provocou mais de 1,1 milhões de mortos e mais de 40 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

Depois de a Europa ter sucedido à China como centro da pandemia em fevereiro, o continente americano é agora o que tem mais casos confirmados e mais mortes.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Confiança: o pilar da gestão de crises na Noruega

A confiança foi essencial na gestão da pandemia pela Noruega, segundo o professor Øyvind Ihlen. Estratégias como transparência, comunicação bidirecional e apelo à responsabilidade coletiva podem ser aplicadas em crises futuras, mas enfrentam desafios como polarização política e ceticismo.

Cortes de Ajuda Externa Aumentam Risco de Surto de Mpox em África

O corte drástico na ajuda externa ameaça provocar um surto massivo de mpox em África e além-fronteiras. Com sistemas de testagem fragilizados, menos de 25% dos casos suspeitos são confirmados, expondo milhões ao risco enquanto especialistas alertam para a necessidade urgente de políticas nacionais robustas.

Audição e Visão Saudáveis: Chave para o Envelhecimento Cognitivo

Um estudo da Universidade de Örebro revela que boa audição e visão podem melhorar as funções cognitivas em idosos, promovendo independência e qualidade de vida. Intervenções como aparelhos auditivos e cirurgias oculares podem retardar o declínio cognitivo associado ao envelhecimento.

Défice de Vitamina K Ligado a Declínio Cognitivo

Um estudo da Universidade Tufts revela que a deficiência de vitamina K pode intensificar a inflamação cerebral e reduzir a neurogénese no hipocampo, contribuindo para o declínio cognitivo com o envelhecimento. A investigação reforça a importância de uma dieta rica em vegetais verdes.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights