Para dar resposta aos milhares de doentes com Covid-19, mas também aos outros doentes, o Hospital Santa Maria foi obrigado a fazer várias transformações nos serviços, a apostar no apetrechamento das estruturas, o que representou um investimento de quase 10 milhões de euros, disse em entrevista à agência Lusa o presidente do Centro Hospitalar Lisboa Norte (CHULN).
“A pandemia [que se iniciou em março de 2020] deu-nos uma experiência enorme em relação a essa capacidade operacional, porque tivemos que adaptar e abrir num curto espaço de tempo cerca de 15 enfermarias e cinco unidades de cuidados intensivos”, salientou Daniel Ferro.
Hoje, o hospital tem essa experiência de que se precisar de uma unidade de cuidados intensivos o tempo mínimo que precisa para a montar são três a quatro dias e no caso de uma nova enfermaria 24 a 48 horas.
“Isto é a experiência de quem passou por um plano intenso de ativação de enfermarias e de cuidados intensivos e também a experiência dos nossos profissionais”, salientou Daniel Ferro.
Houve uma redefinição dos circuitos, reconstituição das equipas, instalação de equipamentos e “toda essa experiência acumulada” dá hoje “uma confiança neste estado de prontidão para prazos muito, muito, muito curtos de instalação”.
“Hoje, o hospital tem um estado de prontidão bastante maior do que tinha graças à sua capacidade de adaptação e esta foi no fundo a grande lição que nós tirámos desta pandemia”, salientou.
Outra grande lição, referiu, os profissionais poderem vir a ser chamados para prestarem funções em outras áreas diferentes do seu trabalho normal, “o que deu às equipas uma maior flexibilidade funcional”.
Todas estas mudanças representaram gastos “muito elevados”, mas, segundo Daniel Ferro, “ficou esse património, esses espaços e essas unidades” que podem voltar a ser necessários.
Sublinhou ainda que este “gasto significativo” terá que ser gerido ao longo do tempo para não afetar no futuro o normal funcionamento do CHULN, que integra os hospitais Santa Maria e Pulido Valente.
Relativamente à urgência dedicada à Covid-19, instalada em frente ao Serviço de Urgência Central, Daniel Ferro afirmou que “é uma estrutura com grande capacidade”, onde estão instalados 53 postos de trabalho e por onde passaram cerca de 30 mil doentes.
Apesar de ter agora níveis residuais de atendimento, “é uma linha de atendimento enorme” que só deverá ser desmantelada quando houver a “segurança de que não haverá regressão deste fenómeno”.
“Já se consegue ver a luz ao fundo do túnel é verdade, mas ainda assim há que manter o estado de prontidão para qualquer retrocesso que possa existir, mesmo que não seja a níveis tão intensos, é uma estrutura que do ponto de vista da prevenção, da cautela, devemos manter em prontidão por mais algum tempo”, defendeu.
No espaço de um ano, também passaram pelos cuidados intensivos mais de 500 doentes com “níveis de gravidade intensa (90% ventilados)”, dos quais 80% sobreviveram, “um indicador de qualidade muito bom em qualquer parte do mundo”.
Quanto aos atendimentos e internamentos por Covid-19, Daniel Ferro disse que estão a um nível assistencial “muito baixo” semelhante ao início da segunda semana de março 2020.
“Temos um número muito residual de pessoas internadas e o número de pessoas também tratadas em urgência é semelhante”, o que permite relançar a atividade normal para níveis anteriores à pandemia ou superiores, como está a acontecer, por exemplo, na área cirúrgica.
Daniel Ferro espera recuperar num espaço de tempo mais curto do que se pensava toda a atividade cirúrgica que “ficou um pouco adiada por virtude da mobilização de meios para assistência à covid”, bem como as consultas.
“As pessoas hoje têm uma consulta em menos tempo, são chamadas para as prioridades clínicas também em menos tempo, portanto, estamos confortáveis porque temos hoje níveis de acessibilidade melhores do que aqueles que existiam antes da pandemia”, destacou.
Para o presidente do CHULN, “os serviços de saúde saem mais fortes desta pandemia, porque deram prova de que ao trabalhar no limite foi dada uma resposta de um bom Serviço Nacional de Saúde e isso hoje deve ser valorizado pela população”, considerou.
“São lições positivas que nós tiramos da pandemia e que hoje nos faz sentir com mais confiança, mais confortáveis porque sabemos que estamos melhor preparados”, rematou.
LUSA/HN
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