“Até termos os médicos suficientes dentro do Serviço Nacional de Saúde (SNS), na área dos cuidados saúde primários, é possível fazer acordos com médicos que estejam fora [do SNS] para que nenhum utente esteja sem médico de família”, defendeu no seminário ‘online’ “Saúde em Dia”, promovido pela Universidade Portucalense (UPT).
Miguel Guimarães, que participava na sessão de encerramento do ciclo de seminários “Os Caminhos da Nação”, indicou que atualmente há mais de um milhão de pessoas sem médico de família, sem que o problema, apesar das sucessivas promessas, esteja resolvido.
De acordo com os dados que hoje revelou, em fevereiro de 2019 eram 688 mil os utentes sem médicos de família, em junho de 2021 850 mil, em julho de 2021 1.1 milhão e neste momento, mais de 1.2 milhões.
“É uma situação complexa, uma situação que já devia estar resolvida há muito tempo. Uma situação que faz sempre parte daquilo que são as promessas eleitorais dos vários partidos políticos que se candidatam às eleições legislativas, e nomeadamente os dois principais partidos políticos – o PS e o PSD – mas é uma situação que continua sem ser resolvida”, disse.
O Bastonário da Ordem dos Médicos afasta a ideia de que é por falta de clínicos que o problema não está resolvido, indicando que, neste momento, há mais de 1.500 médicos de família a trabalhar exclusivamente no setor privado ou social.
“Nós para termos a cobertura deste mais de um milhão e cem mil [utentes] que está em falta, bastavam-nos 600 médicos de família “, revelou, desejando que o novo Governo possa ter “uma ideia brilhante” para resolver esta situação que a Ordem considera preocupante.
Esta realidade é ainda mais preocupante se tivermos em conta que a situação pandémica levou a uma diminuição do número de consultas presenciais, menos 4.5 milhões de consultas (cerca de 33%) quando comparamos 2019 com 2021.
Salientando a relevância do papel assumido pelo médico de família na prevenção da doença, na promoção da saúde e no diagnóstico, o Bastonário da Ordem dos Médicos criticou ainda a opção “política” de colocar os médicos de famílias no acompanhamento aos doentes diagnosticados com Covid-19.
Embora numa primeira fase da pandemia Miguel Guimarães tenha compreendido esta decisão, considera que, neste momento, esta não se justifica, defendendo que contratação de clínicos para o acompanhamento de doentes graves e criação de uma linha dedicada para doentes assintomáticos ou com sintomas ligeiros.
“É preciso libertar os médicos de famílias para os doentes não-covid”, defendeu.
Num seminário ‘online’ que pretendeu debruçar-se sobre os diferentes aspetos da saúde dos portugueses, as consequências da pandemia no tecido social português e os próximos desafios que o setor e os profissionais de saúde irão enfrentar, o bastonário refletiu ainda sobre as causas que levam os médicos, não apenas os de família, a optar pelo setor privado ou social, apontando a remuneração salarial, as condições de trabalho e o acesso à inovação, como os principais pilares desta decisão.
Para Miguel Guimarães, estes profissionais de saúde estão a sair do SNS “porque sentem que estão a ser desrespeitados”, algo que devia preocupar quem gere os destinos do país.
Numa avaliação global da resposta à crise sanitária, Miguel Guimarães refletiu ainda sobre o cenário vivido nos cuidados hospitalares, onde há cerca de 530 mil consultas por recuperar no período entre 2019 e 2021 e ficaram por realizar 116.352 cirurgias.
Entre outras áreas, o bastonário deu ainda como exemplo, o impacto nos rastreios oncológicos, indicando que 450 mil pessoas não fizeram rastreio.
LUSA/HN
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