Em declarações à Lusa, o professor auxiliar do Departamento de Estudos Políticos da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa assinalou o facto inédito de realizar uma eleição a meio de uma epidemia, pelo que também é difícil fazer avaliações, mesmo com base nos estudos de comportamento eleitoral feitos em Portugal e noutros países.
A “instabilidade e a incerteza acabam sempre por baralhar os alinhamentos eleitorais tradicionais clássicos”, disse o investigador formado em ciências políticas pela Universidade de Florença e autor do livro “Eleições – Campanhas eleitorais e decisão de voto em Portugal”, publicado em 2019 pela Edições Sílabo.
A pandemia, disse ainda, é “um fenómeno geral” e “não afeta da mesma maneira todas as pessoas”, havendo preocupações diferentes, sociais, económicas, como o desemprego, ou os efeitos da pandemia na saúde.
No seu livro, Lisi concluiu que o comportamento do eleitor português está muito marcado, além de factores ideológicos e sócio económicos, pelos denominados “factores de curto prazo”, como a imagem dos líderes partidários, os temas de campanha, onde a economia, “votar com a carteira”, tem ainda muito peso.
E o caso das presidenciais, como aconteceu em 2016, são eleições em que há “mais volatilidade, mais liberdade de voto” para os eleitores escolherem “além das suas preferências ideológicas ou partidárias”.
A pré-campanha, segundo afirmou, foi “pouco mobilizadora”, muito centrada na pandemia, no estado de emergência e em temas da agenda política diária, sobre opções ou “casos” no Governo, como o do procurador europeu – o investigador responsabiliza os jornalistas por isso –, ignorando-se questões próprias do cargo de Presidente, como reformas no sistema eleitoral ou as reformas políticas necessárias ao país.
“Atípica” é como Lisi descreve a pré-campanha eleitoral, a começar pelo facto de ser feita essencialmente através “on-line”, com debates nas televisões, mas também nas redes sociais.
“Nunca houve uma campanha feita exclusivamente através desses meios”, afirmou, sublinhando que, sem “o contato pessoal presencial, face a face” do candidato com os eleitores, esta fórmula “não incentiva a mobilização”.
E para o dia das eleições, “eventualmente, se as coisas se mantiverem críticas, na difusão do vírus, isso pode levar muitas pessoas a não irem votar”, disse, dando o exemplo, em especial, das pessoas mais idosas, que “têm mais dificuldade ou receio em deslocar-se”.
As eleições presidenciais, que se realizam em plena epidemia de covid-19 em Portugal, estão marcadas para 24 de janeiro e esta é a 10.ª vez que os portugueses são chamados a escolher o Presidente da República em democracia, desde 1976.
A campanha eleitoral decorre entre hoje e 22 de janeiro.
Concorrem às eleições sete candidatos, Marisa Matias (apoiada pelo Bloco de Esquerda), Marcelo Rebelo de Sousa (PSD e CDS/PP) Tiago Mayan Gonçalves (Iniciativa Liberal), André Ventura (Chega), Vitorino Silva, mais conhecido por Tino de Rans, João Ferreira (PCP e PEV) e a militante do PS Ana Gomes (PAN e Livre).
LUSA/HN
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