Segundo o relatório sobre a “Eficácia, resistência e resposta aos medicamentos antimaláricos: 10 anos de vigilância (2010-2019)”, que a OMS divulgou esta quinta-feira em Genebra, nos seis países desta sub-região “o número notificado de casos de paludismo diminuiu em 83% de 2012 a 2019”.
Em 2019, prossegue o documento, registaram-se cerca de 27 mortes por paludismo e pouco mais de 10.000 casos notificados nestes seis países.
“O acesso insuficiente ao diagnóstico e tratamento rápidos – e não a resistência aos medicamentos – continua a ser o principal fator de risco de mortes relacionadas com a malária nesta sub-região”, referem os autores do documento.
O diretor do Programa Global da OMS contra o Paludismo, Pedro Alonso, não tem dúvidas: “Os países do Grande Mekong estão a ganhar a batalha contra a malária (P. falciparum)”, uma das espécies do parasita que causa a malária.
“As reduções maciças de doenças e mortes relatadas em toda a sub-região nos últimos anos são uma prova do progresso sustentado que tem sido alcançado ao longo do caminho para a eliminação” da malária, acrescentou.
Para este especialista, “a ameaça de resistência aos medicamentos antimaláricos, que se expande do Grande Mekong para outras áreas afetadas pela malária, foi significativamente reduzida”.
“O que em tempos foi visto como o maior desafio ao controlo global do paludismo foi colocado sob controlo. Os países ainda precisam de percorrer a última milha, mas há espaço para otimismo”, prosseguiu.
O relatório refere que, atualmente, existe terapia combinada à base de artemisina (ACT, sigla em inglês), o tratamento mais eficiente para a malária, disponível capaz de “tratar todas as estirpes de P. falciparum”.
Em alguns países desta região, “a maioria dos parasitas do P. falciparum transportam agora mutações associadas à resistência parcial à artemisina” e “onde a resistência ao medicamento parceiro da ACT também foi identificada, foram reconhecidas elevadas taxas de insucesso nos tratamentos”.
No entanto, “existem ACT’s altamente eficazes para tratar os pacientes”, asseguram os autores do relatório.
“Há provas de que o R561H, um marcador validado de resistência parcial à artemisina, surgiu e está a ser selecionado no Ruanda. Os ACT’s testados no Ruanda permanecem eficazes, o que significa que qualquer impacto imediato para os pacientes é improvável”, lê-se no documento.
Os autores consideram “preocupante” o aparecimento de “parasitas com resistência parcial ao componente central dos medicamentos utilizados para tratar milhões em toda a África”.
Nos países por onde passa o rio Mekong, “é provável que a resistência parcial à artemisina tenha estado envolvida na propagação da resistência aos fármacos parceiros”.
“Vale a pena notar que a China foi capaz de eliminar a malária apesar da presença de parasitas da malária parcialmente resistentes às artemisinas, e que estão a ser feitos grandes progressos no sentido da eliminação nos países do Grande Mekong”, refere o relatório.
Para elaborarem este documento, os peritos da OMS basearam-se em dados recolhidos através de mais de 1.000 estudos de eficácia terapêutica, bem como em estudos de marcadores moleculares de resistência aos medicamentos durante um período de 10 anos (2000-2019).
“Embora a resistência aos medicamentos continue a ser motivo de preocupação, todas as estirpes de malária P. falciparum em todo o mundo podem atualmente ser tratadas com pelo menos duas” terapias ACT.
Desde 2008, “quando a resistência à artemisina foi notificada pela primeira vez na sub-região do Grande Mekong, tem havido um grande declínio na taxa de casos de malária e mortes”.
Os autores referem ainda que “as consequências da malária resistente aos medicamentos em África são hoje provavelmente menos graves do que as observadas com a cloroquina nos anos 80”.
“Quando a resistência à cloroquina emergiu na África, nos anos 80, o controlo do paludismo em todo o continente foi muito limitado. Menos de um por cento da população dormia sob um mosquiteiro tratado com inseticida (ITN)”, recordam os especialistas da OMS.
Desde então, “o panorama do paludismo mudou drasticamente”, garantem.
“Com a implementação maciça de um controlo vetorial eficaz, a quimioprevenção para proteger os mais vulneráveis, o reforço da gestão de casos através de diagnósticos e terapias combinadas, melhorias nos sistemas de saúde e um maior controlo da eficácia dos medicamentos, os países de toda a África estão hoje em muito melhor posição para combater a resistência aos medicamentos antimaláricos, caso sejam confrontados” com a doença.
LUSA/HN
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