Epidemiologista diz que liberdade de escolha “não resulta” em saúde pública

3 de Novembro 2021

O epidemiologista norte-americano Dorry Segev defendeu esta quarta-feira que a liberdade de escolha pessoal em matérias de saúde pública, como a vacinação ou o uso de máscara para evitar a propagação da Covid-19, é contraproducente e “não resulta”.

“As obrigações para proteger a saúde pública existem em todo o lado há muito tempo. Deixar as pessoas escolher não resulta, as obrigações [de saúde pública] resultam”, afirmou o especialista da Universidade Johns Hopkins numa sessão intitulada “Anti-máscaras: Os condutores embriagados de 2021”, que decorreu no palco principal da cimeira tecnológica (Web Summit), a Altice Arena, em Lisboa.

Dorry Segev equiparou o perigo para os outros de conduzirmos sob o efeito de álcool a escolher não usar máscara ou ser vacinado em nome de uma liberdade pessoal e criticou a propagação de desinformação por pessoas influentes, tanto através dos media como das redes sociais.

“Precisamos de responsabilização. Os líderes, os médicos, os media, as redes sociais… quando pessoas importantes espalham desinformação não é liberdade de expressão. Isso é apenas utilizado para ganhos pessoais. Temos de ser responsáveis pela informação que passamos e até médicos que partilham teorias de conspiração devem ficar com a sua licença em risco”, considerou o professor de epidemiologia e cirurgião.

Sobre a ausência de imposição do uso de máscara em diversos contextos nesta fase da pandemia, Dorry Segev valorizou a liberdade concedida pelas máscaras e não deixou também de criticar a opção de relativização com os números de infeção em alguns países, ao defender que os líderes mundiais têm de ser “mais proativos e menos reativos”.

“As máscaras dão-nos liberdade, não nos tiram a liberdade. Temos aqui uma conferência com 40 mil pessoas, esta é a prova. Se usarmos máscara, podemos fazer muitas coisas; se não usarmos, ficamos limitados nas opções”, sublinhou, lembrando que “esta é a primeira infeção respiratória em que se pode parecer completamente saudável e estar a espalhar o vírus”.

E continuou: “Não sabemos quem está em risco. Há milhões de pessoas vulneráveis à nossa volta, como as pessoas que têm um sistema imunitário comprometido. Essas não são pessoas doentes que deviam estar em casa, mas, sim, pessoas com uma vida completamente normal”.

Finalmente, o epidemiologista da Universidade Johns Hopkins apelou a uma mudança de mentalidade na sociedade contemporânea, onde o outro é visto como “um adversário”, assinalando que “nada é binário” nesta pandemia.

“Não estamos 100% seguros com a vacina, mas estamos mais protegidos; não estamos 100% seguros com a máscara, mas estamos mais protegidos. Os testes não são 100% fiáveis, mas são um bom indicador. Nunca vamos ter 100% de certeza e temos de pensar de outra forma”, sentenciou.

A Web Summit decorre entre 01 e 04 de novembro em Lisboa, em modo presencial, depois de a última edição ter sido ‘online’ e a organização espera cerca de 40 mil participantes, segundo revelou, em setembro, Paddy Cosgrave, presidente executivo da cimeira.

A comediante Amy Poehler, o presidente da Microsoft Brad Smith, a comissária europeia Margrethe Vestager e o jogador de futebol Gerard Pique irão juntar-se aos mais de 1.000 oradores, às cerca de 1.250 ‘startups’, 1.500 jornalistas e mais de 700 investidores, numa cimeira na qual serão discutidos temas como tecnologia e sociedade, entre outros, de acordo com a organização.

Apesar do número previsto de visitantes ser este ano cerca de menos 30 mil do que na última edição presencial, em 2019, as autoridades consideram que se trata do “maior evento de 2021” a ter lugar em Lisboa.

LUSA/HN

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