“Se compararmos os dados nacionais que são públicos no relatório das `linhas vermelhas´, vemos que os não vacinados, maioritariamente mais jovens, mais saudáveis e com menos fatores de risco, mesmo assim têm uma taxa de mortalidade quatro vezes superior à taxa de mortalidade por infeção covid nos vacinados”, disse à Lusa o coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a covid-19.
Segundo o especialista, os últimos dados públicos indicam que, em outubro, ocorreram 132 mortes de pessoas com a vacinação completa contra a covid-19 e 33 óbitos de pessoas não vacinadas ou com vacinação incompleta.
No entanto, estes 132 óbitos reportam a um universo de cerca de 8,6 milhões de pessoas vacinadas, enquanto os 33 não vacinados que morreram incluem-se numa população não imunizada de apenas cerca de 500 mil pessoas.
Uma análise mais fina destes dois grupos de pessoas – vacinados e não vacinados – constata que os “não vacinados morreram quatro vezes mais do que os vacinados”, adiantou Filipe Froes, para quem estes dados permitem “avaliar bem o impacto da vacinação”.
“Nós sabemos que, neste momento, o grande impacto em termos hospitalares incide, sobretudo, em dois grandes grupos de pessoas: os não vacinados e as pessoas vacinadas há mais tempo, com mais idade e com maiores fatores de risco”, referiu o pneumologista.
Em declarações à Lusa, o coordenador do gabinete de crise da Ordem dos Médicos para a covid-19 considerou ainda que a variante Ómicron veio introduzir incerteza e imprevisibilidade na gestão pandemia.
“O objetivo tinha de ser, na minha perspetiva, de terminarmos a vacinação de todas as pessoas com mais de 65 anos até 08 de dezembro. Hoje constatamos que temos cerca de 15% das pessoas com mais de 65 anos ainda por vacinar”, adiantou.
De acordo com Filipe Froes, uma vacinação mais atempada das pessoas mais vulneráveis teria permitido iniciar a vacinação mais cedo dos grupos etários responsáveis pela maior transmissão da doença na comunidade.
“Se olharmos para a incidência por grupos etários, facilmente estabelecemos duas zonas: uma com mais de 50 anos e que representa a gravidade da doença e uma zona com menos de 50 anos, que é da transmissibilidade” da infeção, disse o pneumologista.
Filipe Froes alertou ainda para as consequências do “longo covid” a médio e longo prazo, uma vez que os dados já conhecidos revelam que cerca de 10% da população afetada pela covid-19 mantém diversos sintomas mesmo depois de recuperada da infeção, o que representará uma sobrecarga adicional para o Serviço Nacional de Saúde.
Para o início do próximo ano, Filipe Froes antecipa o acesso a novos antivirais que poderão ter utilidade acrescida em termos de tratamento e de prevenção da covid-19, assim como as vacinas adaptadas às novas variantes do SARS-CoV-2.
De acordo com o especialista, neste momento está previsto o desenvolvimento de novas vacinas que vão reajustar a sua composição para incluir as mutações que têm sido detetadas nas últimas variantes para garantir uma maior proteção.
“Estamos neste momento com cinco variantes para a estirpe ancestral para a qual fizemos a vacina e, mesmo assim, esta vacina mantém eficácia sobretudo na prevenção da gravidade da doença”, realçou Filipe Froes.
LUSA/HN
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