Fórum Médico acusa ministro de “persistir no erro” sobre formação médica

15 de Setembro 2021

O Fórum Médico (FM), que junta várias entidades desta classe profissional, acusou hoje o ministro do Ensino Superior de “persistir no erro”, ao reafirmar a sua posição sobre a formação da especialidade de Medicina Geral e Familiar.

“A situação torna se mais gravosa quando, perante o sentimento de indignação e injustiça que provocou junto dos médicos e dos cidadãos, o ministro opta por mentir e persistir no erro, de forma insultuosa, quando podia ter pedido desculpa e demonstrado a elevação que se espera de um governante”, salientou o FM em comunicado.

Segundo o Fórum Médico, que se reuniu “com caráter extraordinário na sequência de mais uma declaração” de Manuel Heitor, “é totalmente inaceitável e desrespeitosa a forma como o ministro desvalorizou a formação e a qualidade” dos médicos especialistas em Medicina Geral e Familiar.

Em 09 de setembro, o governante afirmou que “não retira nada” do que disse sobre a formação de médicos de família, realçando que é preciso valorizá-los a par de outros especialistas médicos.

“Não retiro nada do que disse”, frisou Manuel Heitor, após uma visita ao Centro de Simulação Médica do Hospital da Luz de Lisboa, invocando que “o contexto do que disse”, numa entrevista ao jornal Diário de Notícias, “foi totalmente alterado” pelos seus críticos.

“É preciso formar mais e é preciso valorizar todas as especialidades, foi o que eu disse”, vincou, assinalando que “se há poucos médicos de família é preciso ter mais e valorizar os médicos de família”.

Na entrevista publicada em 02 de setembro, Manuel Heitor disse que “a questão é que para formar um médico de família experiente não é preciso, se calhar, ter o mesmo nível, a mesma duração de formação, que um especialista em oncologia ou um especialista em doenças mentais”.

“E, por isso, insisto que o alargamento da base de formação na saúde – quer médica, quer de técnicos de saúde, quer de enfermagem – deve ser feito em articulação com a diversificação da oferta, valorizando também outras profissões médicas, como, por exemplo, os médicos de família, que sabemos que na nossa sociedade, e sobretudo no sul da Europa, não são tão valorizados como outras especialidades”, concluiu ao jornal.

Três dias depois da entrevista, o Fórum Médico exigiu ao ministro um “pedido de desculpas público” pelas declarações sobre a formação de clínicos de medicina geral e familiar, por considerar “desrespeitosa” a forma como “desvalorizou a formação e a qualidade dos médicos especialistas em medicina geral e familiar”.

Em resposta, Manuel Heitor entende que são as entidades que integram o Fórum, como sindicatos, Ordem dos Médicos e associações do setor, que lhe devem um pedido de desculpas.

“Eles é que têm de me pedir desculpa, eles é que alteraram a minha afirmação”, apontou Manuel Heitor, reiterando que mantém “tudo o que disse”.

No comunicado hoje divulgado, o fórum defendeu que as declarações do ministro “não foram desvirtuadas nem pelo Fórum Médico nem pelas várias estruturas nacionais e internacionais que reagiram publicamente a afirmações”.

A declaração é subscrita pela Federação Nacional dos Médicos, pelo Sindicato Independente dos Médicos, pela Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, pela Federação Portuguesa das Sociedades Científicas Médicas, pela Associação Portuguesa dos Médicos de Carreira Hospitalar, pela Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública, pela Associação Nacional de Estudantes de Medicina e pela Ordem dos Médicos.

LUSA/HN

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