“Já fecharam muitos restaurantes em Ovar e a situação está cada vez pior [devido à pandemia de Covid-19]. Noutros concelhos houve medidas para apoiar os restaurantes e o comércio, mas aqui o desinteresse é total e o que estas reuniões mostraram é que há muita gente magoada com a Câmara por nunca ninguém os ter contactado sequer para saber como estão, como estava a correr o negócio, se precisavam de alguma ajuda”, afirmou à Lusa Johnny Carrabau, um dos porta-vozes desse movimento.
Para o empresário, proprietário de um bar que foi inaugurado no final de 2019 após um investimento de 200.000 euros e que, entretanto, devido à pandemia, funcionou três meses “a meio-gás” e esteve seis completamente encerrado, “mais do que dinheiro [em ajudas], do que as pessoas se ressentem é da falta de apoio moral”.
Acrescentando que as gerências do setor “nunca foram ouvidas” e que “ninguém veio falar com elas nem por via oficial nem de modo informal”, o mesmo responsável não dispensa, contudo, eventuais subsídios e outros mecanismos de apoio.
“Já temos um buraco tão grande para tapar que não vai haver milagres, mas precisamos de apoios locais e do Estado para sobreviver e temos que ter perspetivas de longo prazo”, referiu.
Bruno Rilho, do restaurante “Quatro Sentidos”, diz que isentar de taxas camarárias as esplanadas, os reclamos luminosos e a recolha de resíduos em faturas da água de consumo inferior a sete metros cúbicos tem sido claramente insuficiente.
“O comércio de Ovar, na generalidade, já estava mal há muitos anos, mas, com a Covid-19, ficou ainda muito pior, sem que houvesse uma única pessoa da Câmara que nos entrasse pelo estabelecimento a perguntar nada”, argumentou.
Pedro Machado, do restaurante “A Toca”, reconhece que outros municípios da região vêm reagindo melhor à crise e, também nesse aspeto, culpa a postura da autarquia: “Anunciarem com tanto detalhe os números de casos ativos e a distribuição de infetados por freguesia tem o lado negativo de assustar quem não é de Ovar – as pessoas acham que está tudo doente e não vêm cá”.
Sobre a empresa de consultoria que custou 8.000 euros à autarquia para ajudar os empresários locais a candidatarem-se a apoios do Estado durante a pandemia, o mesmo gestor diz que esse dinheiro seria mais bem empregue noutra área. “Essa empresa não faz sentido nenhum, nunca nos contactou e nem sequer tem um número de telefone”, realçou.
“Além disso, todos nós temos os nossos próprios contabilistas para tratarem das candidaturas e continuamos a dar-lhes trabalho”, complementou Johnny Carrabau.
A lista de reivindicações que os empresários de restaurantes, bares, cafés e similares de Ovar vão esta quinta-feira apresentar à Câmara, em documento a que a Lusa teve acesso, apela não apenas ao executivo municipal, mas também às “juntas de freguesia e partidos políticos”.
Entre as medidas sugeridas para colmatar a “situação de extrema dificuldade financeira” em que se encontram os empresários locais do setor incluem-se três de caráter imediato e outras tantas de aplicação a médio prazo.
O setor começa por pedir “apoio no pagamento das taxas de resíduos sólidos, água, luz e renda”, explicando o documento que grande parte dos bares encerrados “pagam mais de 40 euros de água e resíduos sólidos, e mais de 40 euros em luz sem sequer terem qualquer consumo desses serviços, ao que acresce o pagamento da renda sem poderem tirar partido do respetivo espaço”.
Os empresários querem ainda que os seus clientes beneficiem de “isenção no pagamento dos parquímetros” e que a Câmara ajude a suportar “as despesas dos estabelecimentos comerciais nas entregas [de alimentação] ao domicílio”.
Já quanto a medidas de futuro próximo, os signatários do documento defendem que a Câmara deverá “canalizar para apoios ao setor comercial os excedentes orçamentais destinados à iluminação de Natal, de Carnaval e do [evento] FESTA”, e ainda “isentar os empresários do setor das taxas de ocupação pública das esplanadas, toldos, reclames publicitários ao longo de 2021” e não apenas em 2020. Querem igualmente que seja tornado público o resultado do estudo que “a Câmara mandatou a uma entidade externa de consultadoria”.
O documento insiste que a situação é de “extrema gravidade e afeta inúmeras famílias do município”, pelo que os subscritores concluem: “Necessitamos de soluções e não de intenções”.
A pandemia de Covid-19 já provocou mais de 1,4 milhões de mortos no mundo desde dezembro do ano passado, incluindo 4.645 em Portugal.
LUSA/HN
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