Adelino Gomes: “A maior dificuldade tem sido fazer perceber as pessoas de que a situação é grave e que acontece a todos”

02/03/2021
A propósito dos apoios prestados a lares e à população do concelho de Constância por tarde dos bombeiros, profissionais e técnicos de saúde, o Presidente dos bombeiros voluntários de Constância admite que a maior dificuldade das equipas é sensibilizar as pessoas para crise sanitária. Em entrevista à HealthNews Adelino Gomes lança criticas ao Governo e diz que "os bombeiros deveriam ter sido os primeiros a ser vacinados", lembrando que "também fazem parte da linha da frente". 

A Associação humanitária dos bombeiros voluntários de Constância desenvolveu vários projetos de apoio à população e instituições do concelho durante a pandemia. Que tipo de apoios são prestados?

Com o apoio do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) definimos dois projetos separados. Um deles formado por equipas técnicas – enfermeiros, psicólogos, fisioterapeutas e auxiliares de geriatria – que trabalha nos lares do concelho. Esta equipa prestou também apoio à Santa Casa da Misericórdias, às autarquias e à população em geral. 

No caso da Santa Casa da Misericórdia da Constâncias os técnicos trabalharam lá durante algum tempo para garantir a sua segurança e conseguiram-no. 

Os projetos tinham duração de três meses e, portanto, alguns, foram terminando. Alguns técnicos saíram e ficaram outros. De qualquer forma no início de janeiro renovámos os projetos com alguns mais gente na área da geriatria para prestar apoios aos lares.

Falou em dois projetos. No que consistia o segundo projeto?

O segundo funciona à base de bombeiros, técnicos socorristas e motoristas para acompanhar todos os doentes e suspeitos. Temos duas ambulâncias dedicadas apenas a este tipo de serviço. Somos os únicos do distrito de Santarém que estão a transportar doentes infetados em hemodiálise às clínicas de Lisboa.

E como olha para a alteração feita ao Plano Nacional de Vacinação Contra a Covid-19 que passou a incluir bombeiros nos grupos prioritários?

Olho para esta decisão como tardia. Os bombeiros e o INEM deveriam ter sido os primeiros a ser vacinados por uma razão simples: são os primeiros que têm o contacto com estes doentes. Os bombeiros nunca sabem se são ou infetados. A falta desta medida obrigou a que no caso da Associação humanitária dos bombeiros voluntários de Constância fizesse um investimento muito grande em termos de equipamentos. Obrigou-nos a comprar alguns equipamentos para garantir que as nossas ambulâncias estavam sempre desinfetados e preparadas para poder realizar o transporte dos doentes. 

O Estado deveria ter pensado seriamente logo no início, quando começou a vacinar os médicos e enfermeiros, também nos nossos bombeiros. Estes homens também fazem parte da primeira linha. Basta olharmos para aquilo que aconteceu [na semana passada] no Hospital Amadora-Sintra em que foram muitas ambulâncias dos bombeiros a fazer o transporte dos doentes. Isso revela que os bombeiros precisam urgentemente de ser vacinados. 

Portanto, penso que a decisão é excelente, mas peca por tardia. 

Falando sobre os esforços dos profissionais. Quais as principais dificuldades que as equipas do projeto têm enfrentado? 

Muitas vezes as próprias instituições tentam esconder algumas situações, outras vezes são os próprios funcionários que acham nunca lhes acontece nada e que é sempre aos outros. Os nossos elementos que estão no terreno têm tido sempre muito essa preocupação de sensibilização para proteger os funcionários. 

A maior dificuldade tem sido fazer perceber as pessoas de que a situação é grave e que acontece a todos, não é só aos outros. 

Qual é o balanço que faz do projeto? 

Faço um balanço muito positivo. Enquanto os nossos elementos estiveram nos lares e na Santa Casa da Misericórdia nós não tivemos um único caso de Covid-19. 

Preocupa-nos assistir ao agravamento da situação no nosso concelho. A partir de dezembro a situação piorou, complicou-se e o passámos da lista branca/amarela para a lista vermelha. Isto revela que cada vez mais é preciso estar no terreno e fazer algum planeamento para evitar isto. 

Entrevista por Vaishaly Camões

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