“Neste momento, cerca de um quarto dos participantes reporta perda de rendimentos. Este valor é bastante mais elevado nos escalões de rendimentos mais baixos, sendo reportada perda de rendimentos por 38% dos participantes” que auferem entre 650 e os 1000 mil euros e 50% dos participantes com rendimentos inferiores a 650 euros”, refere o estudo que analisou o período entre 30 de outubro e 12 de novembro.
Ao mesmo tempo, observa-se uma tendência para que estes participantes com rendimentos mais baixos reportem um pior estado de saúde e uma maior frequência de emoções negativas.
“Estes dados salientam mais uma vez a necessidade de estarmos atentos ao exacerbar das desigualdades sociais e à necessidade de implementar medidas”, alerta a ENSP.
Em declarações à agência Lusa, a investigadora e coordenadora do estudo, Ana Rita Goes, adiantou que houve fases da pandemia em que esta perda de rendimentos “foi ainda mais marcada”, como nos períodos de ‘lay-off’.
Nesses períodos, havia percentagens “muito elevadas”, mas nesta altura em que as atividades já estão a funcionar, ainda há “uma percentagem importante” destes casos.
“Aqueles que já estavam em situação de fragilidade continuam a ser os que reportam mais frequentemente uma perda de rendimentos”, disse Ana Rita Goes, rematando: “a pandemia tem impacto para todos, mas não é para todos da mesma maneira”.
O estudo analisou também a auto-perceção dos portugueses sobre o seu estado de saúde, com cerca de metade a avaliá-lo como “bom” ou “muito bom”, indicando uma estabilização dos indicadores desde março, sendo no grupo dos maiores de 65 anos que se verifica uma pior avaliação.
Ao nível do bem-estar psicológico, verificou-se também uma estabilização desde o verão, com 15% dos participantes a reportarem sentir emoções negativas (agitação, ansiedade ou tristeza) “quase todos os dias” ou “todos os dias”.
O estudo também verificou nas últimas quinzenas uma tendência de aumento da perceção de risco, com cerca de 53% dos participantes a considerar ter um risco moderado ou elevado de ser infetado com Covid-19.
Para Ana Rita Goes, este dado é um “bom sinal” porque mostra que, “apesar da fadiga pandémica, as pessoas continuam a estar responsivas àquilo que são as mensagens sobre a evolução epidemiológica”, o que irá contribuir para ajustar também os seus comportamentos.
Os dados mostram um aligeiramento abrandamento na adesão às medidas de proteção social o que, segundo os investigadores, “pode trazer consigo alguma pressão social nova” porque as pessoas não sabem se podem ter reações negativas dos outros, quando mantêm comportamentos de proteção em situações de proximidade, o que poder ser tido com um sinal de desconfiança.
“Precisamos de desvincular estas medidas das pessoas e relacioná-las claramente com o vírus”, defendeu a investigadora, salientando que é preciso voltar a enfatizar a necessidade de proteger os mais vulneráveis.
“Precisamos de recordar que, de cada vez que temos o cuidado de higienizar as mãos, de manter a distância física, de colocar a máscara estamos a cuidar dos nossos, estamos a ter a coragem e a resiliência de contribuir para combater este vírus”, salientou.
LUSA/HN
0 Comments