Pneumologista defende que doentes internados devem ser estudados para se perceber variantes

16 de Junho 2021

O pneumologista António Diniz defendeu esta quarta-feira que é preciso estudar todas as pessoas que estão internadas, nomeadamente as que já foram vacinadas contra a Covid-19, para perceber que variantes estão em causa e que vacina tomaram.

“O Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos tem dito repetidamente que tem de se estudar todas as pessoas que estão internadas para perceber exatamente que variante está em causa”, disse António Diniz em entrevista à agência Lusa.

Segundo António Diniz, o aparecimento de uma nova variante, a Delta, associada à Índia, vem perturbar o processo normal de vacinação que estava a decorrer e “vem obrigar a repensar o jogo” porque é uma estirpe “mais resistente” às vacinas e mais transmissível.

Esta situação pode explicar a subida dos contágios, principalmente na região de Lisboa e Vale do Tejo, e o facto de haver pessoas vacinadas que estão a ser novamente infetadas pelo coronavírus SARS-CoV-2.

O membro do Gabinete de Crise da OM recordou um estudo divulgado em maio pelo Public Health England (PHE) no Reino Unido que comparou a variante Delta e a Alpha, associada à Inglaterra, em relação às duas vacinas que utilizam, AstraZeneca e Pfizer.

Quando administraram apenas uma dose destas vacinas concluíram que a sua eficácia na variante Delta era de 30% relativamente à variante Alpha.

No caso da vacinação com as duas doses, verificou-se que a vacina da Pfizer foi 88% eficaz contra a variante Delta (93% na variante inglesa), enquanto a da AstraZeneca foi 60% eficaz (66% na Alpha).

“A verdade é que quando temos uma vacina que apenas protege em 60% não nos sentimos muito confortáveis com esse resultado e, portanto, isso pode explicar também um dos problemas que esta nova variante Delta vem colocar”, salientou.

A comissária europeia para a Saúde disse na terça-feira que estão a surgir provas que demonstram que a variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2 “diminui a força do escudo protetor” criado pelas vacinas, instando à aceleração da vacinação completa da população.

“Têm surgido provas de que as variantes – nomeadamente a variante Delta – diminuem a força do escudo protetor fornecido pelas vacinas, especialmente quando a vacinação ainda não é completa. É, portanto, crucial que o maior número possível de cidadãos seja vacinado contra a Covid-19, e que seja totalmente vacinado o mais rapidamente possível”, disse Stella Kyriakides.

Para António Dinis, há vários fatores que podem ser repensados, avançando que “um deles já está atualmente aceite que é de quem fez uma primeira dose da vacina da AstraZeneca fazer uma segunda dose com uma vacina por RNA mensageiro como, por exemplo, a da Pfizer”.

“Não só se ganharia alguma coisa em termos de capacidade face a esta variante Delta como se ganhava também em termos de tempo”, porque o espaçamento entre doses é de quatro semanas no caso da Pfizer e de três meses na vacina da AstraZenena.

Contudo, salientou, “até agora, a evolução na frequência dos casos não se tem refletido da mesma forma, com igual intensidade, nos internamentos”.

No entanto, esta situação levanta um problema nos serviços de saúde que estavam numa fase em que tinham recuperado a sua atividade normal.

“Ter que estar a abrir novamente outras enfermarias para internamento de pessoas com covid-19, inevitavelmente torna-se numa situação penosa, sobretudo, pela desorganização que vai induzir nos serviços”, lamentou.

Esta situação, sustentou, vai traduzir-se novamente, “em menor atenção” a outras áreas igualmente importantes e que “estão particularmente carenciadas”, nomeadamente os doentes não-covid.

Apontou ainda “outro problema” que pode levantar algumas questões localmente: “Enquanto estávamos em estado de emergência não houve saída de pessoas no Serviço Nacional de Saúde (…) mas agora há vários hospitais onde, com a cessação dessa situação, as pessoas já abandonaram o SNS, o que se vai traduzir na necessidade eventualmente de um reforço nalguns locais”.

António Diniz defendeu também que as “linhas vermelhas” traçadas para o processo de desconfinamento têm de ser repensadas para perceber se precisam de “algum ajuste”, porque agora “a situação é inversa”.

“A linha vermelha traduz o limite a partir da qual se terá de proceder a alterações profundas” e, por isso, defendeu, deviam ser criadas “linhas intermédias” que dissessem “mais sobre a tendência evolutiva” para possibilitar uma “maior elasticidade” e evitar chegar à “linha vermelha”.

O Gabinete de Crise também tem defendido uma mudança na matriz de risco por considerar está “desajustada” em relação à realidade atual.

“A realidade que temos é diferente (…) e, portanto, essa matriz deve contemplar não só a incidência, mas também a gravidade e outros fatores”, como os internamentos, as características da nova variante, porque senão corre-se o risco de “cometer erros por excesso, provavelmente”, advertiu.

Para António Diniz, são esses fatores que vão dar o balanço para se perceber se se pode ou não “abrir mais a sociedade”.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

DGS Define Procedimentos para Nomeação de Autoridades de Saúde

A Direção-Geral da Saúde (DGS) emitiu uma orientação que estabelece procedimentos uniformes e centralizados para a nomeação de autoridades de saúde. Esta orientação é aplicável às Unidades Locais de Saúde (ULS) e aos Delegados de Saúde Regionais (DSR) e visa organizar de forma eficiente o processo de designação das autoridades de saúde, conforme estipulado no Decreto-Lei n.º 82/2009.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights