A Alpha, associada ao Reino Unido, foi a primeira destas variantes a ter uma elevada prevalência em Portugal, estimando-se que, em maio, tivesse sido responsável por quase 90% dos casos de infeção pelo novo coronavírus no país.
Mais recentemente, as atenções viraram-se para a variante Delta, inicialmente detetada na Índia, considerada mais transmissível, e que, segundo as autoridades nacionais de saúde, poderá ultrapassar a Alpha e passar a ser a prevalente em Portugal dentro de algumas semanas.
Segundo o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC), a variante Delta do SARS-CoV-2 representará 90% das novas infeções na Europa até final de agosto e um aumento nos internamentos e mortes.
Variantes consideradas de preocupação pela Organização Mundial da Saúde
Atualmente, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem classificadas quatro “variantes de preocupação” (VOC, na sigla em inglês), tendo atribuído, no final de maio, a designação de letras do alfabeto grego para facilitar a compreensão.
Na categoria de VOC estão, assim, a Alpha, detetada inicialmente no Reino Unido em dezembro de 2020, a Beta, associada à África do Sul desde dezembro de 2020, a Gamma, identificada no Brasil em janeiro de 2021, e a Delta, originária da Índia e classificada como de preocupação em maio deste ano.
Uma variante é considerada de preocupação quando se verifica uma ou mais das seguintes condições: maior transmissibilidade do vírus, aumento da virulência ou alteração clínica da doença e diminuição da eficácia das medidas sociais e de saúde pública, dos diagnósticos, das vacinas e dos tratamentos disponíveis.
Além das VOC, a OMS classificou outras sete alterações do vírus SARS-CoV2 como “variantes de interesse” (VOI, na sigla em inglês), a última das quais a Lambda, associada ao Peru.
As outras seis VOI são a Épsilon (Estados Unidos, detetada inicialmente em março de 2020), a Zeta (Brasil, abril de 2020), a Eta (diversos países desde dezembro de 2020), a Theta (Filipinas, janeiro de 2021), a Iota (Estados Unidos, novembro de 2020) e a Kappa (Índia, outubro de 2020).
Uma variante é considerada de interesse quando foi identificada como causadora de transmissão comunitária e detetada em vários países.
Variantes com transmissão comunitária em Portugal
As quatro variantes classificadas pela OMS como de preocupação – Alpha, Beta, Gamma e Delta – estão presentes em Portugal e apresentam transmissão comunitária, ou seja, quando se verifica a ocorrência de casos em que não é possível rastrear a origem da infeção.
Segundo os dados preliminares de junho do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), a prevalência da variante Delta (B.1.617.2, associada à Índia) é superior a 60% na região de Lisboa e Vale do Tejo, sendo, porém, ainda inferior a 15% no Norte.
O INSA estima que a variante Delta tenha um grau de transmissibilidade cerca de 60% superior à variante Alpha, associada ao Reino Unido e que foi a predominante em Portugal durante maio.
No entanto, o instituto prevê que a Delta, que apresenta múltiplas mutações na proteína `spike´ que faz com que apresente uma maior capacidade de transmissão e de evasão ao sistema imunitário, possa ultrapassar a Alpha nas próximas semanas.
Relativamente à Beta, associada à África do Sul, e à Gamma, identificada em Manaus, no Brasil, até 16 de junho, tinham sido identificados 133 casos e 146 casos, respetivamente, tendo estas duas variantes também transmissão comunitária no país.
Impacto das variantes na eficácia das vacinas
A variante Delta do novo coronavírus SARS-CoV-2 já circula em 92 países, indicou a OMS, salvaguardando que as vacinas continuam eficazes contra esta estirpe, ao prevenirem casos de doença grave e morte.
Segundo adiantou na segunda-feira a líder técnica de resposta à Covid-19 na OMS, Maria Van Kerkhove, a variante Delta “está a disseminar-se rapidamente” e “tem maior transmissibilidade do que a variante Alpha”, inicialmente diagnosticada no Reino Unido.
Maria Van Kerkhove assegurou que as vacinas “funcionam contra a variante Delta”, porque, tal como sucede com outras variantes do vírus, previnem a Covid-19 grave e a morte se o ciclo de vacinação estiver completo.
Também o virologista Pedro Simas considera que, até agora, não houve uma variante do coronavírus SARS-CoV-2 que “quebrasse o efeito protetor” das vacinas contra a Covid-19, sublinhando que são todas eficientes a prevenir a doença grave e a morte.
“Não quer dizer que não apareçam casos muito raros, mas nós não nos podemos concentrar no raro e temos que agora olhar para o bem comum, que é desconfinar”, disse o especialista à Lusa.
Recentemente, a Direção-Geral da Saúde (DGS) decidiu reduzir o intervalo da toma da segunda dose da vacina da AstraZeneca de 12 para oito semanas para garantir “mais rápida proteção” perante a transmissão de novas “variantes de preocupação” do vírus SARS-CoV-2.
Segundo a DGS, o esquema vacinal da vacina VAXZEVRIA, (anteriormente designada por Astrazeneca) é de duas doses com intervalo de oito a 12 semanas, “sendo atualmente recomendado o intervalo de oito semanas de forma a garantir a mais rápida proteção” conferida pela vacinação completa “perante a transmissão de novas variantes de preocupação (VoC) de SARS-CoV-2”, como a variante Delta.
Na véspera, a comissária europeia para a Saúde, Stella Kyriakides, disse que estão a surgir provas que demonstram que a variante Delta do coronavírus SARS-CoV-2 “diminui a força do escudo protetor” criado pelas vacinas, instando à aceleração da vacinação completa da população.
“Têm surgido provas de que as variantes – nomeadamente a variante Delta – diminuem a força do escudo protetor fornecido pelas vacinas, especialmente quando a vacinação ainda não é completa. É, portanto, crucial que o maior número possível de cidadãos seja vacinado contra a Covid-19, e que seja totalmente vacinado o mais rapidamente possível”, disse Stella Kyriakides.
Como surgem as variantes do vírus original
Todos os vírus, incluindo o SARS-CoV-2 que provoca a Covid-19, tendem a mudar com o tempo e com a circulação, apesar da maioria das alterações ter um impacto nulo ou muito reduzido nas suas propriedades.
Quando um vírus faz cópias de si mesmo, essas alterações são consideradas mutações. Um vírus com uma ou várias novas mutações é considerado como uma variante do original.
Algumas mutações podem levar a alterações nas características de um vírus, como a sua maior ou menor capacidade de transmissão e o nível ou gravidade de uma doença que pode provocar.
Segundo a OMS, o SARS-CoV-2, que causa a covid-19, tende a alterar-se mais lentamente do que outros vírus já conhecidos, como o Influenza que causa a gripe.
Até agora, centenas de variações do SARS-CoV-2 foram identificadas em várias partes do mundo, com a grande maioria a ter um reduzido impacto nas propriedades do coronavírus original.
Concertação mundial para compreender as variantes do SARS-CoV-2
Desde o início da pandemia, a OMS está a trabalhar com uma rede global de laboratórios especializados em investigação e na realização de testes para melhor compreender o comportamento do SARS-CoV-2.
Estes grupos de pesquisa sequenciam o SARS-CoV-2 e compartilham os resultados em bancos de dados públicos, incluindo o GISAID, uma organização de pesquisa reconhecida pela Comissão Europeia e parceira do PREDEMICS, um projeto sobre a previsão e prevenção de vírus zoonóticos (com capacidade de serem transmitidos por animais aos humanos) com potencial pandémico.
Esta colaboração global permite aos cientistas de várias partes do mundo rastrear o vírus e as suas mutações de forma mais eficaz e rápida.
A rede global de laboratórios da OMS inclui ainda um grupo de trabalho sobre a evolução do SARS-CoV-2 dedicado especificamente a detetar novas mutações e a avaliar o seu previsível impacto.
Como é feito este acompanhamento em Portugal
O INSA está a coordenar a monitorização da disseminação do novo coronavírus em Portugal, através da análise do genoma deste vírus pandémico.
Este estudo envolve a colaboração com o Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC), o Institute of Biomedicine (iBiMED, Universidade de Aveiro), o BioSystems & Integrative Sciences Institute (BioISI, Universidade de Lisboa), o Instituto de Investigação e Inovação em Saúde (i3S) e o Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO, Universidade do Porto), para efeitos de processamento de amostras, e com uma rede de mais de 60 hospitais e laboratórios espalhados pelo país para envio de amostras positivas para o INSA.
O “Estudo da diversidade genética do novo coronavírus SARS-CoV-2 (COVID-19) em Portugal” visa determinar os perfis mutacionais do SARS-CoV-2 para identificação e monitorização de cadeias de transmissão do novo coronavírus, bem como identificação de novas introduções do vírus em Portugal.
LUSA/HN
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