Apesar de, para muitos, a imagem mais comum do Algarve continuar a ser o sol e a praia, são os campos de golfe que no final do inverno “abrem” a época turística da região, atraindo milhares de golfistas, sobretudo britânicos, para umas partidas no clima ameno do sul da Europa.
De há uns anos para cá este tem sido o motor que anima o tipicamente sazonal turismo algarvio durante a época baixa, mas a pandemia está a provocar um verdadeiro “desastre” no setor, já que os praticantes estão impedidos de jogar.
“No Algarve estamos muito mal, porque vive só do turista golfista, são muito poucos os residentes que jogam golfe na região. Só nos primeiros três meses de 2021 são mais de 300 mil voltas de golfe que não se jogaram. É um desastre”, lamenta o administrador do Grupo Pestana para o golfe.
Em declarações à Lusa, José Matias recorda que são já “duas épocas altas do golfe sem turistas”, uma vez que em outubro do ano passado, a outra altura do ano em que os campos de golfe ficam cheios no Algarve, “também houve confinamento”.
Os cinco campos de golfe que o grupo gere na região representam 60 mil voltas não realizadas em 2021, o que equivale a perdas de dois milhões de euros, sublinha o também presidente da associação Algarve Golfe.
“O nosso agosto é agora. A época alta do golfe é no inverno, estamos na nossa época altíssima”, realça, estranhando que, com os casos a baixar na região, a modalidade “não possa ser praticada”, como “já acontece na Madeira”.
“O golfe é jogado por pessoas individuais, em campo aberto, não divide nada com o outro jogador, nem a bola, nem os tacos de golfe. Por isso, não se compreende que nós estejamos fechados e outras atividades estejam abertas”, refere.
Muitos dos residentes dos empreendimentos de golfe são estrangeiros que compraram casa para praticar a modalidade e estão “fechados em casa”, apenas podendo fazer caminhadas nos campos, como é o caso de um residente holandês que se aproxima da reportagem da Lusa para perguntar a José Matias quando poderá jogar. Mas a resposta é vaga: “Talvez a depois da Páscoa”.
Aquele responsável revela que continuam a “receber e a reagendar reservas” de ingleses, irlandês, escoceses alemães e suecos, que estão “desejosos de vir jogar golfe para o Algarve”, sublinha.
Mais perto do mar, o desalento é semelhante, com algumas empresas marítimo-turísticas em “situação muito crítica”, depois de um verão “muito curto”, sem o mercado britânico que lhe permitiria arrecadar receita para a “travessia no deserto” no inverno, aponta Carlos Viegas.
“Há empresas, neste momento, que estão com embarcações à venda, a passar dificuldades e os apoios também não são suficientes”, realça o empresário, que pertence à direção da Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos (APECATE).
A esperança agora é que o “passaporte da vacinação” possa permitir abrir os corredores aéreos e justificar a retoma da atividade, afirma, avisando que este verão “vai ser muito curto”.
Com as moratórias aos créditos a terminarem em setembro, Carlos Viegas receia que muitas empresas “não consigam aguentar” mais um inverno, depois de em 2020 apenas terem conseguiram começar a operar em julho.
Um outro empresário do setor relata à Lusa que “há muitas famílias” a viverem de seis meses de trabalho, mas que têm de fazer face aos custos quando “estão parados”, o que não se consegue com apenas “um mês ou um mês e meio de trabalho”.
No entanto, ainda tem alguma esperança para este verão: “[O] Reino Unido aqui para nós é o mundo, é tudo. Se abrirem [os corredores aéreos] e tivermos umas expectativas boas e nada de pandemias e confinamentos, eu penso que teremos um bom verão”, estima Pedro Gregório.
Já na área da restauração, o otimismo não reina e um passeio pelas ruas de Albufeira nos últimos dias de março revela uma cidade despida da habitual animação que muitos dos turistas britânicos trazem nesta altura do ano àquela que é apelidada de “a capital do turismo” no Algarve.
Na Praia da Oura, principal zona de animação da cidade, um dos bares de apoio de praia é alvo de manutenção, mas previsões para abertura, para já, “não há” e está tudo dependente da “abertura dos corredores aéreos”, diz à Lusa o proprietário.
“Estou a fazer manutenção. Não sei quando vou abrir e se não houver turismo não vale a pena abrir, porque no ano passado tive de pagar a 38 empregados durante três meses como se estivessem a trabalhar e eles em casa”, assume Jorge Brito.
O empresário revela que “nesta altura” – março e abril – as despedidas de solteiro de ingleses costumam ser uma “importante fonte de rendimento” e que chegavam a significar “mais lucro que em julho ou em agosto”.
Previsões para o verão não faz, já que na Praia da Oura, “90% da clientela é britânica”, e tudo depende da abertura, ou não, dos corredores aéreos com Portugal.
LUSA/HN
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