Epidemiologista confiante de que Reino Unido está próximo da endemia

11 de Janeiro 2022

O Reino Unido é o país mais próximo de sair da pandemia Covid-19 e declarar a doença uma endemia devido ao elevado nível de imunidade na população e atitude das pessoas, afirmou esta terça-feira o epidemiologista norte-americano David Heymann.

“Os países que conhecemos melhor no hemisfério norte estão em estágios variados da pandemia e provavelmente o Reino Unido é o mais próximo de estar fora da pandemia, se já não estiver fora da pandemia, e ter a doença como endémica”, disse, durante um evento do instituto de estudos britânico Chatham House, onde é investigador.

Heymann evocou o relatório do instituto de estatísticas britânico ONS sobre a imunidade da população, no qual foi estimado que cerca “de 95% da população de Inglaterra e um pouco menos em outras partes do Reino Unido tem anticorpos, seja por vacinação ou por infeção natural”.

Um sinal é o impacto menor do que esperado da variante Ómicron no país, onde o Governo britânico resistiu a impor mais medidas de contenção em Inglaterra além do uso de máscaras na maioria dos espaços fechados públicos, teletrabalho e a introdução do passe sanitário, bem como de acelerar a vacinação de reforço.

“Esses anticorpos estão a manter sob controlo o vírus, que está agora a funcionar mais como um coronavírus endémico do que como um pandémico. As pessoas que estão a ficar gravemente doentes são aquelas que não tiveram infeção prévia ou [não] foram vacinadas”, explicou o professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres.

Heymann considera que o Reino Unido é também o país que melhor se adaptou para “viver com o vírus”, onde as pessoas estão a “fazer a sua própria avaliação do risco”, por exemplo, usando autotestes para detetar a infeção ou antes de eventos sociais para evitar a transmissão.

Esta estratégia permitiu manter o setor da restauração e de entretenimento a funcionar em Inglaterra nas últimas semanas, embora Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte tenham imposto limites ao número de pessoas que se podem juntar, jogos de futebol sem espetadores e o encerramento de discotecas.

“O Reino Unido vive com o vírus desde o final do verão (…), o que significa que as pessoas estão vacinadas ou dispostas a serem vacinadas, e vacinas são disponibilizadas, e as pessoas protegem as outras em espaços fechadas usando máscaras, mesmo se tiverem sido vacinadas porque podem ser infetadas depois da vacinação”, vincou.

Outra medida importante para ajudar as autoridades a tomarem decisões, acrescentou, é o sistema permanente de monitorização dos internamentos hospitalares e ocupação das unidades de cuidados intensivos que o Reino Unido tem para “detetar quando as coisas estão mal”.

Desenvolvendo “regras à medida que se avança”, o próximo passo será aprender a viver com o vírus, tal como acontece atualmente com doenças como a tuberculose ou a SIDA, disse Heymann, que foi responsável na Organização Mundial da Saúde pelo departamento de doenças transmissíveis e esteve envolvido em programas de combate à varíola e a poliomielite.

“Só temos de aprender a fazer a nossa própria avaliação sobre esta infeção e esperar que, eventualmente, nos próximos anos, [a covid-19] se torne um coronavírus endémico, tal como os outros quatro coronavírus, e seja mantida sob controlo, ou pela imunidade da população ou porque o próprio vírus se tornou menos virulento”, afirmou.

O ministro da Educação britânico, Nadhim Zahawi, defendeu no domingo, em declarações à estação Sky News, que o Reino Unido deve ser um dos primeiros países a “mostrar ao mundo como se faz a transição da pandemia para endemia” e admitiu, por exemplo, reduzir o período de isolamento para reduzir o impacto de baixas de funcionários em serviços essenciais.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Ronaldo Sousa: “a metáfora da invasão biológica é uma arma contra os migrantes”

Em entrevista exclusiva ao Health News, o Professor Ronaldo Sousa, especialista em invasões biológicas da Universidade do Minho, alerta para os riscos de comparar migrações humanas com invasões biológicas. Ele destaca como essa retórica pode reforçar narrativas xenófobas e distorcer a perceção pública sobre migrantes, enfatizando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para políticas migratórias mais éticas

OMS alcança acordo de princípio sobre tratado pandémico

Os delegados dos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram este sábado, em Genebra, a um acordo de princípio sobre um texto destinado a reforçar a preparação e a resposta global a futuras pandemias.

Prémio Inovação em Saúde: IA na Sustentabilidade

Já estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. Com foco na Inteligência Artificial aplicada à saúde, o concurso decorre até 30 de junho e inclui uma novidade: a participação de estudantes do ensino superior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights