Empresários refutam responsabilidade em surto no Porto Santo

20 de Agosto 2021

A responsabilidade pelo aumento de casos de Covid-19 no Porto Santo não é dos empresários da restauração, mas da “má organização” das entidades oficiais, afirma o presidente da Associação de Indústria, Comércio e Turismo da ilha (AICTPS), Miguel Velosa.

“Houve um descontrolo na via pública”, disse à agência Lusa, sublinhando que, na primeira quinzena de agosto, eram frequentes concentrações de jovens no centro da cidade Vila Baleira, por vezes mais de 2.000, entre a hora de encerramento dos estabelecimentos – 00:00 – e o recolher obrigatório – 01:00.

Para Miguel Velosa a situação era espectável, para além de recorrente no verão, mas houve apenas um “pequeno reforço” do contingente policial, cuja atuação foi “muito leve”.

De acordo com os dados mais recentes da Direção Regional da Saúde, o Porto Santo regista 81 casos de Covid-19, num total de 201 sinalizados desde o início da pandemia.

A ilha tem cerca de cinco mil habitantes, mas é um destino muito procurado nos meses de verão para férias, sobretudo pelos residentes da Madeira, sendo que este ano já registou picos de 30 mil pessoas.

O presidente da AICTPS apontou um “certo desleixo” das pessoas, baseado no índice de vacinação – 80% no Porto Santo e 70% ao nível da região autónoma –, bem como na obrigatoriedade da apresentação de testes antigénio ou PCR para entrar e sair da ilha.

“Criou-se aqui uma certa nuvem, que íamos criar imunidade de grupo”, disse, reforçando que “as pessoas sentiram-se, ilusoriamente, mais seguras por estarem vacinadas ou terem de fazer teste”.

Miguel Velosa reconheceu que nos bares e esplanadas foi difícil manter as regras sanitárias previstas devido à pandemia de Covid-19, mas insistiu que o surto de infeções não foi da responsabilidade dos estabelecimentos, lembrando que, para além dos ajuntamentos no centro da cidade, as festas privadas prosseguiam após o recolher obrigatório.

“Uma vez mais os empresários ficam com a culpa, mas é preciso não esquecer que existem outros espaços a vender álcool durante o dia e as festas privadas não são feitas com bebidas compradas nos bares, mas nos supermercados”, advertiu.

Miguel Velosa alertou também para o “grande descontrolo” na única grande superfície do Porto Santo, salientando que “não houve rigor” em relação ao número de pessoas no espaço.

“Ao nível da organização e da criação de sinergias para que estas situações não acontecessem, uma vez mais, a Câmara Municipal, acabou por não o fazer”, afirmou, indicando que a associação tinha alertado as entidades oficiais para a necessidade de reforçar o policiamento e controlar o funcionamento dos espaços noturnos.

“Nada era novo”, insistiu, lembrando que no verão de 2020 também ocorreram grandes ajuntamentos.

“Penso que esta situação não foi pensada, não foi preparada”, reforçou.

Segundo a Direção Regional de Saúde, o arquipélago da Madeira, com cerca de 250 mil habitantes, regista 352 casos ativos de Covid-19, num total de 10.897 confirmados desde o início da pandemia e 75 mortos associados à doença, um deles no Porto Santo.

A Covid-19 provocou pelo menos 4.401.486 mortes em todo o mundo, entre mais de 209,9 milhões de infeções pelo novo coronavírus registadas desde o início da pandemia, segundo o mais recente balanço da agência France-Presse.

Em Portugal, desde março de 2020, morreram 17.622 pessoas e foram registados 1.014.632 casos de infeção, segundo a Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019 em Wuhan, cidade do centro da China, e atualmente com variantes identificadas em países como o Reino Unido, Índia, África do Sul, Brasil ou Peru.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Confiança: o pilar da gestão de crises na Noruega

A confiança foi essencial na gestão da pandemia pela Noruega, segundo o professor Øyvind Ihlen. Estratégias como transparência, comunicação bidirecional e apelo à responsabilidade coletiva podem ser aplicadas em crises futuras, mas enfrentam desafios como polarização política e ceticismo.

Cortes de Ajuda Externa Aumentam Risco de Surto de Mpox em África

O corte drástico na ajuda externa ameaça provocar um surto massivo de mpox em África e além-fronteiras. Com sistemas de testagem fragilizados, menos de 25% dos casos suspeitos são confirmados, expondo milhões ao risco enquanto especialistas alertam para a necessidade urgente de políticas nacionais robustas.

Audição e Visão Saudáveis: Chave para o Envelhecimento Cognitivo

Um estudo da Universidade de Örebro revela que boa audição e visão podem melhorar as funções cognitivas em idosos, promovendo independência e qualidade de vida. Intervenções como aparelhos auditivos e cirurgias oculares podem retardar o declínio cognitivo associado ao envelhecimento.

Défice de Vitamina K Ligado a Declínio Cognitivo

Um estudo da Universidade Tufts revela que a deficiência de vitamina K pode intensificar a inflamação cerebral e reduzir a neurogénese no hipocampo, contribuindo para o declínio cognitivo com o envelhecimento. A investigação reforça a importância de uma dieta rica em vegetais verdes.

Regresso de cirurgiões garante estabilidade no hospital Fernando Fonseca

O Serviço de Cirurgia Geral do Hospital Fernando Fonseca entra num novo ciclo de estabilidade com o regresso de quatro cirurgiões experientes, incluindo o antigo diretor. A medida, apoiada pelo Ministério da Saúde, visa responder às necessidades de 600 mil utentes.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights