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A nutrição em oncologia: perspetivas do oncologista
A nutrição é um componente fundamental no processo terapêutico do doente oncológico.
A malnutrição em doentes oncológicos pode atingir prevalências de 20-70%, dependendo do tipo de tumor, da idade do doente e do estadio da doença. Os tumores da cabeça e pescoço, do trato gastrointestinal e do pulmão são os que representam maior risco.
As consequências da malnutrição podem ser devastadoras em termos de resultados clínicos, estando associada a perda muscular, diminuição de competência imunitária e aumento das complicações infeciosas, perda de qualidade de vida, risco de toxicidade terapêutica, complicações cirúrgicas e aumento da mortalidade por cancro, para além do aumento global dos custos em saúde.
O processo de malnutrição é multifatorial com vários fatores a contribuirem para diminuir a ingestão, aumentar o consumo energético e proteico, reduzir o estímulo anabólico e alterar o metabolismo (com catabolismo e inflamação sistémica).
Assim, a nutrição deve ser uma prioridade em todos os doentes oncológicos, e abordada de forma concertada e em multidisciplinariedade por todos os profissionais envolvidos no tratamento do doente oncológico. A presença de nutricionistas especializados e dedicados à área de oncologia aporta um acréscimo qualitativo indispensável na gestão destes doentes.
- Rastreio
A todos os doentes deve ser oferecido um rastreio de estado nutricional precocemente e uma reavaliação regular, de forma a implementar medidas preventivas e detetar os défices nutricionais em fases inicias.
- Avaliação de sinais e sintomas
Devem ser avaliados e graduados sistematicamente os sintomas com impacto nutricional como a dor, anorexia, xerostomia, náuseas e vómitos, disgeusia, alterações olfativas, mucosite, diarreia ou obstipação. A avaliação objetiva com recurso a medição sensível e precisa de biomarcadores e da massa muscular ajudam a monitorizar a evolução.
- Necessidades nutricionais
O cálculo das necessidades energéticas deve ser realizado de forma tão precisa quanto possível. O dispêndio diário pode atingir 25 a 30 kcal/kg/dia. Em termos de necessidades proteicas, estas podem estar aumentadas e devem ser calculadas para quantidades de 1.2 a 2 g proteína/kg/ dia.
- Aconselhamento nutricional
O aconselhamento e apoio nutricional devem ser individualizados e personalizados. O aconselhamento visa assegurar um aporte adequado de energia e nutrientes permitindo ao doente ingerir alimentos habituais, apreciar a alimentação e disfrutar do componente social associado às refeições. Esta abordagem tem de ser complementada com atividade física e abordagem do quadro inflamatório sistémico, tendo em consideração as necessidades nutricionais calculadas.
A via entérica deve ser privilegiada, sendo a via oral preferencial sempre que disponível.
Quando a ingestão de alimentos é insuficiente, o recurso a suplementos nutricionais orais deve ser equacionado. São uma mistura de macro e micronutrientes disponíveis numa multiplicidade de opções, que podem ser adaptados em termos de constituição nutricional calórica e proteica, paladares, texturas e volumes, para além de formulações adaptadas a condições clínicas específicas (como alterações de paladar, diabetes ou feridas). A utilização destes suplementos foi associada a aumento da ingestão alimentar e ganho ponderal.
A malnutrição deve ser prevenida e tratada proactivamente de forma a minimizar o impacto no prognóstico do doente. O bem-estar físico e mental deve ser assegurado em todos os momentos, bem como fomentada a participação da família na gestão nutricional.
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