No âmbito das discussões com as autoridades francesas, o Governo britânico avançou hoje que está a considerar testar os camionistas que se encontram parados e retidos à espera da reabertura da fronteira do túnel do Canal da Mancha.
O rastreio nos portos “faz absolutamente parte da discussão” e “estamos a considerar tudo”, declarou a ministra do Interior britânica, Priti Patel, em declarações ao canal de notícias Sky News.
No domingo à noite, as autoridades francesas decidiram suspender por um período de 48 horas todas as chegadas provenientes do Reino Unido, após a identificação naquele país de uma nova estirpe do coronavírus SARS-CoV-2, apresentada como mais contagiosa, que ditou um terceiro confinamento em Londres e em partes da região sudeste de Inglaterra.
Desde então, Paris e Londres têm estado em contacto e as discussões vão prosseguir esta terça-feira para permitir o reinício do tráfego.
“Estamos em conversações com os nossos homólogos franceses” e “vamos encontrar uma solução”, assegurou a ministra do Interior britânica.
Segundo Priti Patel, um total de 1.523 camiões estavam hoje retidos no condado de Kent, no sudeste de Inglaterra, onde estão localizados os principais portos para atravessar o Canal da Mancha em direção ao território francês.
A ministra britânica precisou que 650 camiões estão parados na principal autoestrada entre Londres e o porto de Dover, enquanto outros 873 camiões foram redirecionados e estão estacionados no aeroporto de Manston, que se encontra desativado.
“É do interesse dos dois países (…) assegurar que exista fluxo e, é claro, há camionistas europeus que querem voltar para casa”, afirmou Priti Patel em declarações desta vez à emissora pública BBC Radio, reforçando que o Governo britânico se encontra em “conversações constantes” com França para alcançar uma resolução rápida para a atual situação.
Numa conferência de imprensa realizada na segunda-feira, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que tinha discutido a situação com o Presidente francês, Emmanuel Macron, e que na conversa ficou acordado, segundo o político britânico, uma potencial “resolução nas próximas horas”.
Boris Johnson, que tem sido criticado pela forma como tem lidado com a pandemia da doença Covid-19 no território britânico, que já matou mais de 67 mil pessoas no Reino Unido, argumentou na mesma ocasião que os riscos de transmissão através dos camionistas são “realmente muito baixos”.
De acordo com os dados britânicos apresentados à Organização Mundial da Saúde (OMS), a transmissibilidade desta nova variante do SARS-CoV-2 será superior entre 40% a 70%.
Os cientistas britânicos que aconselham o Governo observaram, entretanto, que esta mutação do novo coronavírus tem uma maior transmissibilidade junto das crianças em comparação com outras estirpes já identificadas e estão a trabalhar nesta hipótese para explicar o elevado nível de contágio da nova variante.
Na sequência da identificação desta nova variante, diversos países, dentro e fora da Europa, decidiram suspender as ligações, nomeadamente aéreas, com o Reino Unido.
Perante esta situação, o Reino Unido corre o risco de enfrentar uma escassez de produtos, nomeadamente frescos como frutas e legumes, em plena época festiva.
Após uma reunião ao nível dos embaixadores dos 27, a Comissão Europeia recomendou hoje aos Estados-membros que estabeleçam de forma coordenada as restrições de viagens com o Reino Unido, preservando as ligações essenciais e as cadeias de fornecimento.
“Embora seja importante tomar rapidamente medidas preventivas temporárias para limitar a propagação da nova estirpe do vírus e todas as viagens não essenciais de e para o Reino Unido devam ser desencorajadas, as viagens essenciais e o trânsito de passageiros devem ser facilitados. As proibições de voos e ligações ferroviárias devem ser suspensas, dada a necessidade de assegurar viagens essenciais e evitar ruturas na cadeia de abastecimento”, defende Bruxelas.
A pandemia da doença Covid-19 já provocou pelo menos 1.703.500 mortos resultantes de mais de 77,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus (SARS-CoV-2) detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
LUSA/HN
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