O documento, intitulado “Estimativa Global de Crianças em Pobreza Monetária: Uma Atualização”, revela que, em 2017, um total de 356 milhões de crianças vivia com uma média de 1,90 dólares (1,61 euros) por dia ou menos, valor referência que determina a extrema pobreza.
O número corresponde a quase um quinto (17,5%) da população mundial com idade inferior a 18 anos, sendo que as crianças mais novas são as mais pobres.
Segundo as duas instituições, quase 20% de todas as que têm menos de cinco anos e são de países em desenvolvimento vivem em lares de extrema pobreza.
“Apesar de as crianças representarem aproximadamente um terço da população mundial, cerca de metade dos que vivem em situação de extrema pobreza são crianças”, conclui o documento, acrescentando que “as crianças têm mais do dobro da probabilidade de viveram em extrema pobreza do que os adultos.
O relatório faz uma comparação com a quantidade de adultos de todo o mundo em pobreza extrema e mostra que o número de crianças que apenas sobrevive é muito superior, já que a fatia de pessoas com mais de 18 anos que vivem com menos de 1,61 euros por dia ronda os 7,9%.
Todas as regiões do mundo registaram, em 2017, uma diminuição da pobreza extrema entre as crianças, com exceção da África subsaariana, que “assistiu a um aumento de 64 milhões no número absoluto de crianças a lutar para sobreviver”, passando de 170 milhões em 2013 para 234 milhões, apontam o Banco Mundial e a Unicef.
Segundo a análise, dois terços do total de crianças a viver em extrema pobreza eram da África subsaariana, enquanto o sul da Ásia era responsável por quase um quinto (18%).
Entre as duas regiões do mundo, encontram-se cerca de 85% dos menores de 18 anos a viver com 1,61 euros diários ou menos.
As contas das duas entidades indicam ainda que mais de 40% das crianças de todo o mundo viviam com 3,20 dólares (2,71 euros) diários e mais de dois terços sobrevivia com um rendimento inferior a 5,50 dólares (4,66 euros) por dia.
“Só por si, estes números são chocantes. E a escala e a profundidade daquilo que sabemos sobre as dificuldades financeiras provocadas pela pandemia apenas servem para piorar ainda mais a situação”, afirma o diretor de programas da Unicef, Sanjay Wijesekera, no relatório hoje divulgado.
“Os governos precisam urgentemente de um plano de recuperação para evitar que um número inestimável de crianças e das suas famílias atinja níveis de pobreza nunca vistos durante muitos, muitos anos”, apelou.
Apesar de o número de crianças em extrema pobreza ter diminuído em aproximadamente 29 milhões entre 2013 e 2017, o valor deverá ser bastante superior na atualidade, já que as estimativas não consideram o impacto económico da pandemia de Covid-19.
Segundo previsões do Banco Mundial divulgadas no dia 07, o número de pessoas em situação de pobreza extrema no mundo vai aumentar em 150 milhões em 2021 devido à pandemia de Covid-19.
Segundo a instituição, este será o primeiro aumento em mais de 20 anos, já que à pandemia de Covid-19 se associam as alterações climáticas e situações de conflito em vários pontos do globo.
De acordo com esse relatório do Banco Mundial, a pandemia deverá empurrar “mais 88 a 115 milhões de pessoas para a extrema pobreza este ano, com o total a chegar aos 150 milhões em 2021, dependendo da severidade da contração económica”.
Os números “representariam um regresso à taxa de 9,2% em 2017”, e, segundo o Banco Mundial, caso não tivesse existido a pandemia, a taxa deveria baixar para 7,9%.
Os dados divulgados hoje pelo Banco Mundial e pela Unicef referem que a maioria dos países respondeu à crise da pandemia “através da expansão de programas de proteção social, nomeadamente com apoios financeiros”, mas “muitas das respostas são de curto prazo e não são adequadas para responder à dimensão e à recuperação no longo prazo”.
As estimativas apresentadas no relatório de hoje foram compiladas na primavera de 2020 com base no Banco de Dados de Monitoramento Global de pesquisas domiciliares em 149 países.
Elaborado pelo Banco Mundial e pela Unicef (Fundo de Emergência Internacional das Nações Unidas para a Infância), o documento foi divulgado a propósito do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que foi assinalado no domingo passado.
LUSA/HN
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