HealthNews (HN)- Dois farmacêuticos dinamarqueses juntaram o seu conhecimento e o interesse em desenvolver novas soluções terapêuticas na área da dermatologia e trombose e criaram laboratório, hoje conhecido como, Leo Pharma. Como olha para esta nomeação como novo diretor-geral da Leo Pharma Ibéria e qual será o seu papel neste novo projeto?
Nuno Brás (NB)- O meu papel como diretor-geral, que começou agora no princípio deste ano, será, acima de tudo, consolidar uma história de sucesso de Portugal e Espanha e preparar uma mudança necessária que traçamos para 2030. Esta estratégia introduz profundas alterações na forma de estar na companhia, com a introdução de mais inovação, de mais proximidade com o doente, com o médico e com as sociedades científicas.
A Leo Pharma é uma companhia que até 2030 quer crescer substancialmente a sua faturação, quer estar presente em dez indicações diferentes na área da dermatologia e quer, no fundo, ser líder da dermatologia médica. Isto não se faz do dia para a noite. Não se faz só com os produtos. É algo que se faz com os produtos e com os doentes e a minha função como diretor-geral da Leo Pharma Ibéria é desenvolver as competências a nível local para que possamos alcançar estas metas.
HN- De acordo com informações divulgadas pela farmacêutica em 2020 mais de noventa milhões de pessoas em todo o mundo beneficiaram dos vossos tratamentos. A que atribui a obtenção destes resultados?
NB- Estes resultados são, de facto, muito bons. Isto para mim tem duas explicações: existe uma grande necessidade médica em doenças da pele e houve uma coragem da Leo Pharma em focar-se num grupo de patologias nem sempre muito atrativas do ponto de vista comercial. No entanto, hoje em dia, somos uma referência de arsenal terapêutico dos dermatologistas e, por isso, chegamos a tantos doentes.
HN- O foco no doente, a inovação e a adaptabilidade são alguns dos valores que, segundo o laboratório, melhor representam a companhia. Que soluções inovadoras têm em pipeline e para que áreas?
NB- Há muitos anos que nos colocamos na pele do doente e estamos centrados no desenvolvimento de soluções médicas. É uma história que começou desde os tempos do Fucidine, o medicamento mais conhecido do laboratório, mas esse foi apenas o princípio. Depois disso, fomos pioneiros numa doença muito complicada como é a psoríase. Hoje em dia, somos uma empresa que consegue tratar todas as severidades diferentes da doença a partir de produtos tópicos (cremes, pomadas, gel e espuma) e de produtos biológicos (que são produtos injetáveis para os doentes mais graves).
Entrámos, também, em doenças como a dermatite atópica moderada a grave com um medicamento biológico. Isto é muito importante, uma vez que esta patologia tem uma prevalência crescente e que em Portugal tem um impacto económico que equivale a mil e quatrocentos milhões de euros por ano. É uma doença para a qual existe, ainda, uma oferta de medicamentos muito limitada.
Para a dermatite atópica e para a psoríase temos a capacidade de abranger todo o espetro de doentes. Somos a única companhia farmacêutica que pode dizer que abarca estas patologias em todas as suas gravidades.
HN- Significa que a Leo Pharma está a apostar no desenvolvimento de novos medicamentos para doentes com quadro clínico grave?
NB- Exatamente. O medicamento que temos neste momento, numa fase já avançada de desenvolvimento, já teve parecer positivo do Comité dos Medicamentos de Uso Humano (CHMP), da Comissão Europeia. Esperamos a qualquer momento ter a aprovação final por parte da Agência Europeia do Medicamento. É um produto biológico que visa o tratamento de doentes moderados a graves com dermatite atópica.
Estamos, também, a desenvolver produtos inovadores para o eczema das mãos que é outra doença que tem alto impacto social e laboral entre os portugueses. Portanto, atuamos sempre em necessidades médicas não resolvidas dos doentes em todo o espetro de doenças dermatológicas, incluindo doenças raras.
HN- E que tipo de soluções inovadoras estão a ser feitas no âmbito das doenças raras?
NB- A Leo Pharma criou uma unidade de investigação dedicada a estas doenças. Sabe-se que existem muitos doentes que sofrem destas patologias. Embora as doenças sejam raras, os doentes não são raros. Existem é muitas pequenas doenças que no conjunto fazem muitos doentes de doenças raras. Estes doentes merecem uma atenção especial por parte da Leo Pharma no que diz respeito a doenças dermatológicas graves.
HN- Quais os principais desafios que as pessoas com doenças de pele crónica enfrentam no seu dia a dia?
NB- Não podemos posicionar todos os doentes na mesma classificação. No entanto, as doenças de pele têm uma característica que as distingue de todas as outras – a questão visual. Por um lado, tem uma vantagem, uma vez que os médicos podem detetá-las mais facilmente. Por outro lado, as doenças de pele induzem na pessoa uma estigmatização social e uma falta de capacidade de relacionamento. Temos muitos relatos de doentes que são vedados de entrar numa piscina, de ir a uma praia e de até utilizar manga curta. São fatores que afetam o dia a dia dos doentes.
Para além do sofrimento psicológico há o sofrimento físico. Os doentes sofrem de comichão, ardor, dor e feridas.
HN- Evidências científicas alertam para o elevado risco de comorbilidades psicológicas em pessoas que vivem com doenças de pele. Em que medida o desenvolvimento de terapêuticas inovadoras contribui para melhorar a qualidade de vida dos doentes?
NB- Estas doenças apesar de terem manifestações cutâneas são doenças sistémicas. Temos que olhar para os doentes de forma holística. É muito comum os doentes com psoríase terem depressões profundas.
Há que entender que quando atuamos numa doença como estas, não estamos apenas a resolver o problema de pele, estamos a resolver a qualidade de vida. Portanto, cada vez que somos capazes de proporcionar aos doentes um dia livre da doença é um dia menos que este se considera a ele próprio como doente. Este é o impacto mais positivo.
Tratar a psoríase é tratar holisticamente o doente.
HN- A Leo Pharma desenvolveu uma plataforma que convida investigadores a partilharem moléculas que estejam desenvolvidas na área da dermatologia. Qual o impacto da iniciativa na aproximação com a comunidade científica a nível mundial?
NB- É um portal onde podem chegar, dos quatro cantos do mundo, propostas de moléculas que estejam ser desenvolvidas por investigadores particulares e instituições na área da dermatologia. Essas moléculas são submetidas para que a Leo Pharma, no seu ecossistema, as possa testar com o objetivo de saber se funcionam ou não. Nos últimos cinco anos quase duas mil moléculas foram submetidas e testadas, proporcionando o diálogo entre a companhia e a comunidade científica a nível mundial. A propriedade intelectual continua a ser das pessoas que as desenvolvem.
HN- Qual o impacto da pandemia no quadro clínico das pessoas que vivem com doenças de pele?
NB- Por vezes a pele é um pouco esquecida neste período. É preciso ver que no contexto de emergência que vivemos no ano passado as doenças de pele podem não ter sido as doenças priorizadas nos sistemas de saúde. Isto fez com que as pessoas que vivem com patologias de pele, como a dermatite atópica e a psoríase, possam ter sido doentes com um seguimento menos crónico do que aquilo que seria desejado. É importante que isso seja reconhecido porque as doenças de pele nem sempre têm o reconhecimento que lhes é devido.
Apesar de se ter verificado um impacto no acompanhamento dos doentes, a investigação não parou nesta área.
Entrevista de Vaishaly Camões
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