OMS alerta para interação mórbida entra a diabetes e a Covid-19 em África

12 de Novembro 2020

A Organização Mundial da Saúde (OMS) para África alertou esta quinta-feira para uma “interação mórbida” entre a Covid-19 e as doenças não transmissíveis, sobretudo a diabetes e a hipertensão, que são as principais comorbilidades do novo coronavírus.

Jean-Marie Dangou, o coordenador do programa de gestão das doenças não transmissíveis do comité regional da OMS para a África, falava durante a conferência de imprensa virtual desta organização sobre a Covid-19, hoje dedicada ao impacto da pandemia na saúde no continente.

“Existe uma interação mórbida entre a Covid-19 e as doenças não transmissíveis, sobretudo a diabetes e a hipertensão”, disse o especialista mundial.

E recordou que “a diabetes torna as pessoas mais vulneráveis às infeções em geral”.

Além de os diabéticos correrem mais riscos de serem infetados com o novo coronavírus, podem também mais facilmente contrair a forma mais grave da doença, adiantou.

Por esta razão, alertou para a necessidade dos países africanos – onde existem cerca de 19 milhões de adultos diabéticos – evitarem ruturas nos stocks de medicamentos para esta doença, como a insulina, e defendeu o combate ao sedentarismo e à obesidade – que têm aumentado durante a pandemia -, uma vez que são meio caminho andado para a diabetes.

Jean-Marie Dangou aproveitou para recordar que no próximo sábado se assinala o Dia Mundial da Diabetes, “uma oportunidade” para os países intensificarem a formação de pessoal na prevenção e tratamento da doença e promoverem hábitos saudáveis nas populações.

Neste encontro online com os jornalistas, participou igualmente o coordenador do programa para as doenças evitáveis pela vacinação da OMS África, Richard Mihigo, que fez um balanço das negociações para a aquisição de uma eventual vacina, quando esta surgir, e respetiva distribuição no continente africano.

“Há uma solidariedade mundial para garantir que a vacina esteja disponível e possa ser distribuída, sem deixar ninguém para trás”, disse.

África vai ter acesso às vacinas contra a Covid-19 através do mecanismo COVAX, uma iniciativa conjunta da Aliança Global para as Vacinas (GAVI), da Coligação para a Inovação na Prevenção de Epidemias (CEPI) e da OMS, com o objetivo de adquirir dois mil milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 até ao final de 2021, para depois serem utilizadas em países de baixo e médio rendimento. Até ao momento, o mecanismo conta com a participação de 184 países.

Richard Mihigo defendeu uma campanha de sensibilização da população, para que esta esteja preparada para quando a vacina estiver disponível. Richard Mihigo não prevê grandes dificuldades na aceitação da medida por parte da população africana que, de uma maneira geral, adere às campanhas de vacinação “sem qualquer problema”.

Ainda assim, reconheceu que existe algum receio dos primeiros a serem vacinados sejam “cobaias” para averiguar o sucesso do medicamento, pelo que reiterou a importância de a comunicação social distribuir informação correta sobre a vacina e os mecanismos que existem para assegurar que esta só é administrada quando a sua segurança for comprovada.

O especialista acredita que, a confirmarem-se os cenários mais animadores, uma vacina contra o novo coronavírus poderá começar a ser distribuída no primeiro semestre do próximo ano, chegando a África no segundo semestre.

Esta região registou o primeiro caso de Covid-19 no Egito, em 14 de fevereiro. Desde então, foram contabilizados 1.917.960 infeções e 46.272 mortos.

Ainda assim, e conforme referiu Nsenga Ngoy, responsável do programa de intervenções de urgência da OMS África, são cifras que colocam África no pódio dos continentes com menos casos de Covid-19.

Durante a intervenção que fez nesta conferência online, recordou que até setembro registou-se uma diminuição do número de casos, que estabilizou nessa altura, subindo depois a partir do meio de outubro, nomeadamente no norte de África.

Este aumento, afirmou, estará relacionado com o levantamento de algumas restrições em muitos países.

A pandemia de Covid-19 provocou pelo menos 1.275.113 mortos em mais de 51,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

João Paulo Magalhães: É preciso investir na Prevenção, Organização e Valorização dos Médicos de Saúde Pública

João Paulo Magalhães, Vice-Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, defende para o próximo Governo três prioridades essenciais para a Saúde Pública: reforço da promoção da saúde e prevenção da doença, modernização e clarificação da organização dos serviços de Saúde Pública, e valorização das condições de trabalho e carreira dos médicos de Saúde Pública

AICEP aprovou investimentos de 300 ME em quatro empresas

A Agência para o Comércio Externo de Portugal (AICEP) aprovou um pacote de investimento de mais de 300 milhões de euros, em quatro empresas, criando mais de 1.200 postos de trabalho, adiantou hoje o Governo.

Evoluir o SNS: Reflexão de Luís Filipe Pereira sobre o Futuro da Saúde em Portugal

Luís Filipe Pereira, ex-ministro da Saúde, analisa os desafios estruturais do SNS, destacando a ineficiência do Estado nas funções de prestador, financiador e empregador. Defende a transição para um Sistema de Saúde que integre prestadores públicos, privados e sociais, promovendo eficiência e liberdade de escolha para os utentes.

Doze medidas de Saúde para qualquer novo governo

O Professor António Correia de Campos, Catedrático Jubilado e antigo Ministro da Saúde, aponta doze medidas de Saúde para qualquer novo Governo. Nelas, defende que os programas políticos para as legislativas de 18 de maio devem priorizar a integração das várias redes do sistema de saúde, reforçando a articulação entre hospitais, cuidados primários, cuidados continuados e ERPI. Propõe ainda soluções transitórias para a falta de médicos e aposta na dedicação plena para profissionais do SNS

Eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

Ana Escoval, Professora Catedrática Jubilada da ENSP (NOVA) e vogal da Direção da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, analisa as propostas dos partidos para as legislativas de 18 de maio, destacando a necessidade de inovação, integração de cuidados, racionalização de recursos e reforço da cooperação público-privada como eixos centrais para a transformação e sustentabilidade do SNS

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights